Verminose

Vacas são magras quando têm vermes e necessitam de vez em quando de um vermífugo. Ovinos pior ainda. Têm de ser “vermifugados” de 3 em 3 semanas. É caro e trabalhoso. E o pior, tem que vermifugar tudo junto, inclusive as emas e seriemas que também têm vermes e os podem transmitir aos ovinos.

Fiz uma aposta com um grande criador de ovelhas. Que eu conseguiria criar ovelhas praticamente sem vermes. Ele riu.

            “Vai perder, e perder feio. Não tem jeito. A aposta vale uma ovelha.”

            “Negócio fechado”, respondi.

            O homem apertou minha mão que quase gritei. Ele riu.

Eu não era nenhuma iniciante e sabia o que ia fazer. Verme não é um bicho que ataca igual a um ladrão. Ele tem regras. Vive dentro da vaca, ovelha, ema e outros, come e engorda no intestino do animal. Seus ovos são expulsos com as fezes. As larvinhas nascem no pasto após 4 a 8 dias conforme a estação do ano. De manhã e de tarde, sobem às forrageiras à espera de um animal que as coma para reiniciar seu ciclo. Se não vem animal nenhum, após duas semanas, morrem de fome. O ciclo ao ar livre, do ovo à larva adulta tem aproximadamente 3 semanas. Calculei um rodízio com 30 dias para ter certeza de que poucas larvinhas ainda sobreviviam.

Mas tinha outro ponto fraco este ciclo dos vermes, fora da passagem pelo pasto. Quanto mais fraco e mal nutrido o animal hospedeiro, tanto mais prolifera a fêmea do verme… em animais fracos, uma fêmea bota até mil ovos. Em animais bem nutridos e fortes, no máximo 100. É sempre o mesmo, quanto melhor nutrida a planta ou animal, tanto menos parasitas terá.

Conforme essa lógica, tracei minha estratégia. Peguei um lote de 10 ovinos que meu contra-par da aposta podia escolher. Não me importei com quais animais escolheu, se foram os mais parasitados ou não. Provavelmente o eram.

O primeiro ponto foi introduzir um manejo do pastejo. Calculei um fator de segurança e resolvi não deixar as ovelhas voltarem ao mesmo piquete antes de 4 semanas. Aí os verminhos esperariam em vão por um hospedeiro e a reinfestação será muito baixa.

Segundo: escolhi um pasto que tinha aproximadamente 25% de trevos e outras leguminosas. E quando as ovelhas tinham que ir num pasto sem leguminosas, dei adicionalmente um pouco de milho no cocho para ter animais bem nutridos.

Essa é uma experiência que os australianos já fizeram há mais de 50 anos. Na Nova Zelândia, 30 anos mais tarde, me contaram isso como máxima novidade: que a verminose baixa radicalmente quando há 25% de leguminosas no pasto. Quando havia mais leguminosas os animais se intoxicavam pelo excesso de molibdênio, que os trevos tinham absorvidos.

Mas os vermes não diminuíram por serem intoxicados pelas leguminosas mas sim por causa da melhor nutrição dos ovinos. E aí começou a competição. Meu oponente “cedeu” gratuitamente um tratador de animais para sempre ter o controle dos ovos de vermes nas fezes, para ver se os animais já alcançavam o nível da vermifugação. Mas meus ouvidos ficavam cada vez mais cheios e mais gordos e ao constatar que meus animais estavam com menos ovos de vermes nas fezes.

Depois de 4 meses, o meu oponente perdeu a paciência. “Não continuo mais…”, ele me disse, “…não adianta. Eu já vermifuguei 5 vezes e a senhora nenhuma vez.

            “Mas não foi porque não quis, mas porque não precisou”, respondi.

            “Eu sei, perdi a aposta e lhe devo uma ovelha”.