As Diferentes Agriculturas

As diferentes formas de agricultura não são tão simples de entender, mas Ana consegue explicá-las com seu didatismo característico: a agricultura orgânica usa composto orgânico, por isso o nome. Nessa definição, orgânico é o que não é químico, e se a planta fica doente, usa-se uma calda de fumo, algo menos agressivo, mas não é o ideal, porque se está doente, já está deficiente. Por isso, o orgânico já não basta.


A Agroecologia não, ela lida com a percepção de todos os componentes da vida. É um modo de produzir no qual você equilibra e harmoniza a vida. Há também o termo agricultura sustentável. Mas o sustentável tem vários aspectos: ecologicamente sustentável, economicamente sustentável, socialmente, culturalmente… e nem sempre se consegue ser sustentável em todos eles. A Agricultura Natural, que observa a natureza para tentar imitá-la em seus processos naturais, é a mais agroecológica dentre todas.


A Agricultura Natural não vê fatores isolados, mas sempre considera o inteiro da natureza: os sistemas naturais, os ciclos vitais e a humanidade dentro destes sistemas. Ela almeja sua recuperação e manutenção. Com certeza, cada tipo de agricultura é uma agressão ao meio ambiente, mas esta pode ser mínima e pode ser catastrófica.
O início de tudo é o solo, que quando arruinado também significa o fim da água, dos animais e de toda a vida terrestre. Uma transição suave cria a possibilidade de todos participarem e lucrarem.


O primeiro passo é a recuperação dos solos, especialmente pelo uso correto de suficiente matéria orgânica. Ninguém, nem na agricultura convencional nem na natural, pode trabalhar com solos decaídos, que evitam a penetração da água, que garante o caudal dos rios. E, mesmo sendo ferrenhos adeptos da agricultura convencional, ninguém pode sobreviver sem água. E sem solo recuperado e novamente vivo, a água acabará num futuro próximo.


O segundo passo são variedades adaptadas a solos e climas. Elas não somente são muito baratas, mas também produtivas, mesmo em condições pouco favoráveis. E como não necessitam de adubos químicos nem de irrigação, especialmente quando são protegidas por um “mulch” ou camada protetora, são mais saudáveis.
Somente com solos sadios teremos plantas sadias. Plantas bem nutridas são sadias e não necessitam de defesa nenhuma. E o que é mais importante, elas fornecem um alimento nutritivo, do qual não necessitamos 4.000 a 5.000 cal/dia para viver. (…)


Não é a quantidade de calorias, mas o valor nutritivo do alimento que vale. O elevado valor biológico do alimento reconhecemos pela saúde das plantas. Planta sadia e em pleno vigor não é atacada por nenhuma doença ou praga. Um alimento biologicamente integral nutre o material e o espiritual das pessoas, garantindo uma era de saúde , paz e amizade. Por outro lado, o meio ambiente pode ser recuperado.


Reflorestando áreas estratégicas, produzimos em menor área mais alimentos. Além disso, com mais florestas, o clima fica mais estável com menos oscilações, as chuvas voltam com as matas e os rios caudalosos. A época de angústias terminará. A humanidade terá menos fortunas mirabolantes, mas bem estar para todos.


Texto: Livro: Ana Maria Primavesi-Histórias de Vida e Agroecologia. Ed. Expressão Popular.