Planejamento do uso do solo dentro de uma propriedade

A introdução do pastejo rotativo em qualquer parte da fazenda ou na fazenda inteira, sem consideração do terreno, da declividade e da fertilidade é altamente prejudicial.

Fui chamada numa propriedade onde as subdivisões foram de tal maneira feitos que metade era solo estragado pelo plantio de trigo e onde não crescia mais nada, nem cabelo-de-porco, enquanto a outra era pantanosa. Perguntaram: como vamos manejar agora estes piquetes? Bom, isso eu também não podia dizer, porque não havia maneira de se fazer o manejo.

Um outro pegou simplesmente uma régua e fez riscos retos na planta de sua propriedade, subdividindo-a em invernadas de 70 ha, esticando ali cercas. Não se importava que parte eram rochas e pedras, outras eram pântanos, ladeiras íngremes ou terrenos estragados pela agricultura. Depois ordenou: ponha o gado e deixe-o 4 dias em cada invernada. A mortalidade foi impressionante. Depois me chamaram e perguntaram: por que não funciona? Era evidente que não podia funcionar, uma vez que gado não come pedras, nem junco, e a produção de massa verde era de tal maneira diferente que só podiam morrer de fome quando chegaram nas partes piores da fazenda.

O uso impróprio da terra é um “esporte” que sai muito caro porque o trabalho com a terra somente dá um lucro adequado quando a terra for usada para o fim a que se presta. Baixadas são boas para arroz mas não para algodão e ladeiras fortes são boas para reflorestamento ou pomares, mas não para pastagens.

O uso do solo deve ser planejado cuidadosamente e conheço casos em que simplesmente o uso adequado da terra, segundo sua vocação – sem modificação de técnica alguma – já era suficiente para dobrar o rendimento. Cada ruralista deve conhecer antes de tudo as qualidades e limitações de suas terras. Fazendas muito grandes devem ser subdivididas em “unidades de manejo” porque aqui, o fator humano torna-se limitante. Ninguém é capaz de manejar, de maneira intensiva, áreas muito extensas sendo considerado limite para manejo intensivo 500 ha, por ser a área que um técnico pode controlar.

Não é suficiente possuir uma caminhonete e rodar em alta velocidade por toda a fazenda porque assim não há possibilidade de observar o que é necessário. Para observar tem de andar a pé ou a cavalo e tem de saber o que se observar.

Aconselha-se a subdividir propriedades grandes de modo que haja uma parte para o gado de cria, uma para novilhos, uma terceira para o gado de engorda, uma quarta parte deve ser para o plantio de forrageiras e agricultura em geral, que deve fornecer especialmente a ração necessária e finalmente devem haver bosques, distribuídos em todas as áreas, em pontos estratégicos que têm especialmente 6 funções: fornecer mourões para cercas; proteger o gado contra o sol (por isso devem ser limpos embaixo e não muito densos) para não ser foco de procriação de mutucas e outros insetos; para abrigar passarinhos, que limpam as pastagens, insetos e carrapatos; para diminuir a velocidade do vento; para evitar a formação de grandes massas de ar quente, que provocam tempestades de inusitada violência e secas muito prolongadas; e promover a infiltração de água – que alimenta as fontes fornecendo o suficiente de água durante o ano inteiro.

Subdividem-se as terras de cada parte em:

  1. Áreas de uso extensivo, que são: a) ladeiras íngremes que devem ser excluídas do pastejo e serem reflorestadas; b) brejos que podem fornecer pastagem boa durante a época de seca mas cujo uso deve ser bastante cauteloso na época das águas para não estragar sua relva pelo pisoteio intenso de uma superlotação. Se não tem drenagem devem ser conservadas como reservas; c) solos muito arenosos, que facilmente cedem pelo pisoteio rompendo a relva e desnudando o solo, tornando-o sujeito à erosão. Estes solos não prestam para a agricultura mas também não devem ser usados para uso pastoril intenso. São próprios para pastagens extensivas e podem ser usados para enfermarias, maternidades, etc.
  2. Áreas de uso restrito: a) são solos pedregosos e rasos. b) solos que encharcam com as chuvas. Estes solos são compensam aramados frequentes e subdivisões menores.
  3. Áreas de uso intenso: devem ser planas até 10 a 11% de declividade, de solos médios a pesados e de perfil profundo. Estes podem ser fracos ou em boas condições, mas suportam melhoramentos, aramados e investimentos de dinheiro.

Escolha de classe de gado

Uma vez escolhidas as áreas para uso intenso, deve-se fazer a pergunta: que tipo de gado suporta?

Sabemos perfeitamente que o gado mais exigente é o novilho recém-desmamado e, portanto, necessita a melhor terra. Normalmente, se cria o gado novo em pastagens ruins porque não prometem lucro imediato. Levam, portanto, 4 anos até entrar para a engorda. Mas depois de repente esperam o milagre dando-lhes pastagem boa para a engorda.

