– Protozoários
Os protozoários são organismos unicelulares cujo tamanho varia de poucos micrômetros até 4 a 5 mm. As formas existentes no solo são bem menores que as da água. Necessitam de suficiente umidade porque só se movimentam na película de água que envolve os grumos do solo, logo se encistando quando esta faltar, o que chamou a atenção. O encistamento faz parte do ciclo vital de vários protozoários e a saída do cisto depende de bactérias que vivem na vizinhança e que, aparentemente, estimulam-na. A maior parte dos protozoários são predatórios, como as amebas, ciliados e flagelados, vivendo de bactérias, mas também da micro e mesofauna.
Eles reduzem consideravelmente a microflora do solo. Alguns protozoários são altamente especializados, como o flagelado Euglenia, que vive somente de flavobactérias porque aprecia grandemente a vitamina B12 que nelas se encontra.
A base da vida dos protozoários é, portanto, uma rica microflora.
– Amebas
Num grama de um solo agrícola podem viver 2 mil amebas Naegleria, mas podem aumentar dentro de 24 horas a 416 mil quando encontram alimento suficiente; nesta fase de franca multiplicação elas devoram nada menos de 52 milhões de bactérias.
Onde há muitas amebas, a vida das bactérias é curta; mas, com a redução do número delas, reduz-se igualmente o número de amebas, que agora carecem de alimentação.
– Nematoides
Quase todos os protozoários, com exceção das tecamebas, a maior parte dos vermes inferiores e parte dos artrópodes vivem de microrganismos. O canibalismo também não é raro, e especialmente o nematoide Mononchus pappilatus devora, por dia, até 83 larvas do nematoide parasita Meloidogyne sp.
Até as minhocas são presas da mesofauna predatória, especialmente de nematoides, moluscos e formigas.
Até existem alguns nematoides que vivem em simbiose com bactérias que decompõem a celulose. Dessa maneira, a microfauna controla eficazmente a flora fúngica do solo, razão porque muitos autores consideram especialmente os protozoários como a polícia do solo.
– Fungos
Não só nematoides comem fungos, mas também os fungos comem os nematoides, como, por exemplo, o Dactylaria brochopaga, Arthrobotrys oligospora, Protascus subuliforme e outros. Existem no solo aproximadamente 80 fungos que apanham animais da microfauna, preferindo nematoides, como o fazem também os rotatórios, que reduzem consideravelmente os nematoides.
– Formigas
Muitos insetos da mesofauna, especialmente os aracnídeos e himenópteros, caçam a microfauna e há aqui o curioso fato de algumas variedades de formigas só comerem colêmbolos venenosos, cujo líquido celular paralisa temporariamente as antenas, mandíbulas e pernas. Parece tratar-se de formigas toxicômanas, porém nunca tocam em colêmbolos não venenosos.
– Minhocas
Minhocas (Enchytraeidae) matam nematoides parasitas através de excreções muito alcalinas, mas nunca os comem.
A importância desses micro e mesoanimais está no controle estrito da microvida do solo, e com isso, da manutenção do equilíbrio biológico.
Muitas espécies de formigas, especialmente as Atta (saúvas) e as Isoptera (cupins), vivem como micófagos, não somente pastando na microflora, mas também cultivando-a em vastos “jardins”. Os basidiomicetos, especialmente, servem a eles de alimento. As formigas reduzem sensivelmente a flora fúngica do solo e remexem vigorosamente a terra. As Atta sexdens e Atta cephalotes movimentam 20 a 25 m3 de terra por ninho. Porém, o dano que fazem na cultura, cortando as folhas, não nos deixa apreciar esse serviço ecossistêmico.
Tanto os nematoides quanto todos os Oligochaeta (minhocas), muitos himenópteros (formigas) e isópteros (cupins) são muito eficientes na mistura do solo mineral com a fase orgânica. As minhocas merecem aqui uma atenção muito especial, porque contribuem eficazmente à fertilidade do solo. Na Austrália, vale a regra que “num pasto podemos nutrir tantos quilos de ovelhas, quantos quilos de minhocas contiver o solo”. A vida das minhocas, com uma única exceção, se processa em solo bem arejado e úmido, somente embaixo da camada orgânica na superfície do solo, conforme a espécie. Às vezes, comem ovos de nematoides ou casulos de traças, mas sempre devoram grandes quantidades de detritos orgânicos e, de vez em quando, plantinhas novas.
O Lumbricus terrestris faz canais verticais, de preferência em solos pesados (argilosos), até alcançar o nível freático (8 metros de profundidade), podendo então, desta maneira, não somente facilitar a ascensão da água, mas misturar também a argila depositada em camadas mais profundas, com as camadas lixiviadas e, portanto, mais arenosas da superfície.
– Nematoides
Os nematoides são quase tão eficazes na decomposição da matéria orgânica como as minhocas, somente não se igualando a elas por não serem tão bons cavadores, ficando obrigados a usar canais de raízes ou de outros animais do solo. Comem, geralmente, matéria orgânica pré-digerida por bactérias. Ao contrário das minhocas, os nematoides fogem dos fungos, porque são seriamente prejudicados por eles. Existem até mesmo fungos predatórios que apanham os nematoides, furando a sua pele e sugando o líquido plasmático.
Outros fungos crescem como parasitas no corpo de nematoides. Algumas espécies de nematoides são pseudoparasitas, isto é, planositas. Estes nematoides não entram nas raízes vegetais, mas ficam sugando as células do lado de fora sem, porém, prejudicar a planta. Migram de uma raiz a outra, atraídos pelas excreções de seus hospedeiros, mas sugam, da mesma maneira, em algas. Somente raras espécies são verdadeiros parasitas e foram justamente estas que contribuíram para a sua triste fama.