Nos Trópicos Não se Forma Húmus em Campos Agrícolas Lavrados

Nos trópicos não se forma húmus em campos agrícolas lavrados, mas se pode formar em campos sob Plantio Direto. Porém, como húmus somente é uma reserva, uma “conserva” de matéria orgânica, não é importante analisar quanta matéria orgânica se conservou no solo, mas se a matéria orgânica conseguiu agregar o solo o suficiente para permitir a entrada de ar e água  e o desenvolvimento abundante das raízes. Isso se constata examinando o solo e as raízes. (vide livro Manual do  Solo Vivo).

Também não é tão importante fornecer ao solo um material rico em nitrogênio. Ao contrário. Folhas de soja ou de feijão decompõem-se rapidamente sem efeito agregante. Somente celulose e lignina agregam o solo graças ao trabalho de bactérias celulolíticas, em especial os Cytophaga.

Composto se justifica em cultivos de alta rotatividade como muitas hortaliças, mas não é necessário em culturas anuais ou perenes. Pode ser feito se o material é muito pobre, como por exemplo bagaço de cana, para enriquecê-lo, mas não é necessário.

          O efeito benéfico da matéria orgânica está

  1. na proteção da superfície do solo,
  2. na nutrição dos microrganismos que mobilizam nutrientes,
  3. na agregação da camada superficial do solo (densidade aparente), a entrada de água e ar e na retenção de suficiente  água ( capacidade de campo)

          Matéria orgânica não é nutriente químico (NPK) em forma orgânica, porém ajuda a nutrir através da vivificação dos organismos do solo que mobilizam os nutrientes. O nitrogênio acrescido pela matéria orgânica ou composto e o nitrogênio no solo geralmente tem muito pouca correlação. Mas se o solo for desagregado, ou seja compactado, o nitrogênio do solo se perde. E se faltar nitrogênio para as culturas e se necessita de aplicar ureia em cobertura, pode ter certeza que o solo está adensado ou compactado.

O problema principal no uso de matéria orgânica

          O grande problema no uso da matéria orgânica é o preparo do solo, revolvendo-o. Este revolvimento pelo arado ou grade equivale a um arejamento violento e forçado provocando um decomposição de matéria orgânica explosiva. Duas horas após a aração, uma nuvem de gás carbônico paira por cima do campo subindo pouco a pouco para a estratosfera contribuindo para o efeito estufa. Por outro lado, priva o solo da comida de seus microrganismos e, por isso, é uma medida que diminui a disponibilidade de nutrientes no solo tropical, que depende de uma vida ativa e portanto “exige” a adubação química.

Aração dos campos e queima dos pastos tem o mesmo efeito:  provocam a morte da vida do solo pela fome.

Plantio Direto (P.D.) (Semeadura Direta  ou  Lavração Zero)

         O P.D. foi introduzido por causa da compactação dos solos pelas máquinas. Quanto  mais compactado o solo era, tanto mais as máquinas passaram por cima do campo. Por isso, inicialmente era feito sem cobertura morta ou mulch mas em muitos casos ficou pior do que com 2 arações e 3 gradagens. Usaram  herbicidas  para controlar o mato ou o pasto em lugar dos arados e  grades, reduzindo drasticamente a passagem de máquinas pelo campo. Descobriu-se que capim. o mato dessecado e que formava agora uma cobertura morta, era muito vantajoso e que evitava a erosão, tanto hídrica (pela água) como eólica (pelo vento). E quanto mais grosso ficou a camada de palha que protegia o solo, tanto menos inços nasciam e tanto melhor o solo era ”tamponado” contra a pressão das máquinas.

          Como a camada protetora era indispensável para o P.D,. nos EUA  também é chamado de “mulch farming” isto é “agricultura de cobertura morta”.

          Se, porém não se consegue logo no inicio uma camada de palha de 5 a 6 cm de espessura , as máquinas como as semeadeiras e pulverizadeiras, extremamente pesadas no plantio direto, compactam o solo. E esta camada de palha não se consegue com monocultivos de soja nem com horticultura. Para isso, necessitam-se culturas com palha abundante e menos fácil de ser decompostas, como de milho, sorgo, trigo etc. É também a razão pela qual se necessita de uma rotação de culturas.

Culturas de folha larga produzem pouca palha.

        Se a camada de palha não passa de 1,0 a 1,5 cm de espessura, a compactação do solo é grande, os inços têm de ser eliminados anualmente por herbicidas e as culturas geralmente fazem raízes muito superficiais necessitando de irrigação e adubação. Ainda protege contra a erosão, mas todas outras vantagens não existem mais, porém muitas desvantagens aparecem, como pragas das raízes, etc.

Correção da acidez do solo e sua desintoxicação pela matéria orgânica.

           O pH do solo é corrigido pelos microrganismos que decompõem a matéria orgânica. E como em nossos solos, a maioria deles possuem enzimas adaptadas a um pH de 5,6 eles estabelecem este pH como ótimo. A correção para um pH mais elevado raramente ocorre em solo tropical, nem é necessário.

          Muitos nutrientes se tornam tóxicos em ambiente anaeróbio, que sempre existe em solos compactados e adensados. Assim, ferro e manganês perdem sua toxidez quando o solo recebe matéria orgânica que o agrega. Agora se torna arejado.

Quando a matéria orgânica é  enterrada em 35 a 40 cm de profundidade, este efeito não ocorre, ao contrário, produzem-se mais substâncias tóxicas, como metano e gás sulfídrico e a condição do solo torna-se pior. Matéria orgânica pode recuperar um solo tornando-o fértil e produtivo,  mas também pode arruiná-lo ainda mais se for manejado de maneira antiecológica. Ecológico é como a natureza o faz e não como o homem o imagina.

Matéria orgânica e a dessalinisação do solo.

       Solos salinizam pela irrigação mal feita, ou seja, pela irrigação que somente coloca água,  pela água que sobe de um nível freático muito alto e é acelerada pela queima do campo.

             Matéria orgânica celulósica, como palha de sorgo e de milho, transforma os sais em carbonatos que são pouco solúveis em água. Portanto eles são  imobilizados. Por outro lado, agrega o solo, dificultando a ascensão de água do subsolo  e promovendo a infiltração rápida da água e com isso sua perda pelo vento. Especialmente quando se forma um mulch, que impede o aquecimento do solo, e se

plantam  cultivos gastadores de água que baixam o nível freático como sorgo e girassol, mas também quebra-ventos, a salinização é controlada.

Seja ciente: desertificação e salinização não tem combate químico-mecânico mas somente biológico-ecológico.

Matéria orgânica é a base da saúde do solo, e portanto também das plantas.