curiosidades

Ana percebia a dificuldade das pessoas em compreenderem como se dava a dinâmica da vida no solo, então escreveu uma história sobre sua microvida que foi transformada em desenho animado de longa-metragem. É uma apresentação bem-humorada dos fenômenos biológicos, físicos e químicos que ocorrem dentro do solo. O filme ilustra a inter-relação entre os seres microscópicos, íons e fatores abióticos, seus papeis vitais para manter as culturas sadias e as interdependências em relação às práticas agrícolas. 

Um apanhado geral da vida de Ana Maria Primavesi por imagens.

Nesta sessão estão preciosidades garimpadas de palestras, aulas, cursos e depoimentos pessoais de Ana. Não há imagens, só a gravação dos áudios, e por  serem materiais antigos e muitas vezes terem sofrido com a ação do tempo, ainda assim, preservam um conteúdo riquíssimo. Somos gratas às pessoas que gentilmente nos enviaram esses materiais e que colaboraram para que o legado de Ana seja disseminado.

Filho de peixe, peixinho é.

Arturzinho era o filho caçula de Ana. Ele morreu precocemente aos 32 anos, num acidente de carro. A morte desse filho dilacerou Ana, que teve que saber sobreviver a mais esta perda. Mas ela seguiu em frente.

Os desenhos de Arturzinho mostravam de quem era filho: paisagens do campo, animais e o colorido das culturas. Arturzinho merece um espaço especial porque marcou a vida de muitas pessoas em sua breve passagem por essa vida. Sua alegria e inteligência permanecerão entre nós, agora imortalizadas por seus desenhos. Pura agroecologia.

São tantos prêmios e homenagens, troféus e placas, que carregaria muito o site, então selecionamos alguns só para os fãs, porque Ana mesmo não liga para isso. “Não acho certo sermos premiados por fazermos o que é o certo”, foi o que ela sempre disse. Sim, mas no caso dela, os prêmios são enormes pretextos para reconhecer seu trabalho e dizer: muito obrigado por nos ensinar tanto.

Quando foi criada a Associação de Agricultura Orgânica, a AAO, Ana foi voto vencido na escolha da sigla: para ela, deveria ser AO, o Alfa e o Ômega, o início e o fim de tudo, o nascer e o morrer, num ciclo. Ela é a sócia número 1, mas por um acaso: seu Yoshio Tsuzuki guardou a folha de inscrições enquanto as outras pessoas assinavam a segunda folha. Já com problemas na perna, ele segurou o papel para levar até ela para que ela o assinasse onde estava sentada. Assim, em primeiro lugar ela assinou, trazendo boas energias a essa nova Associação que surgia.

Se olharmos para o galho mais alto da árvore genealógica do lado paterno de Ana Primavesi, vemos o nome de Adam Albert Hönig Edler von Henikstein.
Hönig era judeu e um gênio nas finanças. Por sua inteligência e amizade com o imperador Joseph II da Áustria (que não gostava de judeus mas se afeiçoou a Hönig), recebeu o título de cavaleiro e não se deixou batizar como pedia o imperador. Porém permitiu que seus filhos o fossem. Um deles, Karl, nascido em 1772, seria o trisavô de Annemarie Primavesi.
O fato de ter sido batizado era importante naquela época porque com o batizado, registrava-se o nascimento nas igrejas, e isso comprovava que não se era judeu. Essa concessão de Hönig aos filhos salvou Annemarie Primavesi de ser perseguida pelos nazistas, pois com esse registro (ela tinha que chegar até 1800) ela “comprovou” que não tinha antepassados judeus.

Essa história é contada em detalhes em sua biografia no diário que escreveu anos após o fim da Segunda Guerra, bem como a história de seus familiares. Um golpe de sorte ou força do destino?

Eclética, Ana gostava de aprender sobre tudo quando o assunto era agroecologia.

Quando o casal Primavesi chegou ao Brasil em 15 de outubro de 1948, seu filho Odo tinha exatamente 8 meses. Com aquele bebê nos braços eles desembarcavam aqui não só com malões, vitrola e discos, álbuns de fotos, livros, louças, roupas e outros. Esta terra seria a depositária do melhor que eles tinham para dar, e deram: honestidade, capacidade de trabalho e muita competência.
Da Áustria traziam objetos e utensílios, mas também lembranças da Guerra recém-terminada e a saudade daqueles que deixaram para trás. E a cada objeto ou pertence, uma recordação dos seus, de sua terra.

“Lembranças” compartilha um pouco mais do que foi a vida naquele tempo e como se vivia, se pensava e agia. O Brasil seria a terra definitiva para o casal Primavesi e muitos de seus descendentes.

Diploma de Doutorado, certidões, um Diário escrito sob pseudônimo. O Ahnenpass, um passaporte exigido pelos nazistas para pegar judeus que não tinham registro nas igrejas. Documentos que atestam a trajetória profissional e pessoal de Ana Primavesi.

Com a máquina Kirlian, Ana passou a fotografar as plantas e analisar suas deficiências. Primeiro ela tirava a foto da planta saudável. Depois, induzia uma deficiência, principalmente aumentando o teor de nutrientes de outro elemento. Ela sempre ensinou que todos os seres possuem um balanço de nutrientes, e que se um está em excesso, descompensa os outros. A foto da energia das plantas mostrava seu desequilíbrio e esses materiais passaram a ser usados em praticamente todas as palestras de Ana.

A teoria da deficiência mineral que leva a uma doença vegetal tinha agora uma fotografia. O método Kirlian seria outra ferramenta para se dizer: o solo é, de fato, a base de tudo.

Viver em Itaí para Ana foi a realização de um sonho. Ela comprou uma área erma, de pastos cheios de barba-de-bode, erosão e cupinzeiros (sinal de terra dura, compactada) e uma gramínea dura e seca, sem uma mina de água sequer, nada, e a transformou num paraíso de passarinhos, coelhos, lontras, tamanduás e uma multidão de tatus.

Otto Primavesi, tio de Artur Primavesi (marido de Ana) era um mecenas que, durante a Primeira Guerra, frequentemente convidava artistas, inclusive Gustav Klimt, para ficar em sua casa de campo. Otto pediu ao artista para pintar sua filha mais nova, Mada em 1912. Em 1913 e 1914, o artista pintou a esposa de Otto, Eugenie Primavesi. Mellita Primavesi, a outra filha de Eugenie, veio morar no Brasil com seu marido Otto Scherb. Era na casa de tia Lita que Odo, Carin e Arturzinho, filhos de Ana, ficavam quando ela tinha que ir a algum lugar e não podia levá-los.