Nuvens de Poeira assolam regiões brasileiras

Tragédias que podem ser evitadas pela conservação do solo.

Ana Primavesi já “previa” isso?

Leiam trechinhos do conto “A Convenção dos Ventos”, em que ela explica EXATAMENTE esta mesma situação.

Os alísios eram finos demais para falar alto. Mas mesmo assim todos repararam na profunda satisfação com que comunicaram sua marcha vitoriosa sobre a Amazônia. Acabou-se a famosa zona de calmaria onde ninguém podia entrar. Antes a mata estava vedada aos ventos. Lá reinava a mais profunda calmaria. Nenhuma folha se movia ou farfalhava. Tudo era quieto. Agora, com as derrubadas, puderam entrar. E como varriam a região! Até com fúria, porque uma região que estava vedada durante tanto tempo, tinha que sofrer a ação dobrada dos ventos.

O Simoom se interessou.

 -Vão criar deserto?

-Isso não depende de vocês, depende dos homens e da velocidade com que derrubam a mata. Com herbicidas desfolhantes e lança-chamas vai mais rápido do que com moto-serras e fogo.  Os Alísios riem:

– Claro, em toda parte ocorre o mesmo. Tem geadas e gelo em regiões subtropicais e tropicais. Matas dissipavam as frentes frias. Mas agora…

– Desculpe, disse o terrível Tornado, mas vocês estão indignados por quê? Porque o rapaz disse que vai fazer alguns telhados dançarem além de arrancar árvores e derrubar barracos e galpões? A culpa não é dele. A culpa é dos que acabam com a paisagem. Pensa que sinto alguma culpa quando mato algumas dezenas de pessoas? Jeito algum. Quem foi que derrubou a mata, quem foi que cortou as árvores, quem depenou a terra? Não fui eu!- disse o terrível Tornado.

E a brisinha disse timidamente:

– Pois é, e sabem que o governo dos homens ainda paga para este serviço de derrubada da mata? Ele dá …como se chama isso? Subsídios.

– Correto, então devem gostar disso, de tempestades, tornados, granizos, enchentes e secas.

– Não sei se gostam, porque depois cobram imposto de calamidade pública. Isto é, para pagar os prejuízos causados pelas enchentes, secas e tornados.

– O Governo brasileiro não paga para isso?

 – Paga para o quê? Para que ocorra essa destruição?

Os homens são bichos sem lógica e raciocínio. Tiraram todos os capõezinhos e alamedas e faixas de árvores para poder mecanizar melhor. É a agroindústria, sem arbusto, sem árvore, somente com muitas e muitas máquinas pesadas. E desde que há os polos centro do Cerrado piorou mais ainda.  Estão vendo, aqui enormes áreas plantadas com monocultura de soja? Nós varremos somente com 3 a 4 km por hora, uma velocidade mínima que parece um afago. Mansinhas e agradáveis levamos a umidade que as folhas transpiram. Nem se dão conta de que existimos. Somos ótimas mãos-leves. As folhas nem acionam o mecanismo de fechamento dos estômatos, como acontece quando passam os ventos. Nem se dão conta de que existimos.

Também levamos a umidade que a terra evapora, secamos os campos, as culturas, fazemos sumir a água de irrigação do pivô-central e de chuvas mansas. Parece carícia, afago, carinho, mas trazemos a seca. Sem Brisas constantes haveria muito menos seca. As culturas produzem somente a metade ou um terço do que poderiam produzir. As pastagens secam, o gado morre, o povo é faminto e miserável…Atualmente a máquina perfeita está quebrada, a paisagem destruída, o clima alterado, nada mais se ajusta ao outro. Não existe mais harmonia nem equilíbrio. Entraram na espiral da destruição como entraram na espiral da inflação. E tudo aquilo que alguns de nós fizermos, somente trará ainda mais destruição. Seguimos a lei da entropia. Antes governava a sintropia.

– E por que fazem isso? – quis saber o Föhn.

 O velho Alísio disse triste:

 – Porque entronaram um deus cruel e sanguinolento, o DINHEIRO, que exige tudo, inclusive toda natureza, seja monetarizada e transformada em dinheiro, e que eles representam na forma de pedaçinhos de papel estampado.

 – As Brisas se apavoraram:

 – É isso que eles adoram? Coitados! Até nós podemos arrastar um deus destes.

 – Como são primitivos esses homens.