Esta história de pulmão não está bem certa porque uma mata já crescida produz relativamente pouco oxigênio, a maior parte de oxigênio vem do plâncton do mar. Mas que é um termostato é, e muito mais eficiente que qualquer superfície de água, ele reduz três vezes mais o calor do que qualquer superfície de água, então porque? Porque a cada milímetro de água transpirada ele retira 500 cal do ar. Então por exemplo, quem foi na Amazônia, lá em cima, na mata vai ver que a temperatura lá oscila entre 21-28˚C, é muito pouca oscilação, por causa disso. Nós temos aqui uma proteção contra insolação porque a umidade do ar é tão elevada que intercepta 30-35% da luz solar que vai incidir sobre a vegetação. Olha isso aqui é muito importante, porque se eu tenho 35% de luz solar a menos na vegetação o efeito é diferente de que quando tenho 100%, se vou desmatando grandes áreas, por exemplo como vi agora, 30, 40, 50 mil hectares, em uma área desmatada a incidência de luz é total, com um prejuízo tanto para pasto, como para árvores, como para agricultores.
Eu tenho aqui o pior, a chuva, a chuva tropical pode ser até 130 mm, fora isso não é raro, por isso a natureza fez três camadas de proteção, mas no mínimo uma eu vou tentar fazer. Eu tenho o vento, a insolação direta sobre a terra. Olha a terra tropical, na mata tropical tem mais ou menos entre 24˚C e 26˚C máximo 27˚C, no momento que tiramos tudo, nós temos uma terra bem limpa, para milho, para algodão, para qualquer de nossas culturas, normalmente meio-dia está no mínimo 56˚C e o máximo que medi aqui em Brasília era 76˚C, se vê como a planta com 32˚C termina de absorver, vocês podem imaginar que a planta durante todo o dia não absorve nem fotossintetiza. Então aqui um dos fatores porque baixa tanto nossa produção. Se nós pensamos que nosso milho por exemplo, que é absolutamente planta latino americana porque veio do México, que produz na Europa uma média de 15 ton/ha e vai até 22 sem nada sem muita adubação. Aqui nós andamos com uma média de 2, 3 e se chega a 6 a gente já está eufórico e a supersafra é 9-10 mas lá já vai quase em falência porque não agüenta mais os insumos que ele coloca, então o problema não é o adubo, o problema é justamente todos esses fatores em conjunto.
Falta ar na terra, calor demais, o vento que leva tudo, e o vento aqui é muito mais violento do que em outra latitudes, eu posso contar para mostrar mais claro esse negócio do vento, que por exemplo, eu conheço uma firma que tinha pastagens lá na Amazônia, no Pará, e queria adubar, mas para adubar com máquina não entrava porque tava ainda cheio de troncos e tudo, ele pegou um helicóptero em Miami, América do Norte, e ele veio com a adubadeira e a adubadeira tava pendurada numa haste de 3 metros, quando o homem levantou quase virou, só com muito, muito custo conseguiu aterrissar e disse olha impossível de eu andar com essa haste, cortaram a haste a 80 cm e quando estava com 80 o homem disse é muito mais complicado ainda que na América do Norte porque o vento aqui não tem comparação, então esse vento incide sobre nossas culturas e prejudica.
Nós temos a diversificação da vegetação em estado natural. Todo mundo agora vai saber esse negócio do Chico Mendes que nunca tem mais de duas serralherias por hectare e nunca mais vamos achar 3 “moglos” ou 3 pés num hectare. Porque? Para evitar a explosão de um ou outro desses bichinhos que vivem justamente em função das bactérias que vivem lá na rizosfera e das folhas, então para se proteger contra uma explosão de alguma praga ou doença a natureza se diversifica. Agora lógico eu não posso fazer a diversificação destes na minha cultura mas eu posso tentar no mínimo trocar as culturas, vamos dizer 3 a 4 culturas, uma depois da outra fazer uma rotação isso que posso. Então nós vamos justamente tentar adaptar a nossa agricultura ao máximo as condições que existem e que permitem uma boa produção.
Nós temos essa nebulosidade que eu já falei, as chuvas regulares. Bom as chuvas regulares infelizmente se perdem quando nós fazemos esse desmatamento em grande escala porque a chuva na Amazônia não é chuva que vem de fora, é simplesmente a reciclagem local da água. A árvore absorve a água, transpira, toda essa umidade fica em cima da árvore, se junta para as nuvens e de tarde, duas horas, duras horas e meia no máximo chove. Então é uma reciclagem local, se eu tiro as árvores então essa reciclagem cai fora, então tem que esperar a chuva de fora e a chuva de fora não vem todo mês. Então nós temos por exemplo nas regiões que dez anos atrás ainda era mata, já três meses e meio de seca total e vai para frente, vai piorando. Então todas essas coisas a gente tem que ver, porque tem muita, muita lenda sobre a Amazônia que não está muito correto.
