O manejo com carinho e dedicação

Geralmente alega-se que o gado zebuíno não é suficientemente dócil para ser manejado em pastejo rotativo. “Isso só para gado europeu!” Mas ocorre que normalmente o gado zebuíno é manejado exclusivamente “a grito e palavrão” como diz o vaqueiro. O homem nunca se mostra amigável e quando aparece é somente para vacinar ou matar. Assim, o gado mais dócil foge e o mais bravo ataca, quando vê um homem.

Um lote de indubrasil, muito bravo, atacando cada pessoa que passava pela pastagem, se tornou manso simplesmente pela suplementação durante 1 mês. Perto dos cochos sempre permanecia uma vaca que berrava quando alguém se aproximava e todo o lote vinha correndo em galope para ver se não tinha sido posta nova ração.

Também a simples colocação de sal no cocho, por exemplo, trazido num balde, faz com que todos os animais apareçam quando enxergam alguém com balde na mão. Sempre existirá um ou outro animal indócil, mas a maioria dos zebus é dócil quando bem tratada. Somente se torna um gado nervoso quando deficiente em magnésio e quando maltratado.

O problema da troca do piquete não depende tanto do gado, mas do peão ou vaqueiro, que considera atributo de seu machismo cavalgar em galope, gritando e chicoteando, acompanhado por uma matilha de cachorros. Gado trocado com correria e gritaria vive em stress permanente quando a troca for frequente. Quando se recupera do stress da primeira troca de piquete, já sobrevém a próxima. Assim, o gado emagrece em meio de forragem abundante, cochos com sal e bebedouros com água limpa.

A troca do piquete ou potreiro se faz, abrindo a porteira ou colchete e colocando sal no saleiro do piquete a pastar. O gado, uma vez acostumado a mudar de pastagem, geralmente após os dias de pastejo costumeiro numa repartição pastoril já espera a passagem para outro piquete, ocorrendo a troca calmamente, tanto com gado europeu, quanto indiano ou mestiço.

Alguns alegam que o gado aborta quando trocado de potreiro e outros dizem que os bezerros morrem. Isto é verdade quando todo o gado, em galope, é afunilado numa porteira estreita onde se prensa, derruba os bezerros e os pisoteia. Portanto, os colchetes e porteiras devem ter uma largura de 8 a 10 metros e a passagem do gado não deve ser forçada em galope.

Diz-se igualmente que as ovelhas “desmamam” a cria quando trocadas de piquete. Este desmame forçado acontece somente quando se movimenta um rebanho grande a cavalo. Quando se abre simplesmente a porteira, os animais passam comodamente. Em ovinos aconselha-se usar um animal sinuelo, que deve ser dócil e inteligente e que atenda ao chamado do tratador. Quando ele passar para outro potreiro, todo o rebanho segue.

Pastagens com forrageiras altas somente devem ser usadas para gado de corte. Gado leiteiro e gado com cria ao pé, bem como gado ovino, preferem pastagens baixas.

Gado caprino é um problema à parte, porque prefere comer de arbustos, e como facilmente são deficientes em cobalto, roem a casca de árvores, que destroem. Certamente são um recurso em regiões destruídas, porém, impedem a recuperação da região e contribuem para sua desertificação. Quando em pastagem, especialmente em corredores entre os pastos de bovinos ou à beira das estradas, onde podem “desnatar” a vegetação, produzem bem e não causam problema. Mas quando obrigados a pastar potreiros onde a vegetação se torna escassa, comem o colo da raiz, exterminando as plantas mais palatáveis e geralmente não respeitam cercados. O valor principal das cabras está na produção de leite, que pode alcançar 6 litros diários conforme a raça e a alimentação; em Israel existe uma raça que pode dar até 14 L diários. A pastagem rotativa é possível com cabras, mas necessita-se de muita experiência e cuidados e não se aconselha pastagens limpas, de gramíneas. Por outro lado, a criação de cabras livres é muito destrutiva para a pastagem e a paisagem. Cabra não respeita cerca quando passa fome, quando não tem alimentação variada e quando os próprios donos, vendo o apuro dos animais, estouram as cercas para os campos vizinhos.

Para o gado bubalino ou búfalos, que igualmente possuem a fama de não respeitar cercas, vale a mesma coisa. Em pastagens boas e abundantes aceitam as cercas de bom grado. Mas quando não há o que comer, migram apesar de todos os cercados, podendo nadar por rios e represas de até 10 a 12 km de largura. Eles não ligam tanto à forragem apetitosa como volumosa e comem tanto capim-guiné como sempre-verde, colonião ou canarana. Capim rapado, bastante baixo, não apreciam. Também não gostam de capim seco e necessitam de água para se livrar de seus piolhos ou eles têm de ser tratados frequentemente contra ectoparasitas, caso contrário migram em busca de água.

No rodízio racional é importante:

1) iniciar o pastejo na primavera sempre em outro piquete;

2) não deixar o gado pastar um piquete quando começa a rebrota;

3) dar repouso ao piquete quando a forrageira possui crescimento rápido;

4) intercalar um repouso até o fim da floração para acumular reservas;

5) ceifar a forragem dos piquetes que não podem ser pastados;

6) passar o gado somente para piquete cuja vegetação é suficientemente alta;

7) terminar o pastejo, no fim da estação, sempre em outro piquete;

8) poupar alguns piquetes para ter pastagem descansada durante a seca;

9) conservar leguminosas nos piquetes;

10) adubar com fósforo quando as forrageiras encurtam seu ciclo vegetativo, e adubar com nitrogênio para conseguir maior produção cedo na primavera.

