Princípios Científicos da Agricultura Alternativa (Fita 2 – Lado A)

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E por isso eu preciso de ar, eu preciso da transferência de energia, eu preciso de enzimas como catalizadores, agora sem micronutrientes ela não funciona. E aqui nos micronutriente nós temos um pequeno segredo, não é tanto segredo mas a gente tem que saber, a semente quando está nascendo, quando está germinando ela faz o seu programa, todo mundo fala de padrão genético mas não pensa que padrão genético também serve para outra coisa, a não ser sendo manipulado pelo geneticista. Ele tem também a função como qualquer programa de computador tem, de direcionar toda a construção da planta, então se a semente é pobre vamos dizer em zinco a planta vai fazer um programa onde o zinco será usado o mínimo possível, porque a semente quando começa inchar não recebeu zinco de fora, ele não tinha, então a planta diz: bom, se você não tinha, se a terá não tinha o programa não pode ser feito com zinco, então o programa está feito com o mínimo de zinco. Se vocês botam agora zinco na planta, ele não vai fazer efeito, a planta vai absorver, vai ser rica em zinco mas não vai utilizar de maneira alguma.

Mas se a planta por acaso formar semente vai criar plantas perfeitamente sadias porque foram bem nutridas com zinco (por exemplo). Por isso quando numa análise se verifica a falta de cobre, boro, zinco, especialmente na região de cerrados a planta não reage, claro que não reage porque a semente também já estava pobre.

Então para evitar que a semente não reaja, que a semente aproveite seu adubo, vocês tem de dar um leve spray com estes micros por cima da semente, nós usamos mais ou menos uma solução de 3g de bórax, 3g de sulfato de zinco, 1g só de sulfato de cobre por 10 litros de água. E quando um está colocando semente no copo da semeadeira o outro está com o pulverizador ao lado e dá um leve spray por cima da semente. Umas gotículas em cima da semente são suficientes para incentivar que a semente utilize os micronutrientes.

Bom, a nossa tecnologia logicamente tem de ser orientada para essas necessidades que existem para as nossas plantas, então a primeira coisa que temos que fazer é a formação de poros, e para formar poros eu preciso de matéria orgânica então eu vou precisar o máximo de matéria orgânica na superfície, porque no clima tropical a matéria orgânica se decompõe muito rapidamente. Então aqui tem uma coisa, quando fui agora lá em Iputanga (bem no norte de Cáceres-MT) o pessoal me perguntou: pois é mas esse negócio de matéria orgânica ela fica lá na superfície, então não vai ter enriquecimento de matéria orgânica no solo. Olha isto aqui vocês tiram da cabeça porque enriquecimento com matéria orgânica se consegue de vez em quando, num pasto muito bem manejado, agora, em terras de lavoura é impossível, então nós não queremos enriquecer a terra com matéria orgânica mas fornecer regularmente, periodicamente matéria orgânica para a reconstrução desses poros que não agüentam mais de que no máximo três meses, depois eles ficam instáveis na água, os grumos que formam nos poros e por isso eu tenho que cobrir a terra para a água não bater neles e destruir os poros então eu posso levar a terra até a colheita com essa porosidade e depois eu tenho de ver outra matéria orgânica para refazer esses poros que agora não são mais estáveis.

Então o problema que nós enfrentamos não é como na Europa de acumular matéria orgânica, porque na mata Amazônica eu fiz mais de 1500 análises de terra de lá e a média era 3,0, 3,5% de matéria orgânica, a mais não chega, se fosse em clima temperado, na América do Norte teríamos 20% de MO, mas aqui não consegue, então a gente tira isso da cabeça, eu preciso da MO para formar grumos (ta pronto) e por isso eu tenho de colocar essa matéria orgânica regularmente. Nós tínhamos um caso muito engraçado lá fora que veio um homem e que fez propaganda para milho anão e contou todas as vantagens do milho anão, que o adubo vai todo na espiga, a gente tem um retorno muito maior e tudo isso. E disse tudo bem mas aqui no nosso clima tropical é uma catástrofe porque o que eu preciso no fim da colheita é MO para refazer a minha terra. Eu tava pensando toda vida como vou dizer aqui para produtores não entrar nessa. Mas quando estava no fim levantou um agricultor e disse: ó doutor é muito bonito seu milho anão, é uma beleza mas me diga uma coisa vocês já descobriram também o mato anão? Que não toma conta desse milho anão? Ninguém quis saber mais do milho anão e o caso foi resolvido.

