O controle ecológico de pragas

O controle ecológico de pragas parte de um enfoque completamente diferente do combate químico ou biológico. Não procura matar a praga, que é considerada um sintoma da decadência geral do conjunto, mas procura não criá-la.

Nunca considera a praga um flagelo e que aparece simplesmente porque se plantou determinada cultura. Nem a vê como um fator isolado que surge para dificultar a vida do agricultor ou porque está faltando o “inimigo natural” que sumiu de maneira inexplicável.

Pestes e pragas são a consequência da destruição dos equilíbrios naturais e exigem dois fatores para poder prejudicar a cultura:

1. O agente parasita necessita ser favorecido pelas técnicas agrícolas, podendo-se multiplicar descontroladamente por falta de outros seres vivos, capazes de sobreviver neste ambiente.

2. A planta necessita ser suscetível, favorecendo o parasita. Todos os fatores desfavoráveis à formação de novo citoplasma, proteínas, vitaminas, enzimas, açúcares, graxas, hormônios, substâncias aromáticas, fenóis e outros, e que provocam a acumulação de substâncias solúveis na seiva, como substâncias azotadas aminoácidos, açúcares simples etc., favorecem a nutrição e procriação de micro-organismos e insetos.

Também as plantas invasoras não aparecem porque suas sementes existiam no solo, mas porque encontram também condições favoráveis ao seu crescimento e reprodução. Muitas invasoras são plantas indicadoras, acusando lajes, encharcamento no subsolo, falta ou excesso de um nu- triente, ou são, simplesmente, o produto da monocultura, das quais a natureza lança mão para sanar os desequilíbrios causados.

Os parasitas não aparecem para prejudicar alguém, mas porque encontram condições favoráveis para sua alimentação, maturação e reprodução. Se estas condições não existirem, não atacarão as plantas de maneira a trazer danos econômicos.

Pode-se ter a certeza absoluta de que a natureza, sem a intervenção humana, estaria em perfeita harmonia. Cada fator se ajusta exatamente ao outro, sendo tudo comparável a um grande computador, no qual cada grão de quartzo, cada fiozinho, cada válvula ou transistor e cada parafuso tem seu papel, seu lugar e seu tamanho certo. E o computador somente funciona se até o menor detalhe es- tiver em perfeita ordem. E a menor modificação provoca um “defeito operacional”.

Todos os seres vivos são programados para sua vida neste conjunto, a que chamamos de biocenose. Ao lugar onde ocorre, chamamos de ecossistema. E esta programação inclui até os menores detalhes numa determinada ação. Por isso, a natureza é chamada de “irracional”, porque não possui um raciocínio que possa modificar alguma ação por conta própria. Nos animais superiores, esta atitude é chamada de instinto. Dos micro-organismos até os elefantes, todos agem segundo a programação.

A planta superior é programada para formar substâncias orgânicas a partir de gás carbônico, água e energia, essa tirada da luz, em presença de minerais. E a micro planta, os micro-organismos, são programados para decompor todas as substâncias orgânicas em gás carbônico, água e energia, liberada em forma de calor, liberando igualmente os minerais, que voltam a fazer parte do solo. É o ciclo vital do qual o ser humano participa.

Mas cada espécie leva seu programa consigo, no seu padrão genético, e cada variedade programa seu crescimento de acordo com os minerais disponíveis no momento da germinação. E esta programação é muito rígida e assemelha-se muito ao computador, que não pode executar nenhum “IF” ou “se alternativo” se não for programado para tal. Por isso, o trabalho com a natureza é relativamente fácil. Somente necessita-se saber para que um determinado fator foi programado.

Insetos, pequenos animais, bactérias e fungos se nutrem predominantemente de açúcar redutor, aminoácidos e outros produtos solúveis, de baixo peso molecular. Isso signi ca que dependem de um metabolismo moroso por parte da planta ou de matéria orgânica morta. São somente alguns poucos que conseguem quebrar estruturas mais complexas (peso molecular alto), mas nunca enquanto o ser vivo estiver em pleno vigor.

Chaboussou, para definir isso, criou a palavra “trofobiose”, ou seja, a vida em função de sua alimentação (“trofo” diz respeito à nutrição, “bio” é vida). Atualmente pululam insetos, ácaros, nematoides, parasitas, micoses, bacterioses e viroses e, por outro lado, assistimos à ineficiência surpreendente de herbicidas, fungicidas, acaricidas, inseticidas, bactericidas etc., que se tornam cada vez mais complexos, mais tóxicos e mais abrangentes. Enfrentamos uma tecnologia agrícola totalmente despreocupada, especialmente no que diz respeito a:

– adubação, com excesso de nitrogênio, desequilíbrio na aplicação de cálcio, potássio e magnésio, falta aguda de micronutrientes;

– mecanização excessiva, com máquinas cada vez mais pesadas e compactadoras de solo;

– matéria orgânica, com sua negligência quase que total, no aspecto de sua reposição em quantidade e qualidade; e

– agrotóxicos e seu uso arbitrário, impensado e irresponsável.

Alguém já perguntou como se ajusta tudo isso na programação da natureza? Um computador iria funcionar se modificássemos arbitrariamente algum componente?

O controle ecológico de pestes e pragas baseia-se:

1. no ecossistema nativo e nos fundamentos de seu funcionamento, de modo especial, quanto à ação do clima sobre o solo;

2. nos equilíbrios biológicos no solo, ou seja, a “pressão interespécie”;

3. na nutrição completa e equilibrada das plantas para lhes dar vigor e resistência ou mesmo tolerância.