A Cultura protetora ou a “Invasora” escolhida

A invasora compete com a cultura pelos nutrientes, em épocas secas pela água e prejudica a cultura por suas excreções radiculares. (…) as raízes excretam substâncias que, como quelatantes, ajudam na absorção de minerais; que atraem uma microflora específica, inclusive bactérias moduladoras e micorrizas; e que defendem seu espaço radicular contra a invasão de plantas com necessidades nutricionais semelhantes.

          As ervas, indesejadas nas culturas, protegem o solo mas prejudicam a cultura. Sugere-se, pois, que estas ervas “más” quando não fossem concorrentes, seriam benéficas, por conservarem o solo.

          Surgiu a técnica da invasora selecionada ou escolhida que substitui a invasora indiscriminada e chega-se à cultura protetora. Como a invasora sempre é um ecótipo, ou seja, uma planta própria ao meio ambiente, a cultura protetora também pode ser um ecótipo, caso contrário não seria capaz de concorrer com sucesso com as invasoras nativas.

          Qual a planta que deve ser usada como “protetora” para cobrir o espaço vazio entre as linhas e como efetuar a primeira capina, antes que a protetora “feche” o solo?

          Exige-se da cultura protetora que:

  1. Tenha propagação fácil por sementes;
  2. Seja de crescimento rápido;
  3. Tenha um sistema radicular diferente da cultura agrícola;
  4. Não compita com a cultura pelos mesmos nutrientes
  5. Não seja competitiva com respeito à água disponível no solo;
  6. Seja resistente a pragas e pestes que possam atacar a cultura e que não sejam hospedeiras delas;
  7. Suprima eficazmente as plantas invasoras, inclusive a rebrota da mata.

          Por natureza não existe solo desnudo a não ser em casos extremos, como nos desertos. Plantando uma cultura em linhas, é lógico que a terra não ficará isenta de vegetação, uma vez que qualquer solo contém uma infinidade de sementes que esperam sua oportunidade para nascerem. Existem plantas que conseguem crescer com pouca luz. Sem luz, planta alguma se desenvolve. Quando a terra é exposta à luz, as sementes nascem e a rebrota surge. Embora indesejada, agradece a possibilidade de poder nascer à técnica de cultura, mantendo o solo descoberto.

          Espera-se da “cultura protetora” que forneça nitrogênio à cultura principal, enriqueça o solo em matéria orgânica, mantenha-o aberto por um sistema radicular vigoroso e que interrompa o efeito nocivo da monocultura sobre a vida do solo. Quando necessário, que também atue como quebra-vento.

          Existem duas maneiras de usar essas culturas protetoras:

a) Em forma de culturas consorciadas ou intercaladas (intercropping) plantadas em épocas diferentes no mesmo campo, estando uma cultura se desenvolvendo enquanto se escolhe a outra. Neste sistema, por exemplo, planta-se amendoim e, por ocasião da primeira capina, implanta-se milheto (Eleuzine sp). Este “fecha” o chão mas não consegue desenvolver-se satisfatoriamente enquanto o amendoim estiver no campo. Após a colheita deste, o milheto se desenvolverá, dando outra colheita.

          O mesmo sistema pode ser usado com feijão-de-fomento, onde após a primeira capina se implanta algodão herbáceo. Somente, que neste caso, se necessita de uma adubação potássica forte. Saindo o feijão, o algodão logo fecha. Também pode-se usar o inverso, implantando-se guandu nas entrelinhas de algodão ou implantando-se feijão nas entrelinhas de cana-de-açúcar. Especialmente em anos secos, este sistema dá mais que culturas capinadas. Ao mesmo tempo, diminuem as pragas e pestes, por “quebrar” o efeito da monocultura.

b) Usa-se a cobertura no chão por uma leguminosa que pode ser implantada nas entrelinhas ou semeada antes da cultura principal que será implantada.

          Verifica-se que as plantas de café no campo, com solo protegido, são muito maiores e mais robustas.

          A implantação de feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) no milho não somente protege o solo contra a chuva mas suprime eficazmente todas as invasoras, inclusive capins. Mesmo em anos muito chuvosos, a cultura permanece “limpa” e o rendimento de milho é superior, por ser beneficiada pela leguminosa.

          As plantas mais indicadas para culturas protetoras são: para o clima subtropical-inverno, tremoço (Lupinus sp), serradela (Ornitopus sativa), ervilhaca (Vicia spp), diversos trevos (Trifolium spp) e Lathyrus.