Matéria orgânica decomponível e matéria orgânica humificada

Condições sob as quais o húmus se forma

Como em clima temperado a maior fração da matéria orgânica se encontra na forma humificada devido à decomposição muito vagarosa nessas latitudes, tomou-se por certo que o húmus teria de acumular-se em qualquer solo no mundo inteiro, o que, infelizmente, não é verdade. Assim, nos solos tropicais uma concentração maior de “húmus” indica condições deficientes de decomposição, como clima frio, acidez elevada no solo, falta de umidade, etc.

Por muito tempo soube-se somente que o húmus era uma substância marrom escura, friável, mais ou menos rica em nitrogênio, cálcio e fósforo e que se formava de restos orgânicos sem, porém, apresentar a estrutura destes. Mais tarde descobriu-se que eram especialmente ligninas que davam origem ao húmus, por serem de decomposição difícil e por isso mais lenta, dependendo da ação de fungos e actinomicetos. Acumularam-se no solo.

Ligninas sempre são decompostas, no primeiro estágio, por fungos e actinomicetos, que são os únicos que conseguem romper os ciclos estruturais muito complexos. Estes fungos, como o Epicoccum nigrum, também produzem cor escura, típica dos fenóis e melaninas.

Em meio semi-aeróbico e decomposição continua por fungos. Em condições aeróbias e clima suficientemente quente, é continuada por bactérias. Estes são decompositores muito eficientes, não restando nada além de CO2, água e minerais. Por isso distingue-se entre “húmus de consumo” ou matéria orgânica facilmente decomponível e “húmus de reserva”, a matéria orgânica de difícil decomposição e portanto acumulação no solo.

Há uma diferença muito grande entre matéria orgânica decomponível e matéria orgânica humificada. O húmus é um produto de decomposição parcial com posterior síntese. Quando formado em solo com pH acima de 5,6, é uma substância agregadora de grumos. Quando é decomposto, decompõem-se as ligas orgânicas entre as partículas do solo e, portanto, a estrutura biológica decai por se desmancharem os agregados maiores. O solo torna-se amorfo. A perda de húmus é, portanto, a perda da bio estrutura do solo, e, com isso, a perda de grande parcela de sua produtividade.

A palha e qualquer matéria orgânica morta, mas ainda intacta, não tem efeito sobre a estrutura do solo. Somente durante a sua decomposição é que se formam substâncias agregantes para os grumos, e especialmente os ácidos poliurônicos, produzidos por Cytophagas, exercem efeito grande. Quanto mais intensa for a decomposição do material vegetal morto, tanto maior será seu efeito agregante sobre o solo. É por isso que estrume de curral curtido, bem como composto, não têm o mesmo efeito agregante que palha adicionada ao solo. Portanto, quanto maior a decomposição dos restos vegetais e quanto mais ativa a formação de substâncias intermediárias de decomposição, tanto maior o efeito sobre a estrutura do solo e tanto mais benéficos serão. A diferença fundamental entre húmus e restos orgânicos é que húmus já constitui um produto intermediário de decomposição, enquanto nos restos vegetais estes ainda devem ser produzidos.

Quando, graças à ação de bactérias, diminui a quantidade de matéria orgânica ainda não decomposta, o efeito sobre o solo é benéfico. Quando diminui a quantidade de matéria já humificada, o resto é maléfico. A diminuição do valor de carbono num solo não é capaz de informar sobre o efeito. E não é raro que se conclua:” diminuiu a matéria orgânica e aumentou a colheita, então a matéria orgânica não é necessária.” Mas sabe-se que tipo de matéria orgânica existia no solo? Não era a palha ou raízes que durante sua decomposição se produziam ácidos poliurônicos?

Se faltarem as bactérias na decomposição como ocorre nos solos nativos pastoris e florestais, especialmente em clima pouco quente e subúmido, então ocorre a acumulação de húmus em grande escala, como provam os famosos Chernozem do sul da Rússia. As substâncias chamadas de ácidos húmicos não são solúveis na água, mas de decomposição relativamente fácil. Porém, se estes secarem num clima intensamente frio, com temperaturas muito abaixo dos zero graus Celsius, então formam-se huminas, que são substâncias extremamente estáveis, uma vez que o processo é irreversível. Dessas huminas afirma-se que permanecem no solo durante milênios e que após 3000 anos ainda foram encontradas intactas no solo. Desta forma, contribuem eficazmente para a manutenção da estrutura do solo porque são quase indestrutíveis, apesar de que também se conseguiu destruir as terras pretas da Rússia através de uma agricultura irracional.

