Produzindo sem degradar

“Embora com muitas pretensões e sofisticações e inúmeros melhoramentos, agradecemos nossa existência a uma camada de 20 cm de solo e o fato de que chove.

A sustentabilidade ecológica depende da saúde do solo e do sistema que baseia-se na interação das propriedades físicas, químicas e hídricas bem como a disponibilidade de nutrientes. Porém:

  • A terra arável disponível per capita está declinando;
  • A água disponível diminuindo;
  • As minas de fosfatos e potássio bem como o petróleo (N) cada vez menos produtivos;
  • A população mundial está aumentando vertiginosamente.

Como produziremos o suficiente de comida?

Há uma pressão cada vez maior sobre a terra disponível, causando desmatamento, aumento do vento, da desertificação e da erosão. Desmata-se e não se considera que o vento que entra na paisagem leva à desertificação?

Mas existe a possibilidade de produzir alimentos suficientemente para a população crescente sem destruir os solos, as águas, o clima e a saúde vegetal, animal e humana.

Situação atual

Se o solo for morto – isto é, com muito pouca microvida, sem agregação -, isto é, compactado, sem poros para entrada de ar e água, nossa produção agrícola dependerá inteiramente de insumos (adubos), irrigação, agrotóxicos, etc. Com solos compactados a água penetra muito devagar. Em lugar de 400 mm/hora como pode ocorrer em solos vivos e protegidos, infiltram-se o redor de 7 a 14 mm/hora. O resto escorre. Portanto, erosão e enchentes sempre são seguidos de seca. Cada vez mais rios secam, lagos diminuem e fontes desaparecem…

Mas não somente o micro clima depende do solo mas também, em parte, o macro clima porque, por exemplo, o gás carbônico emitido por carros, fábricas ou aviões, ou o metano produzido por cultivos de arroz-de-água, gado bovino ou lixo urbano ou a adubação nitrogenada, que em solos compactados produz N2O e N2, contribuem para o efeito estufa. A camada de gases sozinha não poderia causar o aquecimento do clima porque é fria. O que aquece o clima é o solo desprotegido e exposto ao sol, como se vê depois de uma aração ou com as ruas e rodovias asfaltadas, telhados de casas, etc. Sobre os quais o ar se aquece subindo até 400km/h. Esse ar quente, impedido de sair para o espaço pela camada grossa de gases, distribui-se sobre o globo, aquecendo o planeta.

A desertificação tem aumentado. Acabam-se com os solos:

  • Pelo fogo que elimina toda a matéria orgânica da superfície do solo, impedindo o reabastecimento da microvida;
  • Pela aração profunda que contribui com a decomposição rápida da matéria orgânica  por causa da oxigenação violenta do solo;
  • Pela adubação nitrogenada que possibilita a decomposição também das ligninas;
  • Pelos agrotóxicos, especialmente herbicidas, que impedem a repopulação do solo com ervas nativas.

A agricultura convencional

Usa um solo morto exclusivamente como um suporte para que as plantas de cultura fiquem de pé e não caiam, como meio de produção. A produção é feita por produtos como adubos químicos e defendida por agrotóxicos porque os solos mortos não conseguem produzir por si mesmos. E, apesar de tudo, em solos mortos a produção não se mantém, mas diminui pouco a pouco. Por isso desmatam cada vez mais áreas. E quanto mais áreas estão sendo desmatadas, tanto mais seco se torna o clima, mais rios e desertos desaparecem e tanto mais desertos aparecem. E mesmo assim ainda consideram oficialmente a agricultura convencional como a única possibilidade de produzir alimentos.

A agricultura ecológica

Considera o solo como meio de produção, quer dizer, é o solo que produz. E para produzir tem de ser vivo. Na natureza não existem fatores isolados, tudo é interligado como numa teia de aranha. Em solo vivo a produção não depende de adubos químicos mas de microrganismos, cuja “comida” é a matéria orgânica, tanto o composto como a massa verde ou palha…Portanto composto (matéria orgânica semi decomposta) não é alimento para as plantas, uma vez que plantas não conseguem comer “pedaços” de outras plantas mas é comida para os micróbios, que DEPOIS mobilizam os nutrientes para as plantas. Mas como cada micróbio somente pode utilizar uma única substância (fungos em torno de mais ou menos 4), quanto maior e mais diversificada a microvida, tanto mais fértil o solo.

Solo vivo tem de ser protegido e possuir grande biodiversidade de plantas, e consequentemente de micróbios para mobilizar o máximo de nutrientes. Tem de ser protegido contra a insolação excessiva, o impacto das chuvas (camada de palha) e o vento permanente (ter quebra-ventos); não pode ter lajes, ou seja, camadas duras; e as raízes sempre têm de ir diretamente para baixo e não podem ser viradas durante o plantio de mudas para o lado ou para cima.

O atual declínio dos solos e de sua produtividade, o problema do escorrimento da água pluvial, a erosão e enchentes tem uma origem comum: a degradação dos solos. Oficialmente, não se tenta tratar a origem dos problemas, mas simplesmente seus efeitos. Porém, onde se trata a origem, como o fazem parcialmente a América Latina, a Ásia e a África, atingem resultados impressionantes.

Na agroecologia o fundamento primordial é a saúde do solo, que tem que ser controlado constantemente, por isso a dificuldade em executá-la em larga escala. Não existe uma receita geral para o mundo todo. Essa agricultura produz sem adubos químicos de 2 a 3 vezes mais do que a agricultura convencional consegue com toda carga de químicos, e as pragas e doenças são manejadas pela própria natureza. Por isso o olhar do agricultor é fundamental. Observar, observar, observar e ver o que seu solo precisa para que as pragas sejam nossos melhores informantes, não nossos inimigos mortais.

Enquanto muita agricultura orgânica ainda é feita em solos mortos e por isso produz pouco, a agroecologia tem por base solos vivos e por isso produz bem.

A sustentabilidade planetária NUNCA pode ser mantida pelo agronegócio que destrói solos, ecossistemas, matas e recursos hídricos, mas somente por uma agricultura ecológica em solos vivos.

E enquanto ainda geramos filhos, temos a obrigação de manter sua base vital, que é o solo, uma vez que os alimentos se produzem nele e não nas prateleiras de supermercados.