capítulo 2

Serviço Braçal

vivendo em meio à Segunda Guerra

O serviço braçal era realizado nos campos de trabalho do Reichsarbeitsdienst (RAD), uma organização estatal que convocava jovens a prestar serviço gratuito no campo, se eles pretendessem ingressar nas universidades. O RAD era uma etapa obrigatória para quem estava determinado a ir para a universidade, e conseguiu afastar muitos jovens desse caminho, que não aceitavam submeter-se a esse tipo de serviço. Annemarie escolheu ir para Masuren (ou Masúria, Mazury em Polonês), norte da Alemanha. Seu trabalho: carregar esterco e cuidar da plantação.

A fome era constante: refeições à base de casca de batata cozida com água e sal uma vez ao dia, um pão duro pela manhã e um copo de chá à noite eram com o que podiam contar. Sempre a mesma comida ruim e pobre, todos os dias. “O que recebíamos era tão ruim e tão pouco que vivíamos famintos, a tal ponto que comíamos o mato que tínhamos de capinar…” Muitas moças adoeceram, pelo calor, pelo esforço, pela fome. Annemarie e as outras estudantes cumpriam sua obrigação diária: carpir, recolher esterco. Colher, semear, lidar com a terra, lidar com o homem. Lidar com o tempo, lidar com a fome, com a desnutrição, com as expectativas, a saudade de casa. Não fraquejar, não esmorecer, não desistir. Seguir em frente, um dia de cada vez.

Foi nessas terras que uma vidente leu sua mão: “Muitos homens vão passar pela sua vida. Muitos vão se apaixonar, mas com nenhum deles você vai querer casar. E quando você estiver com vinte e cinco anos, sua vida vai mudar radicalmente. Tudo vai ficar diferente, bem diferente. Nada, mas absolutamente nada, ficará como antes…“. A voz de Frau Nina mantinha-se baixa: “…você vai ter de repente o dom de enxergar nas outras pessoas as coisas mais secretas. Se isso a fará feliz, não sei. Casar você vai, mas mais tarde”.

Nove meses mais tarde, ela voltou pra casa. Seu pai e os dois irmãos tinham ido para a guerra. A mãe e os outros três irmãos mais novos estavam sozinhos no castelo.

compartilhar