Distinguimos quatro associações de complexos minerais:
1. a associação nitrogênio-fósforo-potássio, a mais importante de todas, que assume a posição-chave na nutrição da planta;
2. a associação de potássio;
3. a associação de nitrogênio;
4. a associação de ferro.
A agricultura é muito simples, mas temos de conhecer as leis biológicas da natureza, senão tudo permanecerá como até hoje, para muitos, somente “um jogo de sorte”. Por isso, devemos lembrar que tudo quanto este livro ensina não adianta nada para a agricultura se não for realizado em harmonia biológica (Primavesi, 1964). A escolha do adubo é tão importante quanto o próprio adubo. Existem diversos adubos nitrogenados, potássicos, fosfáticos etc., com reação em parte ácida e em parte básica, o que é igualmente necessário levar em consideração.
O pH não é somente importante para um bom rendimento e para a resistência da cultura às moléstias; o próprio pH indica se uma cultura é exigente ou tolerante ou modesta quanto à necessidade de elementos raros e quanto à fofice da terra (estrutura granular ou grumosa).
Assim, por exemplo, a mandioca ou o arroz, com um pH de 5 a 6, necessita de muito mais elementos raros (micronutrientes) do que o trigo ou a alfafa com pH entre 6,5 até 9, pois estas plantas são bastante tolerantes à deficiência daqueles elementos. A maioria dos elementos menores, especialmente o manganês, zinco, cobre e boro, se torna logo insolúvel quando o pH sobe. A insolubilidade é atribuída:
1. às ligações que estes elementos formam;
2. à falta de solubilizadores, isto é, de outros elementos menores que ajudem a manter os primeiros mobilizados.
Isso tudo demonstra que uma deficiência em certos minerais não é sempre uma deficiência absoluta, mas sim, muitas vezes, uma deficiência relativa, porque os nutrientes se acham em ligações inaproveitáveis para as plantas, apesar de se encontrarem no solo; fato este importante.
Não basta apenas o reconhecimento das deficiências, mas também o da relação entre as associações compounds dos diversos adubos.
Por este sistema de associações, é mais fácil imaginar o sinergismo entre os diversos minerais.
A substituição dos minerais no complexo de troca-adsorção da associação do potássio é bem conhecida (Wiegner, 1934). O cálcio é substituído pelo magnésio, este pelo potássio e aquele pelo sódio, o que significa que o sódio é o mais difícil de remover do complexo de troca-adsorção (série liotrópica). Por outro lado, o sódio pode mobilizar os elementos de seu compound presos no complexo de adsorção, entrando no lugar deles. A dificuldade está somente em se saber como remover depois o sódio. A única coisa que ainda domina este elemento é a acidez húmica.
Não é nenhuma novidade que a adubação com um elemento torna os outros elementos da associação deficitários, em parte por causa de desequilíbrio de compound e em parte porque causa depressão (competição) na absorção dos outros elementos.
Já Liebig pregou a regra da “Lei do Mínimo” (Knickmann, 1962), porém, ele não estava bem ciente do porquê da existência dessa lei. Faltou-lhe a noção da reciprocidade dos elementos de uma associação que tudo explica, mas isso não muda a lei, apenas a amplia (Camp, 1945). Observamos que raramente aparecem duas deficiências do mesmo compound, ao mesmo tempo. Somente depois de remover uma deficiência, a outra, antes dominada, aparece também. Isto não quer dizer que a outra deficiência não exista (fome oculta), mas somente que está dominada em suas manifestações pela mais forte.
A sensibilidade ou tolerância da planta, com base no seu metabolismo particular, sempre indica, no caso da deficiência de vários elementos, qual deles dominará. Esta dominância não depende do nutriente, mas das particularidades da planta, e não da espécie. E esta particularidade forma as variedades e é a base da criação de novas linhagens.
