Plantas invasoras e os parasitas nas culturas
Quando uma única espécie de planta nativa (segetal) aumenta muito em uma cultura, esta pode ser hospedeira de nematoides e outras pragas. Se há grande diversidade de invasoras, elas ajudam a manter o equilíbrio dos organismos do solo e a possibilidade de a cultura ser parasitada é muito menor.
Há uma observação interessante. Quando o alho é plantado sozinho, limpo de invasoras, pode ser afetado seriamente por Meloidogyne incognita. No entanto, quando cresce em conjunto com uma população média de tiriricão ou junquinho (Cyperus esculentus L.), os nematoides podem existir no solo, mas não afetam o crescimento do alho.
Monoculturas favorecem o desenvolvimento de poucas espécies de invasoras adaptadas ao cultivo e seu tratamento (aração, insumos, agrotóxicos). Assim, por exemplo, no monocultivo de arroz, aparece o arroz vermelho de controle muito difícil. Porém, quando se usa a rotação com soja, esta infestação se reduz em 82%. Isso não ocorre por causa da presença de outra cultura, mas por causa de um uso diferente do solo por esta outra cultura (especialmente dos nutrientes). Pode-se dizer: a invasora aparece em concordância com o clima e o estado cultural do solo e não por causa da espécie de cultura plantada, embora esta sempre tenha invasoras específicas, graças ao esgotamento ou acúmulo de um ou outro nutriente mineral.
Gutte (1995) e Nieto-Cabrera (1997) constataram, na Bolívia, que existiam associações distintas de invasoras nos agroecossistemas das diversas alturas (diferença de clima e solo), mas não existia diferença considerável de invasoras entre as diversas culturas. Invasoras são ecótipos (O ecótipo é uma população pertencente a uma espécie – geralmente reproduzidos por sementes – que se adaptou geneticamente a um território específico, geralmente de extensão limitada. Esta definição é semelhante à definição de variedade – ou cultivar – autóctone.
O que é importante é a exploração do solo pelo cultivo, como o melhoramento ou a decadência de sua estrutura, conforme o preparo do solo, o desenvolvimento radicular e a quantidade de matéria orgânica devolvida. Por isso, as invasoras são indicadoras de condições do solo como do pH, nutrientes oferecidos, compactação, lajes impermeáveis e outras.
Controle dos segetais
O descanso ou simplesmente o abandono de um solo, por algum tempo, é fundamental para o controle dos segetais. Depois de alguns anos, as invasoras não podem mais competir com a vegetação nativa que se assenta (recuperação dos solos pela capoeira). Mas, quando outra vez roçada e plantada, esta, por sua vez, não consegue resistir ao preparo do solo e aos insumos, e aparecem justamente as “plantas invasoras”, que são indicadoras e sanadoras das condições desfavoráveis criadas no solo cultivado.
Do mesmo modo, o uso temporário do campo como pastagem, embora não permita a sucessão nativa natural, ajuda a suprimir a maior parte das invasoras. Porém, em sistemas intensivos, os pastos têm de tomar o lugar do descanso (integração lavoura-pecuária).
Competição: cultivo x invasora
Os cultivos desenvolveram um mecanismo de competição e de tolerância para com as invasoras. Entre 25 culturas, trigo e aveia são os mais competitivos, rendendo em cultivos “inçados” ou praguejados ainda 75% de colheita dos cultivos mantidos no limpo, enquanto alho, cebola e cenoura não suportam a concorrência de plantas nativas, sendo alho e cebola especialmente sensíveis contra leguminosas. No México ainda se planta uma variedade de milho (Olotillo) com colmo muito comprido que, embora não sendo o mais produtivo, não se importa com invasoras. Porém, as variedades de milho mais produtivas, com colmo curto, não conseguem crescer sem herbicidas porque perderam sua competividade.
Cultivos consorciados
Cultivos consorciados, como se usava antigamente, como milho-feijão- mandioca-abóbora, eram menos invadidos por plantas nativas e muito menos atacados por pragas e doenças. Assim, por exemplo, a abóbora impede muitas ervas invasoras que normalmente aparecem no milho. As cucurbitáceas não somente cobrem melhor o solo com suas folhas, mas têm igualmente efeito alelopático sobre muitas invasoras. Culturas mistas, consorciadas como milho+feijão+abóbora, equivalem a uma rotação.
Gramíneas melhoram muito mais a estrutura do solo de que leguminosas, portanto, um rodízio cultura x pasto (integração lavoura-pecuária) é francamente favorável, inclusive, no controle das invasoras. Assim, a rotação batatinha com capim Pangola, usada no Peru, é vantajosa.
Controle de invasoras
Também a cobertura do solo por um mulch ou cobertura morta, quando atinge 5 ou 6 cm de espessura, controla as invasoras, igual ao que fazem as lonas plásticas pretas que, porém, produzem muitos resíduos (atualmente usam-se lonas de papel, biodegradáveis). No Plantio Direto, usa-se uma camada de palha na superfície do solo, mas, muitas vezes, esta camada é fina, como na monocultura de soja, e não consegue controlar segetais, especialmente quando estes são indicadores de uma deficiência (amendoim-bravo) ou compactação (guanxuma).
Vários produtos de fungos são usados no combate a invasoras, como de Colletotrichum gloeosporioides contra angiquinho (Aeschynomene virginica Poir) em arroz, mas também contra uma malva (Malva pusilla) que invade campos de outros cereais. Ou um produto de uma variedade de Phytophthora palmivora contra um cipó (Morrenia odorata) que invade plantações de cítrus, ou o uso de produtos de Puccinia (ferrugem de cereais) contra uma Asteraceae, que cresce como carrapicho em pastagens (Xanthium cavanillesii). Por enquanto, estes produtos ainda são muito caros, mas são cada vez mais pesquisados. Também são usados diversos insetos, como contra a palma – forrageira (Opuntia inermis), que estão invadindo as pastagens na Austrália, ou contra o lírio-da-água (Eichhornia crassipes), que invade lagos nos EUA. Porém, como plantas invasoras são sempre plantas indicadoras, é mais fácil combatê-las quando se remove o problema ambiental do que removendo as causas e o que elas indicam.