Qualquer que seja o manejo, a flora pastoril se modificará. Essas modificações devem ser controladas pelo pecuarista.

O pastejo cedo, na primavera, prejudica seriamente as forrageiras de brotação precoce. Portanto, não deve ser repetido em seguida, sob pena de exterminar estas plantas e provocar uma brotação tardia. Voisin diz: a mistura de forrageiras num pasto depende muito mais da exploração, ou seja, do manejo do pastejo, do que da mistura semeada.

Como as condições físicas e químicas dos piquetes não são necessariamente idênticas, e como a posição em baixadas, ladeiras ou colinas influi sobre a economia de água, insolação e incidência de vento, muitas vezes o gado não poderá ser passado do piquete um para o dois e assim por diante. Terá que se escolher sempre o piquete que está no “ponto” para ser pastado.

Quando a forrageira-base ou a consorciação-base está diminuindo, o repouso do piquete tem de ser modificado segundo as necessidades dela, e que pode ser repouso mais comprido ou mais curto. Num aumento de repouso deve-se verificar o estado nutricional do piquete e se precisa de adubação fosforada.

O aparecimento maciço de uma ou outra invasora indica a modificação radical de algum fator do solo ou do pasto. Pode ocorrer por causa de deficiência nutricional, do excesso de nitrogênio, do pisoteio pesado demais, do desnudamento do solo pelo uso intensivo em períodos delicados como são os úmidos ou secos.

Outro problema é a formação da maioria das raízes na superfície, onde encontram mais nutrientes. Para equilibrar isso, é necessário que se proceda a uma roça de pastagem por ano, deixando a matéria orgânica no campo. Os animais terrícolas a utilizarão como seu alimento e promoverão sua decomposição e mistura com o solo. O controle do enraizamento do solo é muito importante, caso contrário o pasto se torna mais suscetível à seca, por causa de um enraizamento muito superficial, podendo necessitar de irrigação que poderia ser evitada num manejo melhor.

Quando os piquetes são pequenos e o pastejo é de somente 1 dia, aguada, saleiro e sombra geralmente se reúnem numa área. Mas, quando os piquetes são maiores e o pastejo é de 4 a 6 dias, o problema é obrigar os animais a circular por toda a área, para pastá-la de forma uniforme.

Neste caso, coloca-se o bebedouro numa ponta e o saleiro na outra. O gado acostumado a tomar sal circulará entre saleiro e água. Convém misturar ao sal comum sais minerais, especialmente cobalto, na base de 40 g de cloreto de cobalto para cada 100 kg de sal. E convém dividir o saleiro para oferecer tanto sal quanto farinha-de-osso ao gado. Especialmente o gado leiteiro, gado prenhe e gado com cria ao pé necessitam de um suplemento de cálcio e fósforo. Vacas que recebem farinha de osso dois meses antes da parição terão bezerros mais fortes e uma lactação maior. Entram igualmente mais cedo no cio podendo ser enxertadas 6 a 8 semanas após a cria.

Quando a pastagem é muito bem manejada com leguminosas e ervas silvestres, geralmente dispensa-se a farinha de ossos para gado de corte. Para gado leiteiro sempre é indicada.

Bebedouros são preferíveis a tanques ou açudes, uma vez que o gado não pode sujar a água, nem infestá-la com vermes. Se existem cursos de água pode-se colocar uma roda de água que bombeia a água para uma caixa coletora da qual a água é distribuída.

Quando a paisagem é plana, cata-ventos podem bombear a água.

Porém, seja advertido: cercados, aguadas e saleiros de nada adiantam se as pastagens forem plantadas com forrageiras inadequadas para a região, se o solo for deficiente em fósforo e se a escolha da atividade pecuária não for certa.

O manejo rotativo racional otimiza as condições da pastagem, mas não consegue criar condições diferentes.

Numa terra ruim se passa muitos anos até se formar uma pastagem boa. Não se pode forçar a formação pela simples adubação. Tem de se construir pacientemente as condições favoráveis para as forrageiras boas da região e para seu gado. Quer dizer, o gado tem de ser selecionado para suas pastagens.

Mas o êxito do manejo ecológico das pastagens num rodízio racional perfeito depende igualmente dos costumes do gado que, mesmo domesticado, possui lideranças e subjugados. Portanto, não convém misturar num lote animais recém-desmamados com animais de engorda, mesmo se a pastagem o permitir. Os animais novos serão dominados pelos mais velhos, viverão em stress permanente e não se desenvolverão. Ter piquetes para um rodízio não é o suficiente. Deve-se ter piquetes para tantos lotes de gado quantos forem necessários para manejá-los sem stress.

O manejo ecológico das pastagens deve considerar TODOS OS FATORES DE UM LUGAR, uma vez que “eco” significa lugar. Deve manter o equilíbrio entre o gado adaptado; a vegetação e sua capacidade de produzir forragem boa neste solo; a influência do gado sobre a vegetação e da vegetação sobre o gado; os fatores do solo em consideração à vegetação e ao gado, com sua estrutura, riqueza mineral, microvida e fauna-terrícola, que inclui as minhocas, bem como a influência do clima. O manejo é ecológico quando consegue manter em equilíbrio todos os fatores de um lugar ou restabelecer o equilíbrio favorável entre eles, para que não haja decadência do ecossistema e para que proporcione as condições melhores possíveis ao gado.

Para isso, necessita-se de muita observação, bom senso, dedicação e muito amor pelo trabalho. Mas, recompensa!