Três pontos básicos se impõem a esse novo milênio:
- Somente em solo sadio pode se produzir alimentos saudáveis, dependendo a saúde das pessoas de solos sadios e puros;
- A paz depende de um espírito saudável e este somente existe em corpos saudáveis. Portanto, solos doentes não promovem a paz.
Segundo Mokiti Okada, as proteínas das plantas são básicas para a espiritualidade e a paz, uma vez que o materialismo exclusivo é o resultado de almas vazias e somente contribui ao egoísmo e ao ódio. Se tenta preencher este vácuo espiritual pelo consumismo, barulho, sexo e violência.
Isso significa que os alimentos precisam ter valor biológico elevado, ou seja, que as plantas têm de ter a possibilidade de formar todas as suas substâncias a que geneticamente estão habilitadas, especialmente proteínas (obs: aminoácidos não são proteínas mas somente as “pedras” fundamentais das quais se formam proteínas).
A abundância de comida para toda a população não pode ser conseguida na base vigente. O número de calorias/dia que se deve ingerir pode até diminuir se os alimentos tiverem alto valor biológico, o que significa também economia de dinheiro, porque não é preciso comer tanto e não se fica doente, pelo menos não por causa da alimentação fraca.
Comendo melhor e menos, pode-se reflorestar vastas áreas. Com menos vento, as culturas produzem até duas vezes mais, o clima se regula novamente, desaparecendo as trombas d’água e as enchentes bem como a crescente aridização e desertificação.
Com uma regionalização da produção agrícola, os alimentos se tornam mais baratos ainda e contribuem mais para a saúde humana (alimentos e plantas provém do mesmo solo ao qual são adaptados). Alimentos de elevado valor biológico dependem de solos sadios- plantas sadias – homens sadios.
O solo precisa ser periodicamente vitalizado. Para isso, precisa de suficiente matéria orgânica diversificada para poder nutrir a maior quantidade de microrganismos e insetos onde todos controlam todos. O papel principal da matéria orgânica não é o de fornecer nutrientes às plantas mas nutrir a vida do solo. Portanto, ela é um condicionador físico do solo.
A vida aumenta com a abundância das culturas e vice-versa. Ela aumenta o crescimento e rendimento das culturas. Em clima temperado, em solos ricos em nutrientes, existem várias experiências que mostram que o solo se acostuma a uma cultura e não necessita de rotação nem de policulturas. Em clima tropical, com seus solos muito pobres, a nutrição vegetal não depende da riqueza do solo mas da extensão de seu sistema radicular e do seu acesso aos nutrientes. Este é maior quanto mais diversificada for a capa vegetal, permitindo que as raízes de diversas espécies e variedades explorem o mesmo espaço no solo.
Também se precisa que esta matéria orgânica tenha uma decomposição aeróbia. Na natureza, a serrapilheira e as folhas caídas também se depositam na superfície para, durante a decomposição, produzirem ácidos poliurônicos, que atraem fixadores de nitrogênio de vida livre capazes de fixar até 40kg/ha de nitrogênio (N2).
A matéria orgânica faz com que haja agregação dos grumos primários a secundários, muito maiores, formando com isso o sistema poroso do solo onde entrará ar e água. Em solo bem agregado não ocorrem erosões ou enchentes. Nos trópicos, 80 a 90% dos nutrientes encontram-se na matéria orgânica. Ela se recicla muito rápido, por isso precisa de uma vitalização permanente.
No trópico, o solo tem vida intensa até 15 cm de profundidade. Isto porque a vida do solo é 10 vezes maior do que em clima temperado e a quantidade de fungos é elevada. Eles produzem grandes quantidades de antibióticos que, lixiviados para dentro do solo, o tornam praticamente estéril a partir de 15 cm.
Os microrganismos e as raízes mobilizam nutrientes vegetais até de silicatos primários. Eles impedem a arenização dos solos, atualmente cada vez mais frequente. Quanto maior e mais vivo o solo, tanto maior o fornecimento de nutrientes. Como a vida aeróbica agrega o solo e os nutrientes não podem ser reduzidos (ligados a H-) mas oxigenados ligados (ligados ao O=), Mokiti Okada diz que o oxigênio é o espírito do solo. Na agricultura convencional, aduba-se para enriquecer o solo, o que pode ser viável em clima temperado, onde os solos são rasos e ricos, mas aqui acabam “sujando” o solo.
O solo tem de ser “puro”. Solo puro é aquele que não recebe material estranho. A energia do solo, que muitos chamam também de produtividade, ou a capacidade de produzir, depende de sua agregação, de sua vida, do seu enraizamento, da capa vegetal que o protege, de suficiente água e de suficiente oxigênio (que dependem da agregação). Solos arruinados e decadentes, graças a uma tecnologia agrícola errada, conseguem recuperar sua energia abaixo de vegetação nativa dentro de 8 a 15 anos. A agricultura natural tenta manter a força do solo por um manejo adequado, que no trópico se resume basicamente em:
1- Aporte periódico de matéria orgânica com relação larga de C/N >45 (palha de milho, milheto, sorgo, arroz). Folhas de feijão, soja e outras leguminosas podem fornecer nitrogênio mas não mantém a estrutura do solo e com isso sua energia.
Composto vegetal é interessante em estufas e na horticultura com rotatividade muito grande. No trópico, com sua decomposição quase explosiva, a pré-decompostação do material orgânico não é necessária. Em lavouras maiores trabalha-se simplesmente com palha, isto é, com restolhos. Se o solo for sem vida e não ocorre a decomposição, ou ela é muito lenta, pode-se apressá-la pela aplicação de fosfato natural, termofosfato, escória de Thomas ou semelhante. Isso não somente apressa a decomposição, mas também aumenta a fixação de nitrogênio.
2- A manutenção da matéria orgânica na camada superficial do solo. No Japão, enterram folhas em 35 cm de profundidade para aquecer o solo. Isto é supérfluo em solos tropicais quentes. Fora disso, iria animar uma vida anaeróbia e produzir gases tóxicos (CH4 , SH2), altamente prejudiciais às culturas.
3- proteção do solo contra o impacto das chuvas e o aquecimento excessivo (mulch, plantio consorciado, policulturas, plantio adensado, plantio direto, lona plástica).
4- Aumento do enraizamento (em solo agregado e protegido) pela rotação de culturas (mas cuidando para que se utilizem somente plantas sinérgicas evitando alelopatias), por adubação verde (que não pode ser usada rotineiramente porque acidifica mais o solo tropical, que, por natureza, já é ácido), uso de variedades diferentes (para possibilitar o enraizamento do mesmo espaço por duas plantas). Animar o crescimento radicular seguindo a água que recua no solo (especialmente em cultivo de arroz) e, caso não disponha de variedades adaptadas ao solo e ao clima, a aplicaçãoo de boro (entre 3 a 30 kg/ha de ácido bórico conforme o solo e a cultura).
5- Proteção contra o vento, que pode ser de plantas de cultura maiores (linha dupla de milho, cana ou sorgo), arbustos (guandu) ou árvores.