Nós temos justamente aqui a possibilidade de MO que pode ser palha, composto, esterco, adubo verde ou o que tiver, por exemplo na horta, se tem uma rotatividade muito grande dos cultivos vocês vão preferir naturalmente o composto, se vocês tem gado leiteiro vão dar preferência para esterco, se vocês não tem nada disso mas simplesmente agricultura, vocês vão ter que usar os restos da cultura e não queimar esses restos, isso é horrível, porque quando chega os meses de julho, agosto, Goiás e Mato Grosso está abaixo de fumaça. Porque todo mundo queima e isso não pode ser feito, é uma coisa que tem de ser impedida de qualquer maneira. Agora por exemplo no algodão é obrigado por causa do bicudo e da lagarta rosada, mas então tem que entrar necessariamente ou uma adubação verde ou entrar com outra cultura no ano que vem que forneça matéria orgânica para não decair a terra. Agora por exemplo é muito bom, eu posso colher o algodão e plantar ainda quando está em pé, já posso jogar alguma semente de alguma leguminosa que vai ficar durante a seca, porque tem muita leguminosa que agüenta. E que me forneça então essa matéria orgânica, bom a gente tem de queimar, jogar imediatamente e esperar que ainda nasça. Ou tem de plantar o milho com mucuna ou qualquer coisa depois para ver que recupera o que foi perdido no ano. Por isso temos também que usar a rotação de cultura porque monocultura qualquer terra vai estragando.

Nós temos a proteção dessa camada porosa porque não podemos expor a terra ao calor e à chuva. Olha só para lhe contar uma história, foi feito um ensaio com alho e eles mantinham o alho com uma tensão de 15atm., ou seja, no ponto de murchamento, 2,4 pf. Onde foi coberto e onde a temperatura do solo foi mais baixa por causa do mulch eles colheram apesar de tudo, 7 toneladas, praticamente sem água. Tinha também o caso de um cafeicultor, no Paraná, e quando eu falei para ele de proteger a terra, de manter a temperatura baixa, ele disse bom eu vou colocar capim gordura que está me sobrando aqui no meu café e depois vou cobrar da senhora. Oito meses mais tarde ele me apareceu e perguntou quanto ele devia colher a mais, bom ele continuou a adubação, continuou a pulverização, mas queria saber quanto ele devia colher a mais. Eu disse não sei, talvez o dobro, talvez o triplo. Ele disse não, nem o dobro nem o triplo, vinte vezes mais eu colhi. Simplesmente mantendo a terra mais fresca. Então é uma coisa impressionante.

Nós temos outra maneira, naturalmente, espaçamento menor. Este aqui é agora muito comum praticamente em todas as culturas tanto faz em citros, em café, em cacau, em algodão, em milho, em hortaliça, em tudo está diminuindo o espaçamento, para que? Para conseguir mais rapidamente a proteção do solo. Agora tem naturalmente problema, porque por exemplo no milho em SP no Instituto Agronômico diz que o melhor espaçamento para o milho seria de 70cm entre linhas mas eu não posso plantar 70cm porque as máquinas que colhem tem plataforma somente para 90cm. E se eu planto 70 vou perder mais que 1/3 do milho pois não vou colher, vai derrubar. Então tem essas coisas que a pesquisa e a prática não estão ainda bem casadas, por causa disso. Então eu tenho que recorrer a outro tipo e como eu não posso diminuir o espaçamento, vou fazer a consorciação que funciona absolutamente.

Então a gente coloca por exemplo na frente o milho, atrás eu ponho um adubo termofosfato que não é muito agressivo, e misturo feijão de porco, e planta na mesma linha então eu tenho ainda a possibilidade de cultivar este milho mas o feijão de porco vai me proteger a terra. E o milho normalmente dá entre 15 a 20% a mais quando está plantado consorciado. Então eu posso fazer culturas intercaladas e dependendo do tamanho da cultura se pode recorrer a uma ou outra medida.

Nós temos a manutenção dessa camada na superfície, isso é importante porque a partir de 15cm a terra tropical não é mais estável, pode ser bem floculada mas no momento que vocês viram a superfície ela se desmancha e encrosta. Então eu não devia virar essa terra para a superfície. Fica o problema que a gente passa uma grade pesada e depois passa um tipo de bico, um subsolador, um pé de pato, não sei como vocês chamam. Agora subsolador é um nome infeliz, porque eu não preciso subsolar, eu não preciso ir até 30, 40cm se for até 20,22 também está suficiente, só que a gente abre um pouco mais que 15cm, agora o importante do subsolador é que primeiro: eu nunca posso usar em terra que está mais ou menos no ponto de lavração, porque é úmido demais e vai me fazendo um sulco com paredes vedadas onde vai estagnando a água e vai dar uma catástrofe. Então a terra tem de estar suficientemente seca para romper. E segundo: o subsolador tem que sempre ir depois da grade porque senão eu fecho com pé de grade o trabalho do subsolador.

