O “milagre” do japonês

Fomos visitar um plantador orgânico de verduras perto de Botucatu. A vista era tão impressionante que todos pararam, olharam e não acreditaram. Não era possível. E quando o dono, um japonês jovem, nos explicava que usava somente umas 20t/ha de composto naquela área enorme enquanto todos os outros usavam 40, não dava para acreditar. O tamanho das verduras era impressionante. Em nenhum agricultor convencional podia se ver verduras dum tamanho destes. Parecia que tinha plantado com ajuda de uma varinha mágica.

O agricultor não era destes que sempre pedia uma receita, ou que sempre procurava arrancar um segredo dos outros para produzir melhor sem nunca pensar ou observar algo: “A gente tem olhos e uma cabeça. E a cabeça serve para pensar”, ele nos disse. E assim foi que ele observou que a terra ficava mais ou menos conservada com a matéria orgânica na camada superficial. O segredo da boa produção não era a quantidade de matéria orgânica em forma de composto, aplicando cada vez mais, nem na rochagem ou uso de pó de rocha ou qualquer outro adubo natural, nem no tipo de irrigação ou na variedade que se importou de algum lugar do mundo, nem num caldinho mágico como o supermagro ou urina de vaca do dia anterior, enfim, nada de segredinhos mágicos, de receitas milagrosas.

O grande segredo era a raiz e sua posição correta e naturalmente seu tamanho. Raiz mal plantada não podia produzir bem porque nunca mais se endireita. Todos pensam que a raiz tem a tendência de crescer para baixo, mas não tem. Ela tem seu jeito, bem diferente do que se supõe e isto o homem tem de respeitar. Ela faz como ela quer e não como nós queremos. E isso o japonês tinha observado. Mas não tinha sido ele que havia plantado sua área mas os diaristas, e diaristas não se importam; plantam de qualquer jeito. O que vale é a área e não a qualidade do plantio. E finalmente pensaram que planta necessita somente de um solo bom e de água. De resto ela tinha de se ajustar. Mas não se ajustou. E a colheita pifou. Isso o japonês já tinha observado. O que fazer para que o “boia fria”, o trabalhador volante, não errasse? Falar não adiantava. Enquanto estava observando ia tudo certo, mas quando virava as costas, todos caíam no velho método viciado, e quem perdia era ele.

Pensou e pensou e finalmente provou e aprovou. Era fácil, mas genial. Cada vez que plantavas as sementinhas nas bandejas, também enchia outra com o mesmo substrato pondo a plantada por cima da outra não plantada. Aí as raízes cresceram e logo desceram para os copinhos da bandeja embaixo e cada muda nutriu-se do dobro de terra que normalmente tinha à disposição. As plantas ficaram fortes e bem nutridas, bem desenvolvidas, com raízes abundantes. Mas quando ia plantá-las, passava um arame fino entre as bandejas, podando as raízes que tinham crescido na bandeja debaixo. Aí as raízes estavam compactas, fortes, mas relativamente curtas. Já era bem mais difícil de virarem para o lado, tinham de plantá-las para baixo. E o resultado superou todas as previsões e expectativas.

Ninguém nunca tinha ali visto verduras tão grandes, tão saborosas, em tão boa conservação como as dele. Assim se deve ser com o trabalho no campo: observar, observar e observar. E tentar, porque nem tudo tem receita.