“Como todos os sistemas biológicos, o solo sofre alterações permanentes, ficando, porém, em consequência disso, relativamente estável. Esta condição paradoxa é um “equilíbrio dinâmico”. O equilíbrio se mantém por meio de modificações numa dada direção, compensado por variações atuando em direção oposta. Frequentemente, os diversos processos – influenciando um ao outro – são de ação cíclica, de modo que, apesar de transformações profundas, as alterações finais, resultantes em conjunto, são insignificantes. Assim, realmente, as quantidades das distintas frações permanecem constantes, por muito tempo, a não serque o homem intervenha de maneira radical.

Numa floresta de zona fria caem, anualmente, 12 toneladas de folhas por hectare, e numa floresta tropical, 69 toneladas por hectare. No ano seguinte, cai a mesma quantidade  – a manta que cobre a superfície do solo permanece a mesma. Aqui, o ciclo planta-solo-microrganismos é perfeito.” (Burges, 1958).

Mesmo assim, existe uma leve e constante lixiviação destes solos pela água. Esta migração de sais metálicos e não metálicos para o subsolo e sua parcial lixiviação para os rios chamamos de envelhecimento do solo.

Este envelhecimento gradativo, que é muito lento numa floresta virgem e muito rápido num campo de cultura, acarreta, naturalmente, a gradativa substituição das espécies de plantas ali existentes por outras mais adaptadas. Uma árvore, exigente em magnésio, não consegue mais defender o seu lugar na associação vegetal quando este elemento for deficiente; fica pesteada e morre, cedendo lugar a uma árvore modesta na modificação do solo, adaptando prontamente a sua associação vegetal e microbiana às novas condições de vida. É, também, esta a razão porque, mesmo em mata virgem, podemos encontrar pestes e plantas doentes em escala pontual.

Em nossas terras de cultura, o ambiente é, na minoria dos casos, propício à cultura agrícola. Certamente o lavrador tem de criar ou construir primeiramente este ambiente antes de plantar. Especialmente em solos chamados marginais, com deficiências múltiplas de nutrientes, quando se sabe que a atividade agrícola sempre foi iniciada nas terras férteis da região.

Temos de estar cientes de que a agricultura é um processo ou sistema artificial, não podendo, portanto, contar, unicamente, com os simples recursos naturais, tendo-se de criar, conscientemente, um meio adequado para as culturas. Já a aração do próprio solo é a primeira medida que perturba toda a vida do mesmo, revolucionando a sua biocenose. Em lugar da rica microfauna, de actinomicetos e fungos, entra agora, especialmente, uma flora bacteriana aeróbia. Diminui, radicalmente, a micro e mesofauna, tais como minhocas, nematoides, colêmbolos, etc. A microflora, agora incentivada pela aração e pelo arejamento, gasta, luxuriosamente, as reservas de matéria orgânica do solo. A vida se torna muito mais intensiva. É justamente o que o lavrador queria, porque somente uma vida intensiva do solo garante-lhe altas colheitas em curto prazo ( e por poucos anos, dependendo da fertilidade natural do solo). Porém, ele tem de considerar as mudanças totais no solo, provocadas por ele mesmo, tais como a produção acelerada, a microvida “doméstica” inteiramente dependente do seu trato e o solo desnudado e desprotegido contra a insolação, a ação das chuvas e do vento.

Como uma vaca de alta criação não dá bons resultados pastando só em pastos naturais, submetida às mudanças alimentares, de grande fartura no verão e de escassez no inverno, assim também acontece a um solo arado, com sua micro população de “criação”, porque esta somente apareceu graças aos tratos culturais, não prosperando sem cuidados especiais.

Pode-se tirar uma planta do solo para melhor estudo, mas a planta fora do solo não revela nada sobre as possibilidades de vida que encontra nele. Portanto, não é possível julgá-la fora do solo. As bactérias, fungos e microanimais que se criam na sua rizosfera (associados a ela), a sua capacidade de vencer a resistência do solo, a sua pressão osmótica celular e, portanto, a sua capacidade de sucção, a influência sobre a estrutura do solo e, portanto, sobre o seu próprio espaço vital somente podem ser julgados quando considerarmos o vegetal dentro da biocenose solo-planta-microrganismos.

Com a cultura monófita – planta-se muitas vezes, somente milho, ou somente trigo, ou só algodão, etc. – provoca-se uma alteração enorme no solo. Toda a microvida adapta-se, necessariamente a este regime, beneficiando-se, automaticamente, todos os microsseres capazes de utilizarem as excreções radiculares da cultura. A concorrência mútua entre as plantas da própria cultura torna-as mais fracas, privando-as da defesa natural de que gozam as plantas em policultura. O enraizamento do solo é muito mais fraco e portanto reduz-se a microflora a bactérias autótrafas, que vivem de oxidações de metais ou tróficas, que usam os ácidos segregados pelas raízes. A grande maioria da microflora saprófita, vivendo de matéria orgânica morta, desaparece. A microfauna saprófita, especialmente as minhocas e nematoides desaparecem e criam-se microsseres que vivem de bactérias como os protozoários, ou de células vegetais vivas, seminecróticas ou, de qualquer maneira, debilitada por prévias deficiências minerais, como os parasitas – fungos, nematoides, algumas bactérias, porque já não encontram células vegetais mortas no solo.

Como esta microvida não está capacitada a manter a estrutura fofa do solo, esta decai, adensa. O ambiente, apesar das arações, gradeações e cultivações, é preferencialmente anaeróbio, porque a simples pulverização do solo duro e entorroado não resiste ao impacto das gotas de chuva, dispersando as partículas sólidas, que se reassentam aleatoriamente dentro de poucas semanas. Aqui proliferam especialmente fungos, que, vivendo na superfície, podem se nutrir das camadas duras e anaeróbias, aonde mandam suas hifas. Entretanto, a vida dos fungos depende também de vestígios de matéria orgânica. Se fungos saprófitas não se encontram possibilitados a sobreviver no solo, os mesmos surgem como fungos parasitas em células vegetais, enfraquecidas em consequência de alguma deficiência mineral.

Devemos lembrar que: cada ser vivo, seja ele um microrganismo ou uma planta, aparece somente no momento em que as condições de vida lhe são favoráveis, podendo defender-se, eficazmente, contra a concorrência dos outros. A ambientação dos microrganismos ocorre muito mais rapidamente do que a dos vegetais, porque o seu ciclo vital é infinitamente mais curto.