No RS foi feito um zoneamento de áreas segundo a exigência do gado. As áreas melhores para os animais novos que, além de seu sustento e ganho de peso, ainda têm de formar seu esqueleto. Necessitam portanto de cálcio, magnésio e fósforo em grande quantidade. O magnésio é indispensável para a absorção de fósforo e a boa metabolização de Ca, fazendo parte de muitas enzimas. Serve como regra que: animais novos necessitam de muitos minerais na pastagem, enquanto animais adultos se satisfazem com proteínas.

Portanto distinguem-se 3 classes de solo:

I – aptos para servir a novilhos recém desmamados, os mais exigentes em minerais;

II- aptos para animais entre 200 e 350 kg, animais de exigência média em minerais e também em proteínas;

III- animais de engorda que necessitam de pastagens boas, ricas em proteínas porém podem ser pobres em cálcio.

Fica, pois, evidente que os solos mais ricos devem ser reservados aos animais novos, os de cria, e aos reprodutores.

Vaca prenha se satisfaz com pastagem rica em minerais mas pobre em proteínas, quer dizer, pode receber uma pastagem mais madura, de porte maior e significa mais massa verde e permite maiores lotações. Isso porque não necessita muitas proteínas para o feto e é desvantajoso criar bezerros de mães muito bem alimentadas, por se tornarem mais exigentes.

Vacas com cria necessitam pastagem mais rica, porém ainda com uma proporção proteínas/carboidratos como 1:5 até 1:6. Não convém dar forragem muito nova para elas porque o excesso de proteínas e a falta de carboidratos é um fator limitante na produção de leite. Porém, a riqueza de minerais na pastagem deve ser alta e necessitam igualmente uma mineralização boa, não somente com sal mas especialmente também com cálcio e fósforo.

Um truque europeu é desmamar os bezerros fêmeas com 3 meses e pondo-as em pastagem rica em minerais mas regular em proteínas, enquanto os machos e animais previstos para a engorda são desmamados com 5 meses e postos em pastagens ricas em proteínas. Isso tem a seguinte razão:

Os destinados à corte pretendem vender o mais cedo possível, portanto devem aumentar rapidamente. Os reprodutores só trabalham bem quando desde novos forem mantidos sob regime de boa alimentação mas nunca de superalimentação com concentrados, que deixam atrofiados os testículos. Aliás, verificou-se agora que animais mantidos com concentrados aumentam menos que estes de pastagens boas. Fêmeas mantidas em regime médio de alimentação tem desenvolvimento mais lento mas pela riqueza de minerais, mineralizam melhor e portanto têm melhor fertilidade. Animais com alimentação rica em proteínas são menos férteis, bem como os que têm alimentação mais fibrosa se tornam animais mais modestos e quando se faz rigorosa seleção das melhores aproveitadoras de forragem, consegue-se um rebanho altamente produtivo mas pouco exigente.

Para animais leiteiras vale o mesmo. Somente com produção de leite maior que 12 litros diários dá-se ração adicional.

A distribuição das pastagens deve ser pois:

  • As pastagens mais ricas em minerais e com vegetação para animais machos e novilhos para futuro engorde.
  • Pastagens ricas em minerais mas plantas mais velhas (em plena floração) para vacas prenhes, com cria e leiteiras para fêmeas novas que se destinam à cria.
  • Solos mais pobres mas com pastagem nova e adubação fosfatada e nitrogenada se for necessário para animais de engorda (a partir de 300 kg).

Com isso se consegue animais de abate em 2 anos e um rebanho pouco exigente relativo à pastagem.

Vê-se, pois, que a escolha do solo e o manejo da pastagem são de máxima importância antes de se usar qualquer técnica.

Se estes fatores não forem observados, perde-se muito tempo e dinheiro simplesmente com um planejamento deficiente ou errado, diminui-se a fertilidade das vacas e a potencia dos reprodutores e atrasa-se o abate. O que falta entre nós muitas vezes não é uma pastagem diferente, mas um planejamento correto.

Planejamento da atividade das fazendas

Propriedades com terras fracas não devem criar gado mas especializar-se em engorda.

Sabemos que a engorda hoje não necessita muitos minerais e uma adubação módica é suficiente. É vantajoso lançar mão de fenação na época de sobra de forragem para ter forragem na época de falta, em que o feno com biureto (150 g por dia) ou ureia + melaço junto à palha ou feno é o suficiente para garantir uma boa engorda. Ureia sem melaço em feno ou palha é tóxico pela liberação muito rápida de amônia, caso que não ocorre com biureto.

Engorda em pequena escala não vale a pena e é interessante fazê-lo em escala maior ou em sociedades de produção.

Propriedades com terras boas e condições de transporte favoráveis podem arriscar-se na produção dupla de leite-carne mas seja aqui deixado bem claro: maior produção necessita igualmente mais minerais, e mais proteínas exigindo geralmente o plantio de milho e soja e arraçoamento do gado. Mas precisa igualmente muita experiência e pessoal muito bem treinado. Não adianta somente o gado de fim duplo, necessita-se, igualmente, o trato adequado.

O trinômio solo-gado-homem sempre vale e se um falhar o prejuízo é certo. Se os três combinarem bem, o lucro é garantido.