Prevenção de pestes e pragas pela melhor nutrição vegetal

Atualmente presume-se que sem máquinas pesadas e agroquímicos não é possível garantir alimentos para uma população mundial em rápido crescimento. A “Revolução Verde”, lançada sob o lema “Food for Peace” veio para os países do hemisfério sul e o Brasil adotou essa tecnologia “convencional”.

Agroquímicos, máquinas e vastas áreas plantadas e uma boa parte da população vive em miséria absoluta, faminta. A produtividade dos solos tropicais diminui, a erosão aumentou muito, causando inundações de proporções até então desconhecidas. Fontes e rios são poluídos e em parte desaparecem e a salinização e desertificação avançam, fora o desflorestamento indiscriminado que influi sobre o clima. Na África, onde avança o deserto do Saara, somente por métodos ecológicos se espera poder barrá-lo.

As variedades das culturas não são mais adaptadas aos solos e clima como antigamente, mas criados para suportar elevadas quantidades de adubos químicos e herbicidas de alta toxidez, inclusive variedades transgênicas como a soja resistente ao Round Up das quais ninguém ainda sabe o impacto sobre o meio ambiente e a saúde dos consumidores.

A tecnologia do hemisfério norte, de clima temperado, é inadequada para os solos tropicais. Em condições naturais, os solos tropicais produzem três vezes mais biomassa do que solos de clima temperado. Mas com a tecnologia convencional, as colheitas são decepcionantemente baixas.

Na agricultura brasileira existem duas tendências:

1- diminuir a aração e passar para o plantio direto;
2- diminuir gradativamente os defensivos químicos para poder exportar por preços mais compensadores.

Desde que a informática trabalha com sistemas, embora artificiais, a visão holística-sistêmica é cada vez mais comum, também na agricultura e na ecologia. Não se procura mais remover os sintomas mas corrigir causas. Não se procura mais matar pragas mas preveni-las. Portanto, procuram-se as causas. Pergunta-se: por que as pragas aumentam a cada ano? Faz 15 anos se conheciam 193 pragas nas lavouras brasileiras (Paschoal, 1982), atualmente ultrapassam 650. De onde elas aparecem?

Na visão temática-analítica, ainda em uso, o solo é um amontoado de fatores físicos, químicos e biológicos, isolados uns dos outros e imutáveis, portanto podem ser modificados para melhorá-los. Na realidade, o solo é um ecossistema muito complexo e delicado em constante modificação. Sistemas sempre são dinâmicos, compostos de ciclos intimamente interligados. Ciclos naturais percorrem numerosos estágios até chegar ao final e ao mesmo início, começando novamente. Da estabilidade dos ciclos depende a sustentabilidade da atividade rural.

O solo tropical é considerado pobre e lixiviado, precisando ser fertilizado para dar rendimentos lucrativos. Na realidade, o solo é um ecossistema e adaptado exatamente ao clima tropical e às necessidades fisiológicas das plantas. Portanto ele tem de ser pobre por unidade (em dm3) mas com um perfil profundo e bem agregado para permitir a exploração de um grande volume de solo pela raiz vegetal. Sabe-se que com os nutrientes distribuídos a um volume 4 vezes maior, a planta produz o dobro. Importante para o solo sadio é uma vida, ou biocenose ativa.

As plantas recebem água e nutrientes do solo, fornecendo em troca matéria orgânica morta e excreções radiculares que alimentam a vida do solo. esta, por sua vez, na decomposição, produz substâncias agregantes como ácidos poliurônicos, que permitem a formação de poros no solo, por onde entra ar e água. Mas estes ácidos poliurônicos também são o alimento principal de fixadores de nitrogênio livres, enriquecendo o solo com nitrogênio. Como a matéria orgânica é o alimento da maior parte da vida do solo, sua diversificação é importante. Em monoculturas se beneficiam somente algumas poucas espécies. Portanto, a rotação de culturas com 4 ou 5 espécies é importante para manter a vida diversificada e prevenir pragas e doenças. A vida do solo é benéfico ao solo e culturas.

