Trabalhando no campo e medindo chuva – rotina de Ana Primavesi

Em sua fazenda ecológica em Itaí, Ana Primavesi fazia de tudo:  contratou dois trabalhadores rurais para o trabalho diário na fazenda, e chamava boias-frias nas épocas de plantio e colheita. Olhava a fazenda, calculava os gastos, fazia as compras, os pagamentos, a manutenção, planejava e supervisionava o plantio, a colheita das lavouras, providenciava a venda dos produtos, e ainda atendia muitas pessoas que a procuravam querendo conselhos. Fazia palestras, dava cursos e assistências técnicas, participava de simpósios, respondia às cartas que chegavam aos montes: da família na Áustria, dos filhos, dos cientistas amigos do mundo todo, dos amigos que lhe escreviam com dúvidas e conselhos, dos que escreviam simplesmente para aprender e muitas outras… e lia. Lia tudo o que lhe caísse nas mãos, as revistas que assinava, que lhe enviavam, informes, jornais, livros, trabalhos. Em Itaí, criou seu universo particular, regenerando-se junto à terra que cuidava, recompondo-se de dores, lembranças tristes, guerra, mortes, confrontos, saudades. Mas em Itaí também vivenciava o contato consigo mesma, seu tempo, seu silêncio e sua energia, edificando a si mesma junto àquele pedaço de chão. Nem tudo era tristeza. As adversidades a haviam fortalecido, um novo ciclo recomeçava, como no processo de decomposição e recomposição, dos minerais às moléculas orgânicas.

Ia ao campo pela manhã e à tarde. Era preciso acompanhar o andamento da fazenda. Mais de uma vez o pessoal plantou mudas com os saquinhos plásticos. Outra vez, o espaçamento entre as mudas não era o que ela havia determinado. “Mas por que estão plantados tão perto?” ela perguntou. Ana tinha pedido que a distância entre cada muda fosse de um metro. Percebendo que os empregados não sabiam calcular essa distância, ela pegou um galho nessa medida e ensinou: “coloque a ponta do galho ao lado da muda e deixa o galho cair, onde ele terminar, vocês plantam a outra muda”. Ao voltar, viu que estava tudo perto novamente. “Mas a distância está errada de novo!” no que um dos empregados explicou: “É que o galho quebrou!” Ana tinha que ter muita paciência para lidar com tudo isso.

Num caderno em que anotou suas atividades de 1996-2001, Ana registrava tudo que fazia e o que deveria fazer. Fechando cada mês, ela registrava quanto havia chovido em cada um. Escreveu, também, uma pequena orientação de como medir chuva:

1mm de chuva = 1 litro de água

1m2 de superfície = 10ml

Assim, um coletor de água com 16 cm de diâmetro na boca, tendo uma área de pi. r2 = 201,1 cm2 ((número pi = 3,14 multiplicado pela medida do raio elevada ao quadrado, ou seja, a fórmula da área de uma circunferência é igual a 201,1cm2).

Isso significa que esse coletor necessita coletar 20,1 ml de água para representar 1 mm de chuva. Ou seja, na prática, a área do coletor dividida por 10 para encontrar a quantidade de água em ml que representam 1 mm de chuva.