Por que produto orgânico é menor?

É tão arraigada a ideia de que o produto orgânico é menor que muitas pessoas quando vão à feira e encontram frutas ou verduras pequenas, acreditam que sejam orgânicas e as compram. Nunca lhes passou a ideia de que poderiam ser refugo de produto convencional, o que normalmente são. E quando se vai ao supermercado e se olha a seção orgânica, dá até dó. Tomates pequenos e deformados, couve-flor que mede ¼ da convencional, cebolas que parecem miniaturas. Mas os preços são três, até nove vezes maiores do que os dos produtos convencionais. Paga-se o quê? O trabalho humano intenso e a garantia de que não contêm resíduos tóxicos.

Bem, garantir que não há resíduos tóxicos é difícil. Pode-se garantir que foram produzidos sem uso de agrotóxicos porque o solo ainda estar pode estar contaminado com clorados, que se conservam no solo por até 35 anos, além dos venenos que evaporam durante a pulverização dos campos convencionais  vizinhos (e que podem ser até 60% do total da área), subiram às nuvens e voltaram com as chuvas, bem como os que são trazidos pela deriva. O solo sempre é contaminado pelas chuvas, ou seja, pelos venenos que elas podem trazer. E os venenos são tantos que tudo está contaminado: os oceanos com baleias, peixes e camarões, as calotas de gelo polares e as geleiras andinas, os ursos-polares e os pinguins, as araras e os poços da mata atlântica, tudo. De modo que ninguém pode garantir que é produzido sem uso de agrotóxicos. E isso é muito pouco, porque os defensivos orgânicos também podem ser bastante tóxicos, com a calda sulfocálcica, a rotenona e outras. A possível vantagem que seria o maior valor biológico do produto, porém, não existe em cultivos que, de alguma maneira, tiveram que ser defendidos.

Os produtos orgânicos também trazem garantia de terem sido produzidos sem adubos químicos hidrossolúveis, mas com adubos de pouca solubilidade ou somente com composto. Os adubos pouco solúveis (como as rochas moídas) desequilibram menos os outros nutrientes do solo e possibilitam menor indução de doenças e pragas. Mas a grande vedete é o composto, que se acredita ser adubo químico em forma orgânica, ou seja, NPK orgânico. Outra decepção. Para fazer composto, compra-se todo o tipo de esterco que se pode conseguir, como de granjas de frangos de corte ou de gado de leite convencional, e toda a matéria orgânica à venda, como torta de filtro das usinas de álcool, bagaço de laranjas das esmagadoras que produzem suco, ou bagaço de bananas das fábricas de geleia, todos de cultivos convencionais. Não há dúvida de que não é químico em forma de sal. É orgânico, porque é oriundo de produtos vegetais ou animais. Mas eles podem conter tantos resíduos de agrotóxicos, de “promotores de crescimento”, de antibióticos, de vermífugos e de outros produtos químicos que as plantas nutridas com este composto, às vezes, contém bem mais substâncias tóxicas que produtos da agricultura convencional. E, ainda, resultam em produtos pequenos e feios.

Normalmente, a conta é a seguinte: “Com 40 t/ha de composto, acrescentei metade do NPK no meu cultivo que o vizinho convencional”. Certo? Não, errado!

Composto não é NPK em forma orgânica. Composto é matéria orgânica semidecomposta e, mesmo assim, é somente alimento para a micro-vida: fungos e bactérias do solo. A vida que se deve alimentar vive na camada superficial do solo. Mas como se imagina que seja NPK orgânico, enterra-se o composto até 35 ou 40 centímetros de profundidade, onde existem condições completamente anaeróbias. Nessas camadas, as bactérias que decompõem o composto, em lugar de gás carbônico (CO2), produzem metano (CH4), gás muito tóxico para as raízes. O enxofre que existia na matéria orgânica, em forma de SO3, perde seu oxigênio e se transforma em gás sulfídrico (SH2), que é muito tóxico para as raízes e as folhas. Aí as raízes fogem para a camada bem superficial do solo (até 4 centímetros). Por isso, as plantas estão famintas, pequenas e somente sobrevivem com muita irrigação, produzindo pouco e miseravelmente. Todos perguntam: “Como sei que enterrei minha matéria orgânica profundo demais? Não sou especialista, não posso adivinhar”.

Não é preciso adivinhar, somente cheirar o solo. Se o cheiro é de ovo podre ou de pântano, a matéria orgânica foi enterrada profunda demais. Sempre é melhor deixar a matéria orgânica na camada superficial, como a natureza ensina. Dessa forma, os produtos orgânicos vão ficar maiores e muito mais saborosos que os convencionais.