Equilíbrios naturais

Todos os equilíbrios naturais são dinâmicos e portanto, cíclicos. Todos os ciclos interligam-se um ao outro interdependendo, influenciando-se mutuamente. Tudo é relativo, dependente dos outros ciclos e de seus componentes.

O mundo todo é relativo, não somente a energia atômica. Por exemplo, o nitrogênio, um íon, pode ter um, dois, três ou quatro valências negativas e até seis valências positivas, conforme o meio em que se encontra. Em um solo aeróbio, apresenta-se em forma de nitritos ou nitratos, em um anaeróbio em forma elementar, ou como amônia. Depende, pois, do lugar, do ambiente, das bactérias presentes e das plantas existentes, a forma na qual se apresenta e a quais processos foi submetido. Qual a sua forma verdadeira? Todas. E todas são relativas.

Existem muitos ciclos dentro dos grandes equilíbrios naturais. Por exemplo, o ciclo da água, do carbono, da vida, do vulcanismo, da fixação do nitrogênio, dos minerais nutritivos, das doenças vegetais…somente para falar de alguns.

Um dos ciclos mais prejudicados pela high-tech é este da água. Secam as fontes, os rios, os países, os continentes e a desertificação avança. Falta água potável. Não que chova menos, ao contrário. O planeta se aquece, a água dos oceanos evapora mais, formam-se mais nuvens graças ao “efeito estufa” e, como essas não podem permanecer eternamente no firmamento “navegando” para um congestionamento cada vez maior, chove. A chuva não depende somente do tamanho das nuvens, mas também da cobertura vegetal da terra. Onde existem florestas a chuva é mais frequente; onde estas foram derrubadas é mais rara e mais violenta. Existem épocas chuvosas alternando-se com épocas secas.

Apareceu uma vez um “ajudante de desenvolvimento” e me disse: “você está errada. A chuva ocorre não por causa da menor ascensão de ar quente devido à floresta, mas por causa da poeira do ar. “Mas de onde vem a poeira na região amazônica que tem o tamanho de toda a Europa? Naturalmente do deserto do Saara! Sabia que somente o vento poderia trazer esta poeira, mas acima da selva amazônica, ainda não tocada, não existe vento mas uma calmaria completa, a famosa Doldrum. Somente quando se derruba a mata o vento entra.” O orgulhoso “ajudante de desenvolvimento” retirou-se murmurando que tinha aprendido algo na faculdade sobre esse “negócio” de poeira. Com uma ilusão a menos ele foi embora e as chuvas continuaram a cair com mais frequência  nas regiões florestais, sem poeira do Saara.

Chuvas fortes, trombas d’água em regiões cultivadas, batendo no solo mantido limpo por herbicidas ou capinas mecânicas encrostam sua superfície, levam a argila dos grumos despedaçados para dentro do solo onde formam lajes duras e, finalmente, não podendo mais penetrar, causam a erosão. A água sulca os campos levando a terra, os adubos, o húmus e as plantas para os rios que se turvam, enchem, inundam, levando pontes, casas lavouras…Mas não penetrou mais no solo abastecendo os níveis subterrâneos de água. Secam as fontes, as cacimbas, os poços e não há mais água ou quase nada nos rios porque a água foi embora durante a chuva. Retificam-se os rios para escoá-la mais  rapidamente e causar menos estragos. Mas depois, esta água faz falta. Constroem-se açudes e represas para retê-la. Mas todas as represas do Nordeste estocam 1% da água escorrida enquanto 99% escorrem diretamente para o oceano. O rio Paraíba, antes navegável, não tem mais água quando não chove e o rio São Francisco, o Velho Chico, diminuiu sua vazão.

Antigamente lia-se nos livros de geografia: “rio é um fluxo de água permanente”. Agora não o é mais. Por isso o governo tomou suas providências. Não reflorestou, não melhorou a permeabilidade dos solos agrícolas, não instalou um uso do solo mais sustentável. Somente mudou a definição de rio nos livros de geografia. Agora consta: “rio é uma depressão no terreno onde corre água quando chove”.