Nem podemos cogitar esta forma de húmus nos países tropicais e subtropicais, porque falta a condição básica: o frio intenso e seco.

Em solos agrícolas no clima tropical e subtropical, onde predominam bactérias aeróbias com sua atividade intensa, a formação de húmus é quase impossível. Com isso teríamos um dilema muito grande: o húmus acumulado em solo nativo tropical e subtropical, seja ele pastagem ou floresta, oscila, segundo a textura do solo e o clima tropical, entre 3 a 6%. Em 1 a 3 anos este húmus seria gasto pelo cultivo, ou melhor, pelas condições que reinam num solo cultivado. Como a perda de húmus significa a perda da produtividade do solo, isso significaria a necessidade de abandono do solo por oito a vinte anos para haver nova acumulação de húmus. É este o sistema de agricultura nômade praticado em todas as zonas tropicais. Porém, se desistirmos de produzir húmus e nos contentarmos em manter a estrutura do solo, que é o mais importante, então teríamos a possibilidade de recorrer somente a uma aplicação periódica da palha ao solo para fornecer material vegetal decomponível e conseguir a produção contínua de substâncias agregantes.

Resumindo: Húmus não se forma nas terras agrícolas tropicais e subtropicais por causa da “mobilização” de sua micro vida. A produção dirigida e periódica de substâncias agregantes é, portanto, o único meio de manter a produtividade destes solos. Em solos pastoris, e em menor escala, em solos florestais e subtropicais, acumula-se húmus. Nas pastagens, porém, somente há acumulação de húmus quando racionalmente manejadas sem as queimadas periódicas costumeiras. Em terras de cultura manejada em “não lavração” e com retorno de matéria orgânica, acumula-se húmus.

Ficou evidente que nem toda matéria orgânica é húmus e que nem todo húmus é igual, considerando-se, por enquanto, somente a influência do clima. Porém, a influência do lugar em que se forma é muito maior. Os fatores mais decisivos na formação do húmus são:

  1. A vegetação de cujos restos se forma;
  2. O cima reinante;
  3. A riqueza ou pobreza mineral do solo;
  4. O pH do solo;
  5. Os microrganismos ativos na decomposição;
  6. O manejo do solo pelo homem.

Glossário:

Existem cinco tipos diferentes de micróbios do solo: bactérias, actinomicetos, fungos, protozoários e nematoides. Cada um desses tipos de micróbios tem um trabalho diferente para aumentar a saúde do solo e das plantas.  

  • Bactérias:  São a força de trabalho crucial dos solos. Elas são o estágio final da decomposição dos nutrientes para liberá-los para a zona da raiz da planta. Na verdade, a Organização para Alimentação e Agricultura disse certa vez: “As bactérias podem muito bem ser as formas de vida mais valiosas do solo”.  
  • Actinomicetos: foram classificados como fungos, e agem de forma semelhante no solo. No entanto, alguns actinomicetos são predadores e prejudicam a planta, enquanto outros que vivem no solo podem agir como antibióticos para a planta.  
  • Fungos:  Como as bactérias, os fungos também vivem na zona de raiz e ajudam a tornar os nutrientes disponíveis para as plantas. Por exemplo, micorriza é um fungo que facilita a absorção de água e nutrientes pelas raízes e plantas para fornecer açúcares, aminoácidos e outros nutrientes.  
  • Protozoários  Os protozoários são micróbios maiores que adoram consumir e estar cercados por bactérias. De fato, os nutrientes que são ingeridos pelas bactérias são liberados quando os protozoários, por sua vez, comem as bactérias.  
  • Nematoides  Os nematoides são vermes microscópicos que vivem ao redor ou dentro da planta. Alguns deles são predadores, enquanto outros são benéficos, comendo nematoides patogênicos e secretando nutrientes para a planta.  

Dentro do mundo natural existe um complexo equilíbrio entre os micróbios do solo, conhecido como teia alimentar do solo. Plantas, animais e micróbios são todos instrumentos de uma orquestra; cada um desempenha um papel crucial na sinfonia natural da vida. Se mesmo um dos jogadores está fora de sintonia, toda a rede alimentar do solo sofre. No entanto, quando tudo está em ordem, os resultados são belos.