E temos a adubação equilibrada também com micronutriente, agora micronutriente fora da semente tem mais uma coisa ele normalmente quando está prontamente hidrossolúvel ele é tóxico no início e quando a planta precisa mesmo não existe mais porque já foi lixiviado. Então o micronutriente deve ser o máximo de silicatado, uma forma menos solúvel para que nós não tenhamos efeito tóxico no início e tenhamos o efeito durante todo o cultivo.

O micronutriente aumenta substancialmente a qualidade e a quantidade do produto e o preço desse aumento é muito baixo, então eu planto mais barato e tenho muito mais lucro, isso que a gente justamente quer.

E depois temos a diversificação da vegetação pela rotação por culturas consorciadas, por adubação verde, por policulturas. Então por exemplo a adubação verde a gente achava que tinha que entrar no lugar da cultura principal, hoje em dia ninguém faz isso, é cultura de entressafra. Então quando não teria nada no campo eu tenho a adubação verde e por exemplo o feijão de porco, mucuna, todas são leguminosas que vão bem na seca, e estes servem justamente para diversificar um pouco o plantio e não oferecer sempre a mesma coisa porque a gente tem de imaginar o seguinte: que a enzima da bactéria que decompõe a matéria orgânica é específica, então a enzima só pode atacar uma matéria orgânica. Se fornecer sempre essa única matéria orgânica sempre as mesmas vão atacar e vão se multiplicar e no fim a gente não vai controlar mais. Agora se muda a matéria orgânica que elas recebem cada vez vai ser outra bactéria, outro microorganismo beneficiado, então quando um estava 3, 4 meses beneficiado depois vai ser outro, então ninguém tem possibilidade de se multiplicar demais. Porque agora ele entra em fome e outro vai ser beneficiado, porque a enzima não pensa, olha isso aqui é um engano muito grande que a gente faz, que acha que microorganismos e insetos são seres racionais, que podem resolver se ataca ou não ataca, não podem. Eles são programados através das suas enzimas, bactéria possui uma única enzima, fungo pode ter de duas a três enzimas, insetos podem ter duas enzimas, então eles são programados para uma determinada substância que eles conseguem digerir. Se esta substância não existir, não adianta, então eles morrem de fome, mas atacar não podem. E isto aqui a gente tem que ficar bem ciente porque eles não são tão perigosos, eles são perigosos se a gente imagina que são seres racionais com livre vontade, que podem resolver se ataca ou não ataca, não podem, de jeito nenhum porque eles não têm condições.

De modo que tudo que nós temos que fazer é mais ou menos neste programa, eu não posso dar receita porque a Agricultura Ecológica quer dizer em cada caso, em cada lugar, vocês tem de resolver qual o melhor método de colocar isso aqui em prática. E cada agricultor vai descobrir isso por conta, porque se ele sabe que tem de proteger a terra, de repente ele começa a fazer alguma coisa que a gente nunca tinha pensado mas que é ótimo.

A matéria orgânica ao lado do adubo é uma coisa indispensável porque eu posso adubar mas a matéria orgânica não pode ser substituída pelo adubo, porque adubo é puramente químico e a matéria orgânica eu uso para fins especialmente físicos, agora que vocês depois tem como brinde nutrientes orgânicos isso aqui é um outro assunto. E muita gente diz se eu colocar, por exemplo, no meu cafezal, no meu laranjal matéria orgânica o efeito é milagroso, é milagroso sim, porque entra ar e água na terra então a árvore começa a absorver o que antes não conseguia absorver.

Então o efeito milagroso não é por causa do adubo que esta matéria orgânica está depois fornecendo mas o efeito milagroso é justamente o recondicionamento dos poros e o ar que está menos quente. Olha por exemplo em Rondônia eu vi lá na Estação Experimental da Embrapa, um ensaio de pimenta, mas era triste, era um verdadeiro ambulatório de doenças e deficiências. E eles pulverizaram com não sei quantos fungicidas e trataram com tudo que era possível, e as árvores estavam tristes. Nos colonos os pimenteiros eram lindos, bonitos, viçosos porque, não adubaram, não pulverizaram, não fizeram nada mas depois da derruba do mato, depois da limpeza do terreno ficaram muitos galhos e madeira ainda e esta madeira não sabia aonde colocar, e amontoaram em volta dos pés, de modo que estes pés tiveram uma terra fresquinha e gostosa, então desenvolveram fabulosamente. Então o homem às vezes não sabe porque mas ele faz a coisa certa, então vocês vêem a importância.

Fim da Fita 2 Lado A