A corrida dos lemingues para a morte

Os lemingues são pequenos roedores que vivem no extremo norte da Europa. Periodicamente se reúnem, a cada quatro anos, para uma corrida gigantesca. De todos os vales e montanhas afluem correntes de lemingues que se unem uns aos outros, acionados por uma força misteriosa, tomando rumo retilíneo para o mar. Não se deixam amedrontar por obstáculos, não conhecem desvios, seguindo sempre em frente, como que atraídos por um enorme ímã. Não olham à direita nem à esquerda e correm, correm, correm. Centenas, milhares de seres sendo os primeiros pressionados pelos seguintes até chegarem aos penhascos litorâneos donde se lançam ao mar: dezenas, centenas, milhares, milhões.

Por quê? Ninguém o sabe. Dizem que não é verdade que procuram a morte. Mas uma vez correndo, uns pressionam os outros e não existe mais escapatória. Conheço pessoas que assistiram pasmas a essa corrida a qual somente alguns poucos sobrevivem, os que chegaram atrasados.

Multiplicam-se muito, criando numerosas gerações, para passados novamente quatro anos, colocarem-se outra vez em marcha para a longa e louca caminhada coletiva para a morte.

A humanidade, apesar de não ser feita de pequenos roedores mas de grandes seres racionais, encontra-se também, do mesmo modo, numa corrida de morte coletiva. Sabe-se que a destruição do meio ambiente é o fim da humanidade. Não porque nossa vida dependesse da existência de alguns olmos ou elefantes mas porque a ecosfera fornece os mesmos produtos para nossa vida e para a produção industrial. Porque a tecnosfera, a biosfera a e ecosfera se entrelaçam dependendo uma da outra. Porque nossa vida termina com o esgotamento da ecosfera, também terminando toda economia junto. Um antigo provérbio dizia: “desconhecimento não protege contra a lei.” Desconhecendo as inter-relações íntimas da natureza  e de toda nossa atividade, seja ela agrícola ou industrial, não remove  as consequências que dela advierem. Ou por acaso não existia a energia atômica na época de Napoleão somente porque não a conheciam? Ou não existia nessa época a energia elétrica somente porque não sabiam armazená-la e conduzi-la?

Mas os povos se revoltam instintivamente. Não desejam morrer. Eles querem viver, continuar a viver, sobreviver.

Trecho do livro: Agroecologia, Ecosfera, Tecnosfera e Agricultura de Ana Maria Primavesi.

Este livro está esgotado e não há previsão para sua reedição.