A agricultura convencional tentou trabalhar sem matéria orgânica porque acreditava-se que o húmus era produtivo, já que acrescenta substâncias nutritivas ao solo. Posteriormente foi mostrado que a planta não se nutre de partículas orgânicas e sim de sais minerais, e assim parecia muito mais fácil e eficiente colocar minerais em forma de sais ao solo do que em forma de húmus. esta opinião gerou a fertilização “química”, que deixou cair em esquecimento a matéria orgânica, substância madre que formou o húmus.
Começou uma aração cada vez mais profunda para “mobilizar” o solo. Mobilizar o quê? Mobilizou-se a micro vida pela arejamento. Em outras palavras, “queimou-se”, ou seja, decompôs-se a matéria orgânica e em pouquíssimo tempo depois da aração formava-se sempre uma densa nuvem de gás carbônico sobre o campo que depois rumava à atmosfera. De certo, conseguiu-se romper as compactações e lajes ou “hard pan” pelo arado e com rolos destorroadores, até se pulverizou o solo. Mas máquina alguma conseguiu agregar o solo outra vez, isso é um processo químico-biológico…
Até 1960, quando as plantas invasoras eram eliminadas através da capina manual ou mecânica, ainda retornava-se alguma matéria orgânica ao solo. Porém, o controle dos “inços” ou ervas indesejadas utilizando herbicidas pré-emergentes e pós emergentes, praticamente impediu a formação de matéria orgânica, e os resíduos das colheitas – agora somente monoculturas – em sua maior parte são queimadas para eliminar pragas, como por exemplo no algodão, ou para possibilitar o trabalho de pequenas máquinas, por exemplo na cana de açúcar… Ou a palha é removida do campo, como alimento para o gado.
Em monoculturas de soja, a matéria orgânica produzida é rica em proteínas, portanto de rápida decomposição. Diante desta situação, os solos se compactaram mais ainda, instalaram-se alternadamente erosão e enchentes e depois a seca foi agravada pelo vento constante, que depois conseguiu entrar na paisagem depois do desflorestamento em grande escala.
Atribuiu-se a compactação ao peso das máquinas, cada vez maiores e mais pesadas, e em parte se desconfiou que era também efeito dos sais químicos usados como adubos. Se inventou o Plantio Direto, que inicialmente trabalhou com máquinas mais leves. Mas logo o peso das máquinas aumentou muito, muito mais do que de máquinas convencionais, e a camada grossa de “mulch” que parecia indispensável, ficou cada vez mais rala.
Os solos se compactaram cada vez mais, pela aração profunda, pela adubação química, pelas monoculturas e pelo tráfego imenso de máquinas pesadas. A falta de filtração de água se compensou por irrigação. Isso resolvia o problema para as culturas. Mas por pouco tempo, pois se a água não infiltra, não há como alimentar os cursos d’água. É a decadência.
Atualmente, ao lado dos fertilizantes químicos, fala-se de biomassa. Nem tanto pela matéria orgânica em si mas pelos efeitos que ela acrescenta ao solo. Frequentemente percebe-se a ideia de que algum nitrogênio é fornecido pela fixação simbiótica em raízes ou pela micorriza, sendo que a maior parte restante se origina da matéria orgânica. Tal pensamento está completamente equivocado pois a matéria orgânica recebeu seu nitrogênio de onde? Do solo, que a recebeu pela matéria orgânica. E a primeira matéria orgânica o recebeu de onde? Centenas de análises de matéria orgânica e sua quantidade de nitrogênio mostraram que não tem relação nenhuma com o N encontrado no solo. De onde ele veio? Não faz diferença se o solo receber palha de milho ou adubação verde de leguminosas. Ao contrário, o efeito da adubação verde se perderá após 3 semanas e o N lixiviado, se o solo não foi cultivado logo em seguida organicamente.
Então surgiu um outro problema:
Qual a quantidade de biomassa que se necessita para manter um solo produtivo? Ou será que os solos tropicais pobres e quentes não possuem capacidade produtiva? E surgem aqui 3 enigmas:
1- A mata amazônica, localizada 90% em solos arenosos extremamente pobres, produz em 18 anos a mesma biomassa que uma mata boreal, ou seja, em clima temperado do hemisfério Norte, produz em 100 anos. Por quê?
2- Um solo coberto com uma camada grossa (5 a 7 cm) de folhas pode ser menos quente e mais úmido, mas mesmo assim, as árvores podem ser atacadas por uma grande quantidade de doenças e parasitas, como ocorre no cacau. Então, mesmo muita biomassa não mantém a saúde vegetal. Por que?
3- Solos completamente decaídos, improdutivos, arruinados pela agricultura, esgotados em nutrientes, quando abandonados, são cobertos pela natureza com plantas nativas que mais tarde formam uma capoeira. E passados 8 a 12 anos estes solos quando roçados, não somente estão agregados e permeáveis, mas também outra vez ricos em nutrientes produzindo colheitas altas e saudáveis. Não se realizou calagem e mesmo assim o pH é corrigido para 5,6 a 5,8, o normal em solos tropicais. Não se adubou com macro e micronutrientes. Qual a origem do nitrogênio e dos micronutrientes? De onde eles vieram? Como se mobilizou o fósforo e o potássio?
Aqui todas as teorias de “reposição” de nutrientes exportados pelas culturas caem por terra.
Nesse ponto, há uma falha nos conhecimentos de matéria orgânica e biomassa. A matéria orgânica é alimento para a vida do solo. Quanto maior a biodiversidade de plantas em cima do solo, tanto maior a quantidade de espécies de micróbios presentes, ou seja, o solo somente é muito produtivo quando possui a máxima biodiversidade vegetal.