E especialmente esses que não conhecem a região acham que muita coisa é dado, tem que ser assim porque hoje em dia a gente pesquisa sempre um fator e nunca vê o total. Agora a minha esperança é justamente a informática, porque na informática exigem-se generalistas especialistas e não só especialistas. Então por exemplo na América hoje e na Europa um generalista que sabe coordenar o programa recebe 6.000 dólares por mês e o especialista recebe 1.300, claro então eu acho que no final das contas a informática vai empurrar também a Agronomia, de começar de novo, de ver o conjunto que nós destruímos porque não posso aumentar um fator sem prejudicar outro.
Nós temos aqui agora a roça, vai a compactação pelas máquinas, o vento que leva a umidade, o solo exposto ao sol e chuva, a monocultura que cria pragas por falta de ritona de matéria orgânica e perde a fagocidade, entra a erosão, as chuvas se tornam irregulares cada vez mais, nós temos ainda o fogo, especialmente no cerrado. E este fogo provoca pouco a pouco a repelência da terra contra a água, quer dizer, a água vai na terra e nem é retida mas simplesmente passa e no fim vem a aração profunda que vira todo o subsolo, à mostra para a superfície e estraga, termina de estragar a terra. E este é especialmente grave porque agora esta onda de botar calagem de 10 até 20 ton/ha e arar 45 cm, é um crime uma coisa dessas, porque isso estraga a terra de vez.
Bom na agricultura ecológica eu quero recuperar a terra os equilíbrios que existiam no ecossistema natural. Na medida do possível, claro, porque é lógico que nós temos que viver, as nossas cidades tem que viver. Eu não posso dizer aqui que vou fazer um ecossistema natural e vou sentar numa árvore igual macaco e comendo semente, isso que não dá, mas nós temos que ver mais ou menos esses equilíbrios, e por exemplo um fator que ninguém considera é o fator físico, a gente acha que se botar N, P, K e no máximo mais uma calagem está tudo resolvido, não está. Porque a planta fora dos adubos precisa também de ar e de água, a água geralmente se fornece depois com uma irrigação, mas a irrigação tem o caso que é muito caro, especialmente quando é pivot central. Pivot central é muito bonito com todas essas aparelhagens que tem aqui mas é super caro, mesmo se está parado. Olha, eu tenho um vizinho que um botou pivot central e como não tenho telefone, mas rádio, na fazenda a gente escuta toda conversa que é feita da cidade para o sítio e a maior parte desses donos que tem muito dinheiro vivem na cidade então eles xingam os seus capatazes. O homem ficou violento, como é que eu paguei 500 mil cruzados só para o pivot central que está parado, o funcionário disse: é taxa, é taxa da luz porque a usina da luz está reservando para você essa quantidade de luz no mínimo para poder irrigar. Ah mas choveu agora. Choveu mas aí o senhor teria que ter dado ordem para desligar, para ir lá fazer o desligamento e ligar quando não chove. Ah mas não posso. Então tem que pagar. Então mesmo parado custava 500 mil cruzados por mês, só para ter a garantia que podia talvez irrigar. Quando irriga o custo é enorme.
Então esse negócio, a água tem que entrar na terra por via natural. Nós temos aqui o ar, sem ar não tem metabolismo, porque o ar é necessário para liberar a energia para os processos químicos, e se não tem ar não tem energia, se não tem energia não tem processo e a planta não cresce, simplesmente não faz nada, então eu vou precisar, então a parte física é super importante e para recondicionar essa parte física eu preciso da matéria orgânica justamente na superfície do solo. Então esses apóstolos que vão dizendo que não precisa de matéria orgânica porque tem adubo químico estão um pouco errados, porque eu não uso a matéria orgânica como adubo, eu uso a matéria orgânica como recondicionador das condições físicas do meu solo.
E aqui é indispensável porque não tem outra maneira a não ser um condicionador químico, só que esse condicionador químico pode ser usado no máximo quatro anos porque depois não dá mais, porque a terra gruda como cola.
Nós temos a erosão, enchentes e secas, nós temos a falta de água, nós temos a falta de ar e o que é pior, o que vocês acham? Se não entra água, bota irrigação, tudo bem mas se não entra ar, o resultado é que nossos elementos nutritivos se reduzem, reduz que dizer eles perdem oxigênio. Se eles perdem oxigênio se transformam em substâncias tóxicas e não são mais nutrientes, aí dá problema, por exemplo, o enxofre quando é SO3 ele é nutriente, quando é gás sulfídrico ele é altamente tóxico. Gás carbônico é essencial para a fotossíntese mas metano é tóxico e assim vai para frente. Então não é simplesmente que agora a terra está mais permeável ou não, muda muita coisa e muitas invasoras que aparecem na terra desse, são justamente porque elas podem viver ainda com essas substâncias e o nosso futuro não pode.
