Combate Biológico da erosão acelerada PARTES I e II

Um dos problemas de maior importância em nosso século é o da erosão. Este fenômeno sempre se verificou nas terras agrícolas e pastoris quando maltratadas, e a história nos fala de muitos povos desaparecidos cujo perecimento foi devido aos prejuízos causados pela erosão. Mas agora, em nossa era, os danos causados pelo terrível mal estão atingindo grande vulto no globo e o perigo da fome atualmente está muito próximo.

Dos milhões de lavradores, fazendeiros e estancieiros que devem combater a erosão, só os mais progressistas recorrem ao simples combate mecânico, isto é, ao terraceamento, e poucos tem um conhecimento profundo sobre esse fenômeno e de suas verdadeiras causas. Portanto, uma vez que se conheçam as causas, tornar-se-á mais fácil para todos o combate deste mal.

Vastas e antigas regiões de cultura, cheias de prosperidade, são prejudicadas por deficiências minerais em seus solos, causadas pela lixiviação que afeta o vigor e a atividade de sua população. Em nosso clima subtropical e tropical, a erosão estraga as terras em prazo 4 vezes mais curto que nos climas moderados, devido a atividade do solo durante o ano todo. Em compensação, o nosso clima facilita a recuperação mais rápida dos solos do que o de outras regiões.

A agricultura prática exige imperiosamente o pleno respeito às leis da natureza, mas, muitíssimas vezes, essa circunstância não é levada em consideração. Notadamente no hemisfério sul-americano onde o homem teve oportunidade de descobrir incalculáveis extensões de solos fertilíssimos, a agricultura é considerada meramente como indústria de alimentos e com essa finalidade, o homem passa a inventar engenhosas e gigantescas máquinas que permitam extrair do solo, o mais rápido possível, colheitas enormes até que este esteja esgotado.

Mas o que é erosão acelerada?

Podemos distinguir duas espécies de erosão:

  1. Erosão geológica ou natural
  2. Erosão acelerada ou biológica 

A erosão geológica é um processo desenvolvido normalmente pelos agentes exodinâmicos, tendo por objetivo o nivelamento da superfície terrestre.

A erosão acelerada, também chamada anormal, é a erosão condicionada pela intervenção humana que causa o aceleramento da erosão nas camadas superficiais do solo, resultante da morte dos microrganismos do solo e consequente destruição da estrutura natural deste último. Ela ocorre nos solos cultivados, nas pastagens e florestas mal cuidadas, porém nunca é observada nas matas e estepes virgens.

Cumpre ainda distinguir ainda a erosão externa e a erosão interna.

A erosão externa, visível pela formação de voçorocas formadas pelas enxurradas, só se apresenta com um grau muito avançado de erosão interna. Na Europa, as montanhas do Carst, depois que seus matos foram derrubados, ficaram tão desnudas que se transformaram em rochedos nus, completamente isentos de vegetação. Este exemplo é tão sugestivo na história moderna da erosão que hoje o desaparecimento da cobertura de terra das montanhas é universalmente conhecido pelo termo descarstamento.

A erosão interna é muito mais perigosa. Não só porque deixa de ser reconhecida pelo leigo, mas porque conduz à completa improdutividade dos

Nossos solos, também em terrenos planos.


Ocorre:

– por processo físico sob a influência da água pluvial, após a destruição da bio estrutura tendo por consequência o carregamento, por lavagem, da fração argilosa para o subsolo;

-por processo químico, condicionando o esgotamento em bases das terras e sua acidificação ao afloração de sais e sua alcalinização.

– e por processo biológico, condicionando uma completa transformação da estrutura do solo, de sua vida e de sua cobertura vegetal. A erosão interna é responsável pela formação dos “hardpan”, dessas camadas compactas na superfície que dificultam a absorção dos adubos porque se opõem ao desenvolvimento radicular. São responsáveis pelo rápido ressequimento do solo e pelo aparecimento de frestas e gretas.

Por erosão interna do solo entendemos todos os processos degradativos do solo, tanto físicos como químicos e biológicos.