Este fato pode parecer estranho, mas de outro lado conhecemos muito bem plantas da mesma espécie mais tolerantes a certas deficiências, ou melhor, menos exigentes quanto a certos minerais. Temos, por exemplo, variedades de milho que sofrem muito a deficiência de zinco, enquanto outras quase não precisam dele. Temos variedades de batatinhas (Solanum tuberosum L.) que quase desaparecem, porque sofrem muito com a deficiência em boro, enquanto outras não acusam sua falta, ainda que plantadas no mesmo campo. É igualmente sabido que, por exemplo, uma vaca leiteira holandesa só dá boa ordenha quando recebe muito concentrado, enquanto outra da mesma raça fornece a mesma quantidade de leite sem nenhuma forragem adicional.
O metabolismo particular de cada planta constitui também a razão porque tantos sintomas de carência foram mal interpretados até hoje. É bem natural que a maioria seja de opinião de que, se se tratasse de uma deficiência da terra, todos os vegetais teriam de denunciá-la igualmente. Por que não acontece isto? Também não há pessoas que permanecem sadias no meio de uma epidemia? Será que elas não são contaminadas? Sim, são, mas apresentam resistência, superando a contaminação.
Na agricultura, quando falamos dos minerais, devemos dizer “menos exigente” em lugar de “resistente”, porque a resistência contra a falta de boro, por exemplo, nada mais é que uma menor exigência de uma planta quanto a esse elemento.
É conveniente dar olhar de relance sobre as funções dos elementos, mesmo que sejam bem conhecidas.
Temos, em primeiro lugar, a água, que sempre constitui fator limitante da vegetação. Por isso, as práticas culturais da lavoura devem estar sempre relacionadas com ela. E hoje sabemos todos que a conservação ou recuperação do estado fofo (Sekera, 1951)do solo é o único meio de interceptar e conservar a adequada umidade da nossa terra de cultura.
Mas, além do aumento da capacidade retentora de água do solo, pelo tratamento adequado com matéria orgânica, podemos igualmente diminuir a transpiração dos vegetais por uma adubação química adequada (aumentar a eficiência de uso). Plantas com uma seiva “cheia” (de fotossintetatos) possuem um plasma viscoso e transpiram menos que plantas com seiva “vazia”, isto é, seiva pobre. Com uma adubação de boro, potássio, fósforo e cálcio aumenta-se a produção por área, mas diminui o gasto de água por kg de substância seca (Viets, 1962; Stewart e Leonard, 1951). Com uma adubação nitrogenada, porém, a transpiração e o gasto de água aumentam.
O oxigênio, muito necessário à nutrição das plantas – 50% da substância seca é oxigênio –, forma óxidos e outros complexos de conjuntos orgânicos. Não haverá falta desse elemento quando a terra for fofa. Ele aumenta a permeabilidade do citoplasma para a água.
O carbono que as plantas têm de assimilar em forma de gás carbônico é proveniente em parte do ar (0,03%) e em parte do solo (2 a 6%), onde é liberado pela decomposição da matéria orgânica. Por isso, a importância da “sombra de vento, conseguida com quebra-vento” não deve ser subestimada (Russell, 1961), porque uma cultura de, por exemplo, girassol (Helianthus annuus), necessita de 40 mil kg de gás carbônico por hectare. Estas quantidades provindas do solo são levadas pelo vento se não existir uma proteção. Por outro lado, sabemos que não há fotossíntese sem CO2, e da fotossíntese depende finalmente toda vida vegetal do nosso globo.
O gás carbônico é geralmente uma substância deficiente em nossas lavouras. “Sombra de vento” e adubação orgânica darão conta desta exigência de todas as plantas. Lembremos que o fator de carboidratos assume, no mínimo, a mesma importância, na vida vegetal, que qualquer nutriente mineral. Nas leguminosas, porém, ele é ainda mais importante, constituindo aí o fator vital, por causa do grande consumo de carbono pelas bactérias noduladoras que, em casos de deficiência desse elemento, se tornam parasitas, matando a planta (Primavesi, 1954).