É muito importante ver a natureza como uma teia alimentar. Uns comendo os outros e, se um único fator se modifica, muda, no mínimo, uns quinze outros fatores juntos.
Não podemos ver um como melhor que o outro. Temos sempre que ter a visão do todo. A natureza dá muita importância ao solo, enquanto que o homem simplesmente o trata de qualquer jeito e acha que está bom. Já o solo cultivado é muito diferente. Ele fica exposto, a chuva bate, o sol aquece, e logo em seguida, uma camada dura embaixo se forma e o espaço da raiz fica limitadíssimo.
O solo vivo é todo agregado. A água penetra com toda facilidade. São as bactérias que agregam o solo, o grande problema é que muita gente acha que pode ter ou não e não é bem assim. A bactéria era, no solo, a base para fazer o nosso planeta habitável. Foram elas que começaram a produzir o gás carbônico e o oxigênio. No fim, nosso planeta ficou habitável porque nosso solo era vivo. O solo morto é aquele que foi lavrado, e a terra fica toda moída mas não agregada porque a agregação é um processo biológico realizado por bactérias que precisam de comida.
Esta é a base para o entendimento do porquê de uma agricultura natural, ecológica.
A planta forma uma substância simples, a glicose, e vai, pouco a pouco, fazendo processos químicos que são assistidos por uma enzima. A enzima é ativada por um mineral e, no fim, forma proteína ou outra substância. Se no caminho estiver faltando um mineral para ativar a enzima, o processo já não ocorre mais e a substância vai se acumulando e circulando na planta e quando 80% da seiva é ocupada, o parasita ataca. Então ele não ataca simplesmente porque plantamos a soja, mas porque falta alguma coisa. Nesta fase, temos que descobrir o que é.
Cada deficiência mineral causa alguma doença. Falta boro, dá lagarta no milho. Falta magnésio, vem o besouro serrador. Falta o potássio, dá o pulgão. Falta manganês, dá bacteriose na aveia. O problema, sempre é decorrente de uma adubação mal feita.
O grande problema que enfrentamos é justamente criar plantas sadias. Aí entra a agricultura ecológica que não quer, simplesmente, pegar uma terra morta , colocar um pouco de composto em cima e achar que agora está tudo resolvido. Não, temos que mudar completamente a visão da agricultura.
Para vivificar o solo precisa, antes de tudo, de biodiversidade. Muitas plantas para poder ter vida diferente. De tudo um pouco e, quanto mais variedade, mais mobilização de nutrientes.
Todo mundo acha que, se não fizermos a agricultura convencional, vamos produzir menos. O negócio não é a terra muito pobre. É o mal plantar. Tentem fazer uma agricultura o mais natural possível, e não simplesmente pegar uma terra morta e colocar um composto errado. Temos que ter matéria orgânica na superfície, um sistema radicular muito grande e biodiversidade. Com isso, veremos que a agricultura ecológica produz no mínimo igual ou até mais do que a agricultura convencional. Fora isso, a agricultura comum é insustentável pois no máximo oito anos depois as colheitas vão diminuir a produção. Na ecológica, podem plantar cem anos e sempre vão conseguir sucesso. Aí está a sustentabilidade.
Nós não podemos mudar para a agricultura natural, somente. Nós temos que mudar porque é a única agricultura sustentável. Não é simplesmente trocar o adubo químico por composto. O caso é nutrir a biodiversidade do solo para ele mobilizar os nutrientes e manter a água que penetra.
Vamos deixar o pensamento de fatores isolados e pensar o conjunto. Cada fator de um sistema depende do outro. Pensem sempre que não são ecologias, não são fatores, são sistemas. Pensem no próprio sistema em que estão inseridos e vocês o verão mais facilmente.