PARTE II

Pela monocultura o solo esgota-se quimicamente, sendo enriquecido, porém, de excreções radiculares unilaterais, o que cria uma micro vida uniforme em lugar da antiga diversidade. Em consequência disso, os agregados do solo perdem a sua estabilidade à ação da chuva e desfloculam-se.

Alterações químicas e biológicas, que provocaram a formação de camadas compactas e impermeáveis, nunca podem ser sanadas por métodos puramente mecânicos. O combate à erosão, às secas, enchentes e à pouca produtividade dos nossos solos deve ser feito não somente pela retenção e escoamento das águas mas pelo melhoramento da permeabilidade dos solos, pois se a água se infiltra em vez de escorrer, não pode levar solo nem nutrientes vale abaixo.

Toda a fertilidade de outrora foi destruída pela erosão interna, provocada inconscientemente pelo próprio homem. Enxurradas sulcam campos, estradas e os terrenos marginais. Os rios que outrora conduziam águas cristalinas estão turvos e vermelhos de terra erodida.

Não há controle de erosão externa sem impedir-se, em primeiro lugar, a erosão interna. O terraceamento poderá retardá-la sem, contudo, evitá-la. Todas as medidas preventivas puramente mecânicas nada mais fazem do que retardar por curto prazo o carregamento das terras pelas águas. Uma determinada porção de terra, hoje carregada para o primeiro terraço, será arrastada amanhã para o segundo e terceiro, e já depois de amanhã estará sendo arrastada pelas águas fluviais. Também o plantio em contorno é simples medida de retardamento, pois assim como as demais medidas mecânicas, não combate a erosão eficazmente.

Dois fatores são contra a infiltração da água pluvial:

1- a facilidade com que encrosta a superfície do solo pela desfloculação dos agregados;

2- a formação de compactação dos solos em sua camada superficial.

Exames biofísicos mostram que, geralmente, a partir de 25 a 30 cm começa o solo solto. Em solos agrícolas, esta camada compacta se situa, via de regra, entre 5 a 25 cm, e em solos pastoris, entre 3 a 10 e às vezes 20 cm.

Não há método mecânico que pudesse eliminar definitivamente estas camadas compactas porque o afrouxamento mecânico não pode restituir a estabilidade. Também estas camadas não podem ser eliminadas pela aração, e voltam sempre de novo, porque a CAUSA de seu aparecimento é a desagregação do solo. O solo afrouxado e destorroado mecanicamente assenta-se de novo com as primeiras chuvas e dentro de 6 semanas é compacto como antes da lavração. O problema é, pois, inteiramente biológico e consiste no trato desses seres microscópicos.

As bactérias heterótrofas e a mesofauna saprozoonta que mantém o nosso solo permeável necessitam:

  1. matéria orgânica como fonte de energia
  2. ar e água
  3. minerais nutritivos
  4. sombra, isto é, proteção contra a ação esterilizante do sol.

Na formação de um solo floculado e permeável, não interessam as bactérias autótrofas como as que oxidam metais ou nitrogênio, ou como as que reduzem nitratos, sulfatos, etc. Pouco interessa a meso fauna parasita e predatória, apesar de que são indispensáveis para o funcionamento equilibrado da vida do solo.

Para conseguir a floculação superficial do solo tornando-o estável à ação das chuvas, necessitamos antes de tudo matéria orgânica e cal. Estes dois fatores são a base de qualquer micro ou mesovida.

A matéria orgânica ácida não é poupada somente por fungos. Dizemos matéria orgânica e não húmus porque a formação deste não se dá em solos agrícolas tropicais com sua intensa micro vida e explosiva mineralização, porém mais do que qualquer outro solo, necessitam a sua vida aeróbia e heterótrofa.

O cal ainda é mais necessário nos pastos nativos onde a mesofauna calciófila deve incumbir-se da mistura da matéria orgânica superficialmente depositada, com o solo mineral. A matéria orgânica ácida permite a proliferação de fungos e a formação de uma camada esponjosa enturfada na superfície do solo, contribuindo para o encharcamento do mesmo.

A mesofauna distribui a matéria orgânica pré-digerida pelo solo, possibilitando, assim, o desenvolvimento de bactérias heterótrofas que promovem a bio estrutura do solo, especialmente em solos pastoris de magna importância.