O dente-de-leão

O dente-de-leão, Tio Gerhard, a pereira, sua experiência de sucesso e o boro.

Compartilhando experiências.

Gerhard é o irmão caçula de Ana Primavesi. Ele é 18 anos mais novo do que ela e nunca deixou de morar no castelo onde ambos nasceram em St. Georgen ob Judenburg, no estado da Estíria, Áustria.

Assim como seu pai e sua irmã mais velha, ele sempre se interessou por agricultura mas gostava “da natureza toda”, como ele diz, e por isso ficou muito em dúvida se deveria cursar agronomia: Acabou estudando na Boku, a mesma faculdade de Primavesi: “Na Universidade aprendi a usar a química na natureza, mas não a entender a magia, a beleza e a bondade dela”.

Cuidando das terras que herdou e que circundam o castelo, pratica agricultura biodinâmica. Uma vez recorreu à irmã: os bezerrinhos nasciam bem mas logo morriam. Ana disse: é falta de iodo. “Não posso dar iodo, sou biodinâmico”, foi o que ele respondeu. “Então dê alga marinha, ela contém iodo!”, Ana respondeu impaciente. Ele deu o iodo e não só os bezerrinhos não morreram mais como mais 5 doenças que havia no rebanho, sumiram.

Aqui cabe apontar um dos aspectos do pensamento e prática de Ana Primavesi. Ela nunca se prendeu a um conceito para exercer sua profissão. Não fazia algo por ser agroecológica ou ecológica ou qualquer denominação mas por acreditar que aquela conduta era a correta.

Tio Gerhard é um apaixonado pela natureza e deparou-se com um problema; uma pereira estava dando frutos empedrados, o que evoluiu posteriormente para abortos das perinhas e perdas das folhas. Todos estes sintomas remetem à deficiência de Boro.

Ele fez uma experiência.

Fez um chá com flores de dente-de-leão em fase de se abrir (as bordas já estavam abertas mas o miolo ainda estava fechadinho). Uma xícara de água fervente para 3 flores. Depois que esfriou, diluiu em 10 l de água. Borrifou no tronco, nas folhas e no solo a cada 14 dias durante 3 meses.

No ano seguinte,  as Pereira não abortou mais as frutinhas e as peras não estavam mais empedradas, com folhas limpas e viçosas.

O dente-de-leão é uma planta que indica presença de boro no solo, e presença de boro é sinal de solo fértil. Não à toa foi escolhido para ilustrar a capa do livro: “Algumas plantas indicadoras: como reconhecer os problemas de um solo”. Primavesi sempre explicava que, se mesmo com todos os cuidados as raízes das plantas não se desenvolvem, falta boro.

“A deficiência de boro é uma das mais comuns em nosso país, causando o fracasso total de muitas culturas, especialmente de mandioca, batatinha, café, banana, citrus e fumo. A maioria atribui os sintomas dessa carência a vírus, bactérias, fungos, brocas e outras pragas e moléstias, apesar de não ser devido a nenhuma dessas causas. Admitimos, porém, que muitas vezes um ataque secundário – seja pelas bactérias, seja pelos insetos – pode ocorrer, estragando por completo a planta já enfraquecida. Mas esses ataques nunca são a causa desses sintomas, somente a consequência dessa deficiência.

Como o boro é um fator ativo na multiplicação das células do meristema, a sua deficiência causa sempre:

– A morte dos pontos vegetativos dos brotos e das raízes;

– A falta de botões;

– A desintegração do tecido vascular

– O colapso e o escurecimento de todos os tecidos novos, e por isso, moles, e o transporte das matérias nutritivas às partes axilares da planta, o que provoca o tão conhecido super brotamento.

O fenômeno típico desta deficiência é que as folhas do broto perdem seu brilho, enquanto uma clorose moderada se desenvolve, mostrando-se sempre mais forte na base do que na ponta das folhas. O ponto vegetativo entra logo em colapso, morrendo em seguida. Cessa o crescimento da planta.

À morte do ponto de crescimento segue-se sempre uma super brotação da planta que continua viva. Essa brotação super abundante se dá especialmente em volta deste ponto morto. Em casos severos, morre a planta inteira de cima para baixo, sem que as folhas murchem primeiro e sem que haja clorose nenhuma.

Os botões caem. Caem também as frutas novas, quando a deficiência aparece mais tarde na época. Muitas folhas ficam deformadas. A deficiência em boro é sempre mais forte em tempos secos. Em anos chuvosos, pode desaparecer completamente e a mesma gleba que não deu safra da deficiência em boro pode produzir bem.

As raízes das plantas afetadas sempre apresentam sérias modificações. As pontas das raízes morrem , assim como o ponto vegetativo, e manchas necróticas, de coloração escura, aparecem. As raízes são fibrosas, privadas de amido e por isso aguadas. A sua casca é muitas vezes áspera, fendilhada, cheia de excreções escuras. Ocorre a desintegração do tecido interno, formando o tão conhecido “coração marrom”. E oco.

São especialmente exigentes: arroz, milho, café, citrus, mandioca e couve-flor.