Agroecologia na Infância

Verduras na casa e na escola

          Nas cidades ocorrem cada vez mais inundações, mais vendavais, mais deslizamentos de terra. Por quê? É simplesmente porque tudo foi asfaltado, cimentado, impermeabilizado. Não querem sujar seus sapatos quando chove, querem manter a poeira fora da casa quando venta. Querem ter tudo o mais longe da natureza.

Finalmente todos foram para as cidades para se proteger dos incômodos lá fora no campo. Mas chove para os justos e pecadores, chove para as cidades e os campos. A natureza não tem outras regras nas cidades do que no campo. Chove aqui e lá.

          Mas aonde a água da chuva deve escorrer? Isso, o homem urbano já não calculou mais. A cidade não é dele? Não foi ele que a deu suas regras? A chuva deveria obedecer às regras e exigências humanas. Urbanas. A chuva deveria comportar-se diferente no campo do que nas cidades. No campo, é bem-vindo, na cidade só deve refrescar. Não tem nada para molhar. Nem as árvores nas ruas, que crescem em meio ao cimento e asfalto.

          Onde entra água para as raízes delas ninguém sabe. Mas o conseguem. A natureza cria vida onde pode, até nos lugares mais improváveis. E o mais interessante é: ela obedece às leis eternas da VIDA, não se importando com a legislação que o homem criou.

          Mas as crianças, mesmo dos homens mais urbanizados, adoram plantas, adoram bichinhos, adoram a natureza. Por isso, de vez em quando produzem um filme de animais. Por exemplo de galinhas. Mas essas galinhas “urbanas” não têm mais penas, andam depenadas, simplesmente porque o morador urbano não sabe mais que, por natureza, as galinhas têm penas. Somente conhece a galinha depenada e resfriada no supermercado. E quando uma escola visita uma granja de galinhas, todos perguntam espantados: “que animais são estes?” E não se deixam convencer de que estes animais são galinhas. Como? No supermercado não têm penas.

          Plantas e flores as crianças conhecem ainda, porque há lojas que as vendem e até se encantam quando alguém presenteia com flores nos aniversários. Elas adoram a natureza e a pesquisam. Já enxergaram a felicidade nos olhos de seus filhos quando possuem algo que vive, e se é somente uma plantinha? Cada dia olham quanto cresceu, se faz outra folhinha, se até forma um botão de flor. Colocam água na sua plantinha e cuidam com amor. Têm tantos brinquedos mecânicos, mas brinquedo somente é bonito no primeiro e talvez no segundo dia. Depois aborrece. É sempre o mesmo. É mecânico, é tudo previsível. Uma plantinha, não. Todo dia tem alguma surpresa. E quando se esqueceu um dia da plantinha porque tinha alguma festinha, a planta murcha. Faltou água, faltou amor.

          O mais interessante é que a convivência com a natureza muda o comportamento da criança, até de seus hábitos alimentares. Antes achava o máximo comer carne todos os dias. Mas agora tem de experimentar as verduras que plantou, as plantas que criou. As plantinhas que plantou cresceram: deu alface, rabanetes, moranguinhos… As flores que cultivou deram margaridas, boca-de-leão, violetas dos andes…Cada dia deu alguma surpresa, alguma alegria. E o mais fascinante é ver como as plantinhas gostam do trato, parecem até agradecer. E o mais surpreendente é quando se descobre que a terra não é somente uma massa grudenta com a qual se sujam as mãos e sapatos. Ela vive e se transforma abaixo do trato, e com as plantas que aqui vivem, crescem e produzem. Só faltam falar. Tem crianças que até escutam as plantas falar. E é uma satisfação tremenda quando podem colher as verduras que plantaram e cuidaram e levá-las à cozinha, de onde aparecem na mesa e enriquecem a refeição. O pai se espanta: “mas você nunca quis comer alface, e agora come?” “Agora é diferente. Este é o que eu plantei e cuidei.”

Mas não é somente isto. Tem muito mais. Foram lá no mato e brincaram num córrego cristalino e onde, apesar de todo o calor, a água estava fresquinha. De vez em quando pulou um peixinho fora d’água e uma rã gorda coacha. E tinham abelhas, que voavam de flor em flor, colhendo néctar. E depois de visitar uma flor saíram com o corpinho cheio de pólen. Atualmente quase não tem abelhas. Ninguém sabe para onde foram. Se perderam no caminho e não encontraram mais suas colmeias, porque as substâncias marcadoras que elas sempre deixam no caminho, mudaram de cheiro graças aos adubos que usam em campos agrícolas. Ou porque ficaram doentes pela alimentação não acostumada que forneceram as plantas com agrotóxicos? Em todo caso, as abelhas sumiram e nos EUA estão criando abelhas selvagens, que vivem em buracos no chão e que não eram muito acostumadas a polinizar flores.

Mas agora vão ter que fazer isso. As crianças acharam na semente de um abacate recém-brotado um mundo diferente. Perguntaram: “A cidade também era uma vez assim?” “Era” “Quem planta aqui as flores e árvores?” e não compreendiam que tudo isso é somente a natureza que deixa nascer plantas em cada cantinho para cobrir a terra.  “As plantas gostam da terra?” – queriam saber. Claro que gostam, e a terra das plantas. Vocês não gostam de suas mães e ela gosta de você?”