Um solo sadio é:

1- bem agregado com grumos estáveis ao impacto da chuva, para garantir a porosidade superficial onde entra a água e o ar;

2- com uma camada porosa na superfície que não pode ser revolvida pela aração mas mantida na superfície, como na lavração mínima e PD (plantio direto)

3- a matéria orgânica que sobra da colheita como restolhos de palha tem de voltar ao solo e não podem ser queimadas;

4- durante o espaço de tempo em que os agregados são instáveis e a cultura ainda está no campo, o solo tem de ser protegido por uma camada de palha, como no PD ou por um plantio adensado, evitando igualmente superaquecimento (acima de 32 graus C)

5- para conservar a umidade e o gás carbônico que sai do solo, necessita-se de proteção contra o vento. Na “sombra do vento”, ou seja, onde o vento não varre livremente, as colheitas muitas vezes dobram e em casos extremos poder ser até cinco vezes maiores do que sem proteção.

Na visão holística, a rigor, na natureza não existem parasitas. Existe:

a) o ciclo da vida. Este ciclo depende da formação e decomposição da matéria orgânica;

b)a seleção de tudo que é vigoroso e a eliminação de tudo que é fraco, doente ou morto para evitar que a vida se degenere

c) uma cadeia alimentícia ou, se quiser, pirâmide alimentícia entre os seres vivos no solo onde o predador sempre vira presa de um ser mais desenvolvido. Daqui deriva o “inimigo natural” que, de fato somente é o controle de todos por todos, onde os mais fortes sobram para perpetuar a espécie e garantir a diversidade máxima da vida.

A planta é o único ser no mundo que transforma energia livre (a solar) para energia química em presença de gás carbônico, água e com a ajuda de minerais. É a matéria orgânica que serve de alimento para animais e homens. Os insetos e microrganismos reciclam toda matéria orgânica quando morta (ou de qualquer maneira imprestável para a vida), a energia livre, gás carbônico e água liberando os minerais. O ciclo da vida se fechou e pode iniciar-se novamente. A vida continua.

Formação e decomposição de matéria orgânica fazem parte da vida, sendo a eliminação de tudo que for morto, doente, debilitado ou fraco tão importante como a formação de matéria. Nada pode comprometer a vida ou ocupar seu espaço. Mas para que insetos e microrganismos não destruam plantas em pleno vigor, eles estão “programados” através de enzimas para determinadas estruturas químicas, ou seja, substâncias que não ocorrem em plantas saudáveis e adaptadas.

Saudável é uma planta que conseguiu formar todas as substâncias e que geneticamente for capacitada como proteínas, açúcares e ácidos graxos de elevado peso molecular, substâncias aromáticas, vitaminas, hormônios, fenois para sua defesa e outras. Se por alguma razão, por exemplo, os aminoácidos permanecerem livres sem formar proteínas, e os açúcares permanecerem com baixo peso molecular, a planta é doente. As substâncias semi-fabricadas acumulam-se na seiva. Assim, a natureza libera a planta para a sua eliminação. Insetos ou micróbios atacam.

Com os defensivos, tanto químicos, orgânicos ou biológicos, mata-se o parasita mas a planta continua doente, de muito baixo valor biológico. Uma planta dessas pode alimentar alguém mas nunca nutrir. Por enquanto, o ser humano insiste em comer o que a natureza condenou como imprestável para a vida plena, defendendo-a com tóxicos.

Para ser sadia a planta necessita de um solo sadio sem impedimento do desenvolvimento radicular, mas ela necessita também de:

1- nutrientes em equilíbrio no solo. NPK não enriquece o solo mas desequilibra os micronutrientes, esgotando-os.

2- suficiente água no solo para poder absorver os nutrientes. Isso depende de uma superfície porosa do solo, estável à ação cinética das chuvas.

3- oxigênio no solo, que depende da porosidade superficial para que não ocorra a redução dos nutrientes como:
SO3 para SH2
NO3 para NH2 e para N2, que facilmente se perde para o ar
Mn3 para Mn2 que é tóxico, etc.

4-uma temperatura do solo inferior a 32 Graus C (no algodão pode ser até 36 graus C). Isto exige uma estrutura grumosa que aquece menos que um solo compactado ou adensado e a proteção da superfície.

5- Um potencial radicular ativo, que em princípio é geneticamente fixado mas que depende da fotossíntese e do envio de grupos carboxílicos (COOH-) à raiz.

6- do pH do solo, da disponibilidade de nutrientes segundo a acidez e à presença ou ausência de compostos tóxicos como de alumínio ou manganês.

7- de suficiente cálcio no solo, que, independentemente do pH, é a base da absorção ativa dos íons.