Compensa agricultura orgânica?

Me diziam que não compensava nem com 50% de preço acrescido. Simplesmente não produz. Dez anos de agricultura orgânica , executada segundo as Normas e o resultado não melhorou mas piorou ano a ano. Isto foi o que me disseram em Mendoza, Argentina. E fizeram composto, colocando 35 a 40 t/ha. A terra podia ser ótima, mas não o era.

          Bem seja lembrado que as Normas não foram feitas para orientar o agricultor mas para proteger o consumidor. O agricultor que se vire.

          A região de Mendoza tem suas particularidades.

          Primeiro a chuva total do ano não passa de 180 mm. Os cultivos de azeitonas e de uvas, pela qual a região é famosa, se cultivam com água de degelo dos Andes. Parece que tem ainda muita água, porque toda paisagem é cruzada por canais, inclusive a cidade, e de vez em quando abrem as comportas e toda terra é simplesmente inundada.

          Os invernos são frios, tão frios, que as aulas no campo tinham de ser à tarde, quando os dedos não ficam mais rígidos ao manejar um instrumento. Aí é um pouco mais quente. Mas mesmo assim não neva, porque não chove.

Visitamos uma horta orgânica. Metade das verduras plantadas tinham morrido e as que restaram não eram nem um pouco animadoras. O solo era completamente compactado pelo uso do rotovator e a irrigação por inundação. No momento padecia com excesso de umidade.

          Os canteiros eram bem limpos e capinados, diziam que para captar um pouco de calor. Apesar disso, a temperatura do solo era de 3 graus C. Quanto mais compactado um solo, tanto melhor condutor de calor ou frio ele é. Ele não somente aquece mais, igual à pedra, mas ele também esfria mais rápido. As raízes eram superficiais e o cheiro do solo era nojento, de ovo podre. Nunca tinham cheirado o seu solo e se assustaram.

          Fomos num bloco de canteiros que há semanas não era irrigado e o mato crescia abundantemente. Pedi para abrirem o solo. “Não vai dar, deve estar muito duro.” Tentem. Tentaram e para surpresa de todos este solo era bem mais mole, agregado e fofo. As raízes entraram até 60 cm formando uma teia intensa que penetrava todo o solo e o mais impressionante foi que parecia mais quente do que o solo descoberto. Medimos a temperatura e estavam quase 8 graus C. Aí, todas as teorias desabaram. Era úmido sem irrigação recente, estava bem enraizado sem composto enterrado, estava mais quente com cobertura densa do solo.

          “Então nossa agricultura orgânica está errada?” – Perguntaram.

          Parece que sim. O que deve orientar o agricultor não são as Normas que protegem o consumidor, nem a tecnologia que beneficia as indústrias, mas as leis naturais. Por isso se fala de agro-ecologia: o Meio Ambiente usado para fins agrícolas porém não destruído pela agricultura. A matéria orgânica, em clima quente ou em clima frio, sempre deve ficar na superfície do solo e nunca enterrada. Solo natural nunca é desprotegido mas sempre protegido e quando não cresce mais nada, se protege com musgo como na região Ártica. E a quantidade de água necessária é tanto menor, quanto menos vento passa pela paisagem.

          Os adeptos de agricultura orgânica se animaram. Então esta produção miserável não é resultado de plantio orgânico, mas do orgânico errado? Da compactação, do excesso de irrigação, do composto enterrado, do rotovator que destrui os grumos, do solo desprotegido…

          E o que nos desorientou foi exatamente a agricultura química, onde se trabalha com solo morto , sem matéria orgânica e sem vida e não com solo vivo e animado.

          Temos de reaprender de lidar com a vida.