Cada planta nativa é um ecótipo, um produto do ambiente em que aparece completamente sincronizado com as condições físicas e químicas do solo, o clima, a insolação e as outras plantas. Existem plantas indicadoras isoladas ou também sociedades indicadoras de plantas. Mas as plantas nativas indicadoras, que aparecem espontaneamente, não são somente indicadoras mas ao mesmo tempo sanadoras.
Antigamente também as culturas eram ecótipos, completamente adaptados ao solo e ao clima do lugar. Por isso existiam tantas variedades. Para cada microambiente, outras. Assim, na China existiam 14.000 variedades de soja e na Indonésia mais de 10.000 variedades de arroz. Na Turquia se cultivavam milhares de variedades de linho ou na Etiópia de sorgo, e nos Andes 1.200 variedades de batatinhas. Ao lado da biodiversidade natural, existia também a biodiversidade cultural. Mas tudo desapareceu nos últimos 40 anos (Obs: O texto de Ana Primavesi foi escrito em 1999). Sobraram 6 variedades de soja e 7 de arroz, 1 de linho e 5 de sorgo e estes são jhíbridos, somente adaptados a altas dosagens de NPK e herbicidas muito tóxicos e não ao solo e ao clima.
O mato que aparece nas lavouras e que se pretende exterminar agora graças ao uso de plantas transgênicas, sempre indica alguma coida, seja deficiência ou excesso de algum nutriente, a compactação ou adensamento do solo, lajes subsuperficiais ou em maior profundidade, água estagnada ou solo muito ressecado, um pH ácido ou alcalino, pastejo ou ferrejo (corte para feno) da paisagem, etc. E quem sabe captar a mensagem do mato ou invasoras, sabe o que fazer para melhorar o manejo ou as condições do solo e da cultura.
Entre as plantas indicadoras existem também as “marginais” ou seja, entre duas situações diferentes, e que mostram nas suas folhas sinais de deficiência ou excesso e até toxidez de algum mineral, trazido pela poluição da chuva.
A leiterinha (porque sai um leite branco quando se corta uma folha) ou amendoim-bravo, (Euphorbia heterofila) que aparece especialmente em cultivos de soja, é uma planta que consegue mobilizar ainda molibdênio onde soja já não o consegue mais e que está se esgotando com a cultura. E como nenhuma planta consegue formar proteínas sem molibdênio, mas conserva seus aminoácidos, cada chuva pode lavá-los da folha, prejudicando a cultura e sua produção. Mesmo se na análise bromatológica se chama os aminoácidos de proteínas, eles não o são. São somente pedaços com os quais se constroem as proteínas. E como a leiterinha é um ecótipo, ela é de difícil combate. Porém, quando aparece em grande quantidade, ela enriquece o solo de tal maneira com molibdênio que perde sua razão de ser e desaparece, ou seja, ela indica a deficiência de molibdênio, e o agricultor pode adubar ou pulverizar sua lavoura com este nutriente aumentando sua produção. O molibdênio aumenta não somente o número de vagens por planta, mas igualmente o número de grãos por vagem.
Portanto, antes de matar uma invasora, tente captar sua mensagem. Ela o ajudará muito a recuperar o solo e aumentar a colheita.
Saiba mais sobre Plantas Indicadoras no livro: “ Algumas Plantas Indicadoras: como reconhecer os problemas de um solo”.
A Leiteira do livro é uma árvore com folhas parecidas com a do pessegueiro, que indica a mesma deficiência em molibdênio. Ana explica no livro que essa deficiência torna as plantas pobres em proteínas e que por isso, tornam-se vítimas de saúvas.