O solo tropical é um ecossistema como o de clima temperado. Sistema quer dizer que é composto de muitos fatores interligados e que fazem o todo funcionar.
Eco vem da palavra grega “oikus” que significa lugar. Assim, cada lugar possui seu sistema todoparticular. Portanto a transferência de tecnologia de um ecossistema (o temperado) para o outro (o tropical) não funciona. Não se pode admitir que o tropical seja completamente errado e o bom é somente o temperado. Ao contrário. Em estado nativo, o tropical produz 5,5 vezes mais biomassa do que o temperado. Ele é muitíssimo mais produtivo se puder trabalhar dentro de suas condições. Mas quando é obrigado a funcionar dentro das condições do clima temperado, trabalha muito precariamente.
A Agricultura Orgânica deveria produzir alimentos de valor biológico elevado e isso somente ocorre em solos sadios e com plantas sadias. Planta saudável não é atacada por pragas e doenças. Se estas aparecem é porque a planta já está doente por não poder mais formar todas as suas substâncias a que geneticamente é capacitada. Portanto, mesmo se consegue produzir graças aos defensivos que, conforme o desequilíbrio nutricional da planta se usam até duas vezes ao dia, o produto produzido é de valor biológico inferior.
Muitos acreditam que compactações e lajes podem ser eliminadas pelo arado ou subsolador. Mecanicamente se pode romper camadas duras, mas nunca agregá-las novamente. A agregação é um processo químico-biológico.
A Agricultura Orgânica, infelizmente, não se livrou do enfoque fatorial, temático, vendo e analisando somente fatores isolados e dos quais os chineses dizem: “se olhardes uma montanha através dum microscópio, somente podes ver um grão de areia.” Não se enxergam os bosques e rochedos, os córregos, os campos floridos e os animais. Olhando a natureza fator por fator, nunca se compreenderá suas inter-relações, engrenagens, relatividades e funcionamento. Por isso a agricultura ecológica somente pode usar o enfoque holístico, geral.
E como na Agricultura Convencional tudo funciona com receitas, os agricultores esperam também por receitas e não compreendem que somente pode funcionar por conceitos, simplesmente porque cada lugar tem seu ecossistema todo particular.
O maior erro ocorre com o composto. Primeiro quase todos acreditam que usar composto é agricultura orgânica, embora seja somente uma das possibilidades orgânicas. Consideram o composto como “NPK em forma orgânica” e até dizem: não se consegue um produto de padrão melhor porque com 40 t/ha de composto se adicionam somente metade de NPK que os convencionais usam.
Composto não é adubo, composto é especialmente um condicionador do solo. Sua maior e melhor função é de contribuir com a agregação do solo e seu sistema poroso, onde entram ar e água. Somente quando é totalmente decomposto libera seus nutrientes. Portanto tem de ser usado superficialmente para nutrir as bactérias e contribuir para a produção de agregados e poros.
Composto enterrado em 30 ou 35 cm e profundidade prejudica os vegetais acima plantados e pode matar grande quantidade de muda por causa dos gases tóxicos que ele produz durante a decomposição anaeróbia.
Outro erro grave é acreditar que qualquer material orgânico serve para produzir composto. Assim, lixo orgânico urbano (que provém de verduras convencionais com elevada quantidade de agrotóxicos), cama-de-frango de granjas convencionais rica em promotores de crescimento, esterco e restos animais de abatedouros ricos em organofosforados e semelhantes, bagaços (de cana, laranja, banana, etc.) de cultivos convencionais criados com adubos químicos e agrotóxicos podiam ser utilizados para a produção de composto. De certo, não resulta em um sal químico, mas “orgânico” não é, porque é tão desequilibrado em nutrientes e tão rico em agrotóxicos, que não pode ser considerado produto orgânico. E frutas criadas com este tipo de composto possuem um nível mais elevado em tóxicos que frutas convencionalmente criadas. Portanto, quando exportados, não raramente estão sendo devolvidos por excesso de agrotóxicos e não orgânicos. Se for orgânico deveria promover a vida.
Usam-se variedades vegetais de outras regiões, países e continentes e espera-se que o composto utilizado seja suficiente para nutri-las bem. Normalmente não é, porque o composto somente pode ser feito do que seus solos conseguem fornecer e não o que estas variedades estranhas estão sendo acostumadas a receber. Portanto, seu composto não consegue manter a saúde destas variedades ou híbridos não adaptados a seu solo e seu clima.
Acreditam também que o nitrogênio de composto ou qualquer material orgânico não consegue provocar doenças causadas pelo desequilíbrio N/Cu (nitrogênio/cobre). Qualquer nitrogênio, tanto faz se orgânico ou químico, pode induzir esta deficiência. Portanto, mesmo em composto, as vezes é necessário acrescentar sulfato de cobre na medida de 2,5 a 3,o kg/ha (se adubar com 30 t/ha de composto, esta quantidade de 3,0 kg deve ser adicionada a 30 t de composto).
Por outro lado, não é correto que todo nitrogênio provém do composto. Quando este for superficialmente aplicado pode haver uma fixação muito elevada de nitrogênio do ar durante sua decomposição. Assim, não importa muito o material de que o composto foi feito se sua decomposição no solo será aeróbia.
O pior da Agricultura Orgânica é que usa defensivos regularmente, tanto faz se tratar de caldos, inimigos naturais ou feromônios.
Seja ciente: Se o solo não está com saúde mas decadente, a planta também não está com saúde e por isso está sendo atacada. De qualquer maneira vai dar um produto de muito baixo valor biológico, embora com, talvez, resíduos tóxicos menos agressivos.
Com tanto trabalho, produzir produtos de baixo valor não vale a pena. Lembre: se pragas e doenças estão presentes, o solo tem de ser recuperado e sanado. Todos os defensivos devem ser usados somente de forma excepcional e nunca rotineiramente.
A rotina tem de ser melhorar seu solo.