capítulo 5

Wulle & Co.

Tabalho compulsório na fábrica de vinhos

Annemarie entrou retraída e introspectiva na fábrica para a qual fora designada. Os operários a receberam friamente e sorrisos irônicos acompanhavam todo movimento seu. Como ela poderia ter a habilidade de fazer o que um trabalhador fazia há quarenta anos? Engarrafar e rotular. Nove horas por dia. Todos os dias. O mesmo movimento, a mesma mesa, o silêncio. Como em Tempos Modernos, de Charles Chaplin: trabalho repetitivo, entediante e alienante. Seus pés doíam de ficar tantas horas em pé, mas o pior era o estado de espírito, fazer aquilo e nada mais. As operárias eram rudes e maldosas. Tinham sido preparadas para aquilo, mas quanto delas mesmas se revelava ali? Por sorte, Annemarie não entendia as palavras ordinárias e os palavrões. Ela era xingada, isto percebia. Os outros se contorciam de tanto rir, mas ela não os entendia, muito menos as palavras ordinárias. Depois de cinco dias tinha certeza que ia enlouquecer. Seus olhos se enchiam de lágrimas quando ela carimbava cartão de ponto no relógio, e o porteiro percebeu: “Não chore, menininha, você consegue. Eu estou aqui há quarenta anos e não faço outra coisa a não ser folhear as etiquetas para ver se todas estão colocadas do mesmo lado”. Annemarie impressionou-se: quarenta anos! O problema não era o trabalho ser pesado, mas ser infinitamente monótono e os funcionários muito hostis.

Annemarie cumpriu seus três meses de “detenção”, um aprisionamento mental, intelectual, físico e emocional. Na despedida os operários choraram, porque gostaram daquela moça, se afeiçoaram a ela. Cada um trouxe uma lembrancinha e pediram desculpas por terem pensado mal dela. Annemarie também chorou, grata. Também aprendera a gostar deles.

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