Cada solo possui seu potencial energético específico. Esta energia existe em forma de carbono, quer seja oriunda de matéria orgânica morta, de animais mortos ou de dejeções de animais, de bactérias ou de micro e mesoanimais. O número e as espécies animais que populam o solo são, portanto, determinados , em maior parte, pela alimentação disponível.
Quanto maior o teor em matéria orgânica, tanto mais animais terá, isto é, animais saprófagos geralmente também apreciam bactérias e fungos, porque através destes recebem proteínas facilmente digeríveis. Por outro lado, as bactérias gostam das dejeções porque são alimento predigerido, com as substâncias complexas desdobradas a produtos mais simples.
Os animais pequenos, as bactérias e os fungos são extremamente especializados, dispondo geralmente somente de uma a duas enzimas. E cada enzima somente é suficiente para adicionar um íon de oxigênio a uma substância ou subtrair um íon de hidrogênio ou uma molécula de água, transformando-a muito pouco. Por exemplo, oxidam a celulose a açúcares ácidos, açúcares primários até o desdobramento em água e dióxido de carbono.
Mas isso é um caminho longo e permite a vida de muitos organismos ao longo deste percurso. É também a razão porque existem tantos dentritófagos, ou simplesmente coprófagos no solo. É como numa linha de desmontagem onde dezenas de seres trabalham para desmontar uma peça, fazendo cada um somente uma pequena manipulação.
E como as bactérias, fungos, amebas, nematoides, etc. São muito pequenos, em sua maioria são obrigados a digerir, ou no mínimo pré digerir o alimento fora do corpo, isto é, no solo. Portanto, uma infinidade de enzimas existem no solo como uréase, catalase, invertase, fosfatases, etc. Elas transformam não somente a matéria orgânica do solo mas aumentam o que se denomina “potencial enzimático” do solo. Um solo não se torna “ativo” pelo número de microrganismos ou micro animais presentes, mas sim, pela quantidade de enzimas nele existentes e que geralmente são mais ativas em pH entre 5,0 e 6,0. Pode haver grande número de organismos no solo, porém, famintos e inativos. De modo que não interessa a quantidade de seres, mas sim, sua atividade, que se exprime pela quantidade de enzimas excretadas.
Neste sistema de digestão externa logicamente aparecem outros pretendentes prontos para participar na refeição. Por isso, cada um dos seres microscópicos defende seu espaço vital por meio de antibióticos, que tornam a sua comida inalcançável para os outros. Também as raízes das plantas usam este sistema.
Os antibióticos são específicos, mas há seres, como as amebas, capazes de quebrar as barreiras antibióticas, como também há microrganismos que se especializam nelas e vivem dessas toxinas. Há, portanto, uma complicadíssima inter-relação, no solo, entre todos os seres vivos, inclusive a raiz vegetal.
Esta vai da antipatia e prejuízo mútuo por antibióticos e tóxicos (alelopatia) por sobre consorciações até à simbiose, que não somente existe entre microrganismos e a micro e mesofauna, a mesofauna entre si mas igualmente entre a microvida e as raízes vegetais. Por exemplo, muitas bactérias vivem com seus fagos no corpo, amebas podem viver junto com fungos, nematoides e cupins e tem amebas e bactérias em seus intestinos para a digestão, e no intestino das minhocas vivem nematoides. Simbiose, porém, são associações que somente funcionam enquanto tudo for bem. O simbionte torna-se parasita quando o hospedeiro é enfraquecido por alguma adversidade. De modo que os limites são delicados entre a íntima colaboração, que é a simbiose e o parasitismo.
É uma regra fixa que a quantidade de seres vivos que pode existir num solo é determinada pela quantidade de alimento existente no local. Alimento é tudo que inclui carbono, exceto o dióxido de carbono puro, e mesmo este é aproveitado pelos micro seres clorofilados. A população de um habitat, portanto, não pode ser aumentada enquanto não se adicionar outra fonte alimentícia. Quando, porém, o alimento dobra, a população não se duplica mas se torna ativa (lei de Thienemann). Os animais mais favorecidos modificam o ambiente progressivamente a seu favor, formando um novo equilíbrio, que pode ser melhor ou pior para as plantas cultivadas.