Nos trópicos não se forma húmus em campos agrícolas lavrados, mas se pode formar em campos sob Plantio Direto. Porém, como húmus somente é uma reserva, uma “conserva” de matéria orgânica, não é importante analisar quanta matéria orgânica se conservou no solo, mas se a matéria orgânica conseguiu agregar o solo o suficiente para permitir a entrada de ar e água e o desenvolvimento abundante das raízes. Isso se constata examinando o solo e as raízes. (vide livro Manual do Solo Vivo).
Também não é tão importante fornecer ao solo um material rico em nitrogênio. Ao contrário. Folhas de soja ou de feijão decompõem-se rapidamente sem efeito agregante. Somente celulose e lignina agregam o solo graças ao trabalho de bactérias celulolíticas, em especial os Cytophaga.
Composto se justifica em cultivos de alta rotatividade como muitas hortaliças, mas não é necessário em culturas anuais ou perenes. Pode ser feito se o material é muito pobre, como por exemplo bagaço de cana, para enriquecê-lo, mas não é necessário.
O efeito benéfico da matéria orgânica está
- na proteção da superfície do solo,
- na nutrição dos microrganismos que mobilizam nutrientes,
- na agregação da camada superficial do solo (densidade aparente), a entrada de água e ar e na retenção de suficiente água ( capacidade de campo)
Matéria orgânica não é nutriente químico (NPK) em forma orgânica, porém ajuda a nutrir através da vivificação dos organismos do solo que mobilizam os nutrientes. O nitrogênio acrescido pela matéria orgânica ou composto e o nitrogênio no solo geralmente tem muito pouca correlação. Mas se o solo for desagregado, ou seja compactado, o nitrogênio do solo se perde. E se faltar nitrogênio para as culturas e se necessita de aplicar ureia em cobertura, pode ter certeza que o solo está adensado ou compactado.
O problema principal no uso de matéria orgânica
O grande problema no uso da matéria orgânica é o preparo do solo, revolvendo-o. Este revolvimento pelo arado ou grade equivale a um arejamento violento e forçado provocando um decomposição de matéria orgânica explosiva. Duas horas após a aração, uma nuvem de gás carbônico paira por cima do campo subindo pouco a pouco para a estratosfera contribuindo para o efeito estufa. Por outro lado, priva o solo da comida de seus microrganismos e, por isso, é uma medida que diminui a disponibilidade de nutrientes no solo tropical, que depende de uma vida ativa e portanto “exige” a adubação química.
Aração dos campos e queima dos pastos tem o mesmo efeito: provocam a morte da vida do solo pela fome.
Plantio Direto (P.D.) (Semeadura Direta ou Lavração Zero)
O P.D. foi introduzido por causa da compactação dos solos pelas máquinas. Quanto mais compactado o solo era, tanto mais as máquinas passaram por cima do campo. Por isso, inicialmente era feito sem cobertura morta ou mulch mas em muitos casos ficou pior do que com 2 arações e 3 gradagens. Usaram herbicidas para controlar o mato ou o pasto em lugar dos arados e grades, reduzindo drasticamente a passagem de máquinas pelo campo. Descobriu-se que capim. o mato dessecado e que formava agora uma cobertura morta, era muito vantajoso e que evitava a erosão, tanto hídrica (pela água) como eólica (pelo vento). E quanto mais grosso ficou a camada de palha que protegia o solo, tanto menos inços nasciam e tanto melhor o solo era ”tamponado” contra a pressão das máquinas.
Como a camada protetora era indispensável para o P.D,. nos EUA também é chamado de “mulch farming” isto é “agricultura de cobertura morta”.
Se, porém não se consegue logo no inicio uma camada de palha de 5 a 6 cm de espessura , as máquinas como as semeadeiras e pulverizadeiras, extremamente pesadas no plantio direto, compactam o solo. E esta camada de palha não se consegue com monocultivos de soja nem com horticultura. Para isso, necessitam-se culturas com palha abundante e menos fácil de ser decompostas, como de milho, sorgo, trigo etc. É também a razão pela qual se necessita de uma rotação de culturas.
Culturas de folha larga produzem pouca palha.
Se a camada de palha não passa de 1,0 a 1,5 cm de espessura, a compactação do solo é grande, os inços têm de ser eliminados anualmente por herbicidas e as culturas geralmente fazem raízes muito superficiais necessitando de irrigação e adubação. Ainda protege contra a erosão, mas todas outras vantagens não existem mais, porém muitas desvantagens aparecem, como pragas das raízes, etc.
Correção da acidez do solo e sua desintoxicação pela matéria orgânica.
O pH do solo é corrigido pelos microrganismos que decompõem a matéria orgânica. E como em nossos solos, a maioria deles possuem enzimas adaptadas a um pH de 5,6 eles estabelecem este pH como ótimo. A correção para um pH mais elevado raramente ocorre em solo tropical, nem é necessário.
Muitos nutrientes se tornam tóxicos em ambiente anaeróbio, que sempre existe em solos compactados e adensados. Assim, ferro e manganês perdem sua toxidez quando o solo recebe matéria orgânica que o agrega. Agora se torna arejado.
Quando a matéria orgânica é enterrada em 35 a 40 cm de profundidade, este efeito não ocorre, ao contrário, produzem-se mais substâncias tóxicas, como metano e gás sulfídrico e a condição do solo torna-se pior. Matéria orgânica pode recuperar um solo tornando-o fértil e produtivo, mas também pode arruiná-lo ainda mais se for manejado de maneira antiecológica. Ecológico é como a natureza o faz e não como o homem o imagina.
Matéria orgânica e a dessalinisação do solo.
Solos salinizam pela irrigação mal feita, ou seja, pela irrigação que somente coloca água, pela água que sobe de um nível freático muito alto e é acelerada pela queima do campo.
Matéria orgânica celulósica, como palha de sorgo e de milho, transforma os sais em carbonatos que são pouco solúveis em água. Portanto eles são imobilizados. Por outro lado, agrega o solo, dificultando a ascensão de água do subsolo e promovendo a infiltração rápida da água e com isso sua perda pelo vento. Especialmente quando se forma um mulch, que impede o aquecimento do solo, e se
plantam cultivos gastadores de água que baixam o nível freático como sorgo e girassol, mas também quebra-ventos, a salinização é controlada.
Seja ciente: desertificação e salinização não tem combate químico-mecânico mas somente biológico-ecológico.
Matéria orgânica é a base da saúde do solo, e portanto também das plantas.