Ar é fundamental. Sem ele a raiz não explora o solo, não “bebe” água e nem libera a energia necessária ao seu metabolismo – para desespero da planta que, sem “comida”, fica raquítica. Os traços desse quadro são bem visíveis nos solos pobres do cerrado e do sertão nordestino. Em solos mais ricos mas compactados, o panorama pode mudar um pouco – a vegetação cresce razoavelmente, mas de qualquer forma, é sempre mal nutrida: as raízes não podem trabalhar: falta-lhes ar.
Como se chega a esse diagnóstico? Ora, sabe-se que a raiz absorve o oxigênio dissolvido na água. Pois bem: naquelas regiões, a água do solo é quente, em razão das elevadas temperaturas do solo nu. E quanto mais quente a água, menos oxigênio contém. Nessas condições, a raiz não absorve os minerais do solo, com os quais abastece a planta que, assim, passa fome. E não cresce. Em solos compactados, com lajes de superfície, a situação é ainda pior. Os nutrientes, acomodados em camadas mais profundas, são desperdiçados porque a raiz, impedida pela laje, não pode alcançá-los. É como ter precioso tesouro guardado em um cofre do qual se perdeu a chave.
Em solos planos, com arejamento deficiente, a água não infiltra nos macro poros, empoça ou desce em enxurrada se a inclinação do terrenos for acentuada, provocando a abertura de enormes voçorocas.
Em solos anaeróbios (sem oxigênio), compactados ou cujos poros estão preenchidos somente com água (os poros de entrada de água são os mesmos que permitem a passagem do ar) ou gás carbônico (resultante da decomposição de matéria orgânica), as plantas estão praticamente condenadas à morte: sem oxigênio, a temperatura do solo aumenta e elas têm de acelerar a respiração. Tal agonia reflete negativamente no metabolismo da raiz, que fica incapacitada de absorver nutrientes, entre os quais o fósforo, vital ao transporte de energia. Mesmo as raízes que necessitam de pouco oxigênio como o arroz, junco e capim-arroz, são prejudicadas por transformações químicas: sem ar, o manganês e o enxofre, por exemplo, tornam-se tóxicos. O pior é que, “sufocada”, a raiz excreta substâncias, como álcoois e ácidos orgânicos, que atraem uma micro vida parasitária e, portanto, nociva. Quem se deleita com essas condições adversas à planta são as pragas e as doenças, que fazem “a festa” nas folhas, caules e frutos, instalando, assim, o ciclo da miséria.
Mas um indício de arejamento insuficiente é a ausência de mais de três nutrientes, ao mesmo tempo, numa planta. No caso, o primeiro mineral a faltar é o potássio. Na sua ausência, os poros das folhas ficam semiabertos, mesmo com o maior calor.
Como dar um fim a essa situação aflitiva? Alguns apontam a adoção de práticas mecânicas que funcionariam como “balões de oxigênio”. Não é bem assim.
A aração, por exemplo, afrouxa o solo apenas temporariamente. Com uma ou duas chuvas a terra assenta novamente, ficando, em poucas semanas, tão dura quanto antes. Já a aração profunda, que traz os torrões à superfície, é desastrosa: os torrões se desmancham e encrostam com as chuvas por não oferecerem resistência alguma à ação dos pingos d’água. Seria mais eficiente e menos prejudicial utilizar um pé-de-pato (espécie de subsolador superficial) que rompe a terra à profundidade ideal, ou seja, até 20 cm, onde há intensa e benéfica micro vida. Mas essa operação resultará inútil se não houver enraizamento rápido da cultura plantada, o que depende de como ela está sendo tratada.
Diante do impasse, é melhor recorrer a subsoladores naturais como algumas espécies de plantas e minhocas. Na primeira hipótese, conhecem-se dois preciosos colaboradores: as leguminosas Crotalaria spectabiles, cujas raízes conseguem quebrar lajes superficiais, e o guandu (Cajanus cajan), exterminador de lajes profundas e muito duras. Já as minhocas podem agir no solo até 2 metros de profundidade, desde que encontrem condições favoráveis à sua vida; solos protegidos contra insolação, suficiente umidade e matéria orgânica e boas quantidades de cálcio e de fósforo (as minhocas não “trabalham” em solos sem cálcio). Esses bichinhos que causam repugnância em muita gente são hábeis em abrir pequenas galerias (poros) no solo, que melhoram o arejamento.
Outro fator que favorece a expansão do sistema radicular é a temperatura. Em solos muito quentes, a maioria das plantas têm dificuldade em absorver água. À partir de 320C, muitas delas já não o fazem mais. A 390C, a absorção é nenhuma. A necessidade de atentar para a temperatura do solo evidencia-se quando se acompanha, passo a passo, a ação dos agentes que contribuem para a exuberância das vegetações naturais.
Em solos tropicais, chuvas regulares e temperaturas amenas provocam o crescimento rápido e vigoroso das plantas, que produzem grandes quantidades de matéria orgânica, decompostas rapidamente graças à umidade, que é alta. A densa mata tropical transpira muito, refrescando o ar e constituindo imenso termostato, que mantém a temperatura por cima das árvores entre 220C e 280C. O ar, então, não aquece e sobe com pouca intensidade. Em consequência, as nuvens são “expulsas”, daí porque, na Amazônia, chove diariamente – entre 13 e 16 horas, quando o sol é mais quente.
Assim, clima e mata formam um ecossistema que produz o máximo de massa verde num mínimo de tempo. Para isso, contribuem três importantes fatores:
– a interceptação, pelo vapor d’água contido no ar, de 35% da luz solar, de forma que a mata não recebe todo o calor do sol tropical;
– a completa ausência de ventos;
– a proteção do solo contra a luz (ele recebe apenas 4 a 5% da luz solar) e contra o impacto das chuvas torrenciais graças a poderosos escudos: árvores, arbustos e ervas ou folhas caídas sobre o chão. Eis aí por que as raízes conseguem notável desempenho em solos de pouca fertilidade, como os da Amazônia: elas têm água em abundância e arejamento garantido.
Se alterarmos as condições climáticas desmatando e permitindo a entrada do vento; se eliminarmos o vapor d’água que intercepta a luz solar; se expusermos o solo diretamente aos rigores do sol e da chuva, a resposta das raízes é imediata e péssima: minguam.