Caldo de mato (inços ou invasoras).

O agricultor vê as culturas crescerem e o mato crescer ainda melhor e mais depressa. Tem de trabalhar duro para controlar o mato. Por que a cultura é mais fraca? Não é da terra. É semente comprada fora. O mato é daqui mesmo. Adapta­do ao solo, ao clima, às ondulações do terreno.


O mato é “gente de casa”, a cultura é visitante de fora. E ele luta para manter este visitante no seu campo, usando todo tipo de tecnologia, como adubação, irrigação, herbicidas e capinas, defensivos e controladores de crescimento, e ainda não tem certeza de que vai colher bem.


Quando finalmente colhe, os custos da lavoura são maiores do que o preço que recebe pelo produto, porque a cultura não tem a força das plantas nativas. Além do mais, se vier muito viçosa, é porque foi colocado nitrogênio demais e agora as doenças também vão proliferar.

E se a cultura crescesse igual ao mato, forte e saudável? Não existe maneira de transferir o vigor do mato à cultura?

O agricultor começou a colher folhas do mato. Folhas vigorosas de tudo que invadia seu campo. Folhas vigorosas de árvores na beira do campo. Cada planta tinha outro jeito de crescer, mas sempre com vigor. Até da tiririca colheu folhas. Para alguma coisa devia prestar. Prestava para enraizar galhos, mas será que não podia prestar também para aumentar o vigor do cultivo?

Socou tudo no pilão e deixou de molho na água durante a noite. No outro dia espremeu o caldo. Deveria colocá-lo direto sobre suas plantas? Não poderia ter alguma doença escondida ou enzimas das quais a cultura não iria gostar?

Por via das dúvidas ferveu o caldo por algumas horas e depois o diluiu. O caldo de cada quilograma de ervas ele diluía em 20 a 40 litros de água. Pulverizou sua cultura. E o que aconteceu foi um pequeno milagre.

As plantas de cultura aumentaram de tal maneira que quase dava para sentar ao lado e observá-las crescer. E cresciam fortes e saudáveis, com caules grossos e raízes profusas e longas.

É usado especialmente para café, fazendo o caldo de brotos de mamona e de bambu, porque são as plantas nativas que crescem com maior vigor, mobilizando nutrientes.

“E funciona por quê?”, perguntei a uma professora de química orgânica da Universidade do Rio de Janeiro. Enzimas morrem na fervura. Enzimas se desnaturam já com temperaturas acima de 56°C, mas hormônios permanecem. Fervura não os destrói.

Mas quanto mais se ferve, maior a perda também de ânions. Conservam-se somente os cátions. Certamente os hormônios já são um sucesso. E se somente fermentassem as plantas moídas, por exemplo, com o biofertilizante supermagro? Isso iria conservar também a maior parte dos ânions, como fósforo, boro, molibdênio e outros.

Fica o desafio. Agricultores o inventaram. É usado em muitos países da América Latina.

Por que não o levar adiante usando a força do mato para nossas culturas?