Por quês antes dos “como”

Por quês antes dos “como”.

Devemos sempre nos perguntar os “por quês” das coisas para se tentar evitar os problemas, pois se tivermos que passar para os “como” resolvê-los, a terra já estará estragada.

Não é ecológico combater somente a erosão. Tem de se evitar sua causa que é o escorrimento da água pluvial. Escorre porque a superfície do solo não é agregada, não apresentando poros onde a água possa entrar, expondo sua superfície limpa à chuva. Mesmo aguaceiros com 80 ou mais milímetros de chuva por hora não erodem se a superfície do solo for protegida por alguma matéria orgânica ou por plantas vivas e se os agregados do solo forem estáveis à água, garantindo os poros para ela entrar.

O combate à erosão não se faz somente por curvas de nível e microbacias mas especialmente por matéria orgânica que anima a vida do solo criando poros. O combate mecânico é muito oneroso e pouco seguro enquanto a prevenção ecológica é segura e barata. Assim, devemos sempre nos perguntar os “por quês” das coisas para se tentar evitar os problemas, pois se tivermos que passar para os “como” resolvê-los, a terra já estará estragada.

A destruição dos grumos do solo pode ocorrer:

– por pressão mecânica de máquinas agrícolas, quer se trate de rodas do trator ou da sola de trabalho do arado, enxada rotativa ou semelhante, especialmente quando o solo for trabalhado enquanto estiver com umidade elevada;

– compressão do ar nos micro poros dos agregados durante o reumedecimento de um solo seco, com elevado teor em argila. A argila umedecida expande-se comprimindo o ar nos micro poros, causando a “explosão” do grumo (puddling);

– força cinética da gota de chuva (splash), que é capaz de atirar partículas arrancadas até 1 a 2 metros de distância. O grumo despedaçado manifesta-se ou pelo turvamento da água, tanto da que escorre como da que se infiltra no chão, por carrear as partículas de argila ou pela areia branca que permanece na superfície do solo em todas as pequenas cavidades. Também pode se manifestar pela crosta superficial que forma logo após a primeira chuva ou pela laje adensada na sub superfície do solo, originada pelo entupimento dos poros pela argila carreada pela água;

– pela aração profunda e o abafamento dos grumos;

-pela falta de matéria orgânica e nutrientes.

A exposição do solo à chuva é tanto mais séria quanto mais profunda a terra for arada. Virando a terra, talvez mais agregada mas instável à água, à superfície, o encrostamento e o adensamento ocorre em menor tempo. Geralmente aprofunda-se a aração para eliminar a “laje adensada” ou simplesmente porque a máquina é suficientemente forte. Não há dúvida de que uma laje adensada deve ser quebrada.

( OBS: No filme “A vida do solo”, de Ana Primavesi, observamos no início todo o trabalho biológico na estruturação dos grumos. Eles vão sendo agregados pela ação do cálcio – no desenho, ele espeta esse elemento e vai acumulando-o em grumos primários (6:35min). A atividade biológica e a química do solo vão construindo agregados, que deixam o ar e a água penetrar, que permitem o “enxameamento” de íons. Aos 14:00 min, a aração derruba todo esse trabalho, e inicia-se a decadência do solo, que a partir dos 27:00min, vai se compactando, e as minhocas, mesmo com alimento em abundância, sofrem com a falta de ar. Quando isso acontece, elas se enrolam e dão-se um nó, outro indicador de solo compactado.)