Nós temos os micronutrientes, é um outro assunto. Normalmente, especialmente nas escolas se diz: nós vamos ensinar primeiro os macronutrientes, os micronutrientes são mais tarde, porque são pequenos, não precisa tanto, olha está errado. Porque cada macronutriente tem o micronutriente que faz par com ele e precisa de uma determinada proporção. Todo mundo que planta soja sabe perfeitamente que a quantidade de fósforo é limitada pela quantidade de zinco, se não tem zinco, o fósforo não faz efeito e vai ter baixa colheita. Cada um que planta arroz sabe perfeitamente que o nitrogênio faz o arroz crescer muito, mas não faz espiga se faltar cobre. Se eu colocar cobre ele cresce menos, faz espiga e dá colheita. Isto que não é lógico de nós deixarmos faltar esse outro elemento, é muito pouco lógico até. Então o micronutriente fora disso é aqui justamente não como nutriente, mas como catalizador de processos químicos, quer dizer o processo químico que ele devia catalizar não ocorre, ou ocorre muito devagar. Porque se eu tenho uma enzima o processo vai em um ou dois minutos se não tenho a enzima o processo também ocorre mas em duas ou três horas. Então pode imaginar a perda que a gente tem em muitas substâncias.
Então por exemplo o nosso café quase não tem mais aroma, os nossos frutos quase não tem mais gosto, as nossas verduras a gente não sabe o que está comendo porque está tudo igual. Então a perda de aroma, a perda de resistência, tudo isso é devida a falta completa de micronutrientes que nós temos porque nossa terra é pobre claro, é pobre em tudo mas isso também tem a sua razão, porque se em um clima tropical a terra fosse rica a absorção durante o calor do dia não iria ocorrer porque ela vai aqui entre nós por osmose, e osmose quer dizer, ela tem de ser da solução mais fraca para solução mais forte mas se a planta fecha os estômatos a fotossíntese baixa, então com pouca fotossíntese ela tem poucos produtos e a concentração nas raízes é fraca, logicamente a planta não podia absorver nessas condições e para poder continuar absorvendo os nossos solos são pobres mas em contrapartida os perfis são profundos. Na Europa um solo tem 30, 40 cm de profundidade, aqui tem 25, 30 metros, então lugar tem para onde expandir a raiz, aí está problema que nós temos que ver tudo isso e o conjunto que nos deixa depois compreender o que a gente quer.
Infelizmente nós temos hoje as variedades que eles chamam de alta resposta, alta colheita. Alta resposta não quer dizer que essa variedade responda bem ao adubo, ao contrário ela quer dizer que precisa de muito adubo para poder produzir. Eu tenho assim por exemplo, variedades de milho que nem começam a crescer se não tiver no mínimo 700 Kg de adubo por hectare, então aí está problema, então ela suporta 2, 3 ton/ha de adubo e até exige. Então eu ponho N, P e K, e o resto? O resto não está aqui. Então eu tenho cultivos cada vez mais suscetíveis, porque a planta, a maior parte das substâncias que poderia formar não forma mais. E isto é uma catástrofe no mundo inteiro (essas variedades), especialmente agora que nós estamos no início da clonização, que as variedades são muito exigentes, como são muito exigentes em macronutrientes logo em seguida estão deficientes em micronutrientes e em conseqüência nós temos plantas altamente suscetíveis que somente se mantém debaixo de defensivos porque elas mesmas, não tem mais capacidade de se defender.
Outro problema que nós enfrentamos que foi o desastre horrível nas Filipinas. Veio a tal famosa Revolução Verde que nós também temos e acabaram com as dez mil variedades de arroz e reduziram essas variedades para sete. No início todo mundo estava eufórico porque arroz estava o dobro do que estava o arroz nacional, mas depois eles se deram conta que o lucro que eles tinham era o oitavo que o arroz nacional tinha dado, porque o custo de produção era muito superior. Com este custo enorme de produção, alguma coisa não dando certo, o agricultor ficava pendurado no banco e começava a explosão da pobreza, os agricultores perderam a terra e encheram as favelas das cidades. Quando o governo se deu conta disso, fundaram um instituto, o instituto SINDI, para recuperar as variedades nativas que eles tinham criado durante dois ou três mil anos. Até agora recuperaram 34 dessas variedades, nada mais, o resto está perdido. Então o desespero lá é muito grande e tem estatísticas hoje que mostram que paralelo à alta tecnologia agrícola, vai a explosão da pobreza justamente por causa disso.
E isto aqui vai piorar com a clonização, porque a clonização vai ter uma agricultura, uma tecnologia tão cara que pouca gente vai poder acompanhar.
Vocês vão perguntar porque o pequeno agricultor não agüenta, muito simples, por exemplo meu vizinho planta 40 alqueires de milho e colheu na base de 280 sacos por alqueire paulista ou 7000 Kg/ha, é uma colheita muito boa mas depois eu perguntei, quanto de lucro você tem? Ele disse 12 sacos por alqueire é o lucro, o resto é despesa. Faz a conta, 12 sacos por alqueire de lucro em 40 alqueires dá mais ou menos 500 ou 600 sacos mais ou menos para 10 cruzados detrás da máquina são quanto? 5000 cruzados por ano, então esses 5000 cruzados ele tem que viver, sua família tem que viver, ele tem que rever o estoque de máquinas e comprar, ele tem que fazer o que é necessário, pagar impostos, no fim o homem mal vai conseguir sobreviver, se ele planta menos que esses 40 alqueires ele não agüenta. Simplesmente não agüenta porque o lucro é tão pequeno que o homem não consegue e por isso vai mais ou menos a experiência no mundo inteiro que a pessoa que tem menos de 200 ha não agüenta esse tipo de agricultura, porque se alguém está doente, se tem de pagar escola, se tem de pagar roupa, no fim não tem nada. Então isto que é a razão porque o pequeno agricultor não consegue viver com esta alta tecnologia que é muito cara.
A base científica da nossa agricultura alternativa é simplesmente a fisiologia da planta. A fisiologia da planta você acha numa porção de livros que dizem qual a fisiologia de nossa planta. Nós precisamos naturalmente de nutrientes no solo, ninguém duvida, e se eu não tenho nutrientes eu vou por, por exemplo, quando eu comecei na minha terrinha que era uma terra só horizonte B, não tinha mais A nenhum, estava tudo já erodido, não nascia nada, absolutamente nada, nem mucuna preta. Foi preciso adubar para a mucuna preta porque não ia nascer, então a gente não pode dizer eu não uso adubo, hoje em dia eu estou num ponto que eu uso praticamente só adubo pouco solúvel mas no início tinha que usar adubo solúvel para começar a produzir a matéria orgânica porque se não tenho de qualquer maneira tenho que produzir.
Mas o que não é menos importante é a absorção do nutriente, muita gente acha que porque foi adubada a planta está obrigada a absorver, não está nada obrigada, ela absorve se tem água e se tem ar, porque nem água ela absorve se o ar está faltando.
Então eu tenho de ver que eu tenho água, que a temperatura do solo não eleva demais, que a fotossíntese é capaz de funcionar bem e aqui tem a proporção fotossíntese/respiração, respiração se chama a decomposição de produtos fotossintetizados para a formação de energia, liberação de energia para justamente os processos químicos e todo mundo sabe que a planta é um dos nossos laboratórios químicos mais perfeitos que existe porque a planta capta energia solar e transforma em energia química e este aqui ninguém sabe, nem nós sabemos, só a planta que sabe esse segredo. E nós temos não somente absorção, se faço uma análise foliar naturalmente esta análise vai me mostrar tudo que está dentro da planta, tanto faz se é circulando na seiva ou se já está metabolizado na folha, no tecido. Então é sempre de alguma maneira engenhosa porque importante não é que simplesmente circule na seiva, importante é que seja o mais rápido possível metabolizado.
Então na seiva por exemplo, circula o que? N livre e aminoácidos, açúcares primitivos e isso é que justamente se começa circular por muito tempo eles são um eldorado para pragas e doenças. Mas proteínas e açúcar mais complicados não têm praga nem doença que ataca. Eu estou agora no momento justamente no caminho e acho que está quase resolvido o caso de combater a saúva, porque a saúva corta somente a folha que não tem proteína formada porque o fungo que ela possui não consegue decompor proteína, só decompõe aminoácidos. Então se a folha tem proteína a formiga não corta, então a minha pergunta foi o que está impedindo a formação de proteína e cheguei a conclusão de que tem duas possibilidades. A primeira é que falta enxofre, porque cada proteína é formada por três aminoácidos em base de nitrogênio e um aminoácido em base de enxofre, então se não tem enxofre não forma proteína. A segunda que falta molibdênio, que está faltando para a transformação do nitrogênio e terceira que pode faltar ainda boro que serve para transportar muitas substâncias da folha para a raiz. Bom, então eu coloquei os três, e as árvores que receberam por enquanto não foram mais cortadas pelas formigas. Então a gente tem de ver justamente que a nossa ecologia funciona justamente nessa base, nós tentamos justamente saber o porquê e na tecnologia atual a gente não pergunta porque, pergunta só como, como vou fazer isso, mas isso não é interessante.
Fim da Fita 1 – lado B