Caldas, agrotóxicos. Inócuos?

Na agricultura orgânica tenta-se substituir pesticidas químicos muito tóxicos por pesticidas orgânicos, combater as pestes com inimigos naturais ou usar caldas como a calda bordalesa ou a calda sulfocálcica… O combate das pragas e pestes continua, embora sejam somente o sintoma de alguma causa.

Procura-se o “inimigo natural” em franca desconsideração ao fato de que na natureza não existem inimigos. Existem, sim, cadeias alimentares na quais todos se alimentam e servem de alimento, sendo que os seres de proteínas mais complexas se alimentam dos seres de proteínas mais simples.

Também a biodiversidade não faria muito sentido se todos os micróbios e insetos pudessem comer o que vem pelo caminho. Todos eles são programados por enzimas. E como possuem poucas enzimas, as bactérias somente uma única, fungos até quatro, insetos normalmente duas, eles podem somente comer a substância que sua enzima é capaz de digerir. Acrescentada meia molécula de oxigênio a uma estrutura química e determinada enzima já não pode mais agir sobre essa substância . Quer dizer, esta fica fora do alcance desta bactéria, do fungo ou do inseto.

Em monocultivos se oferecem aos organismos do solo sempre as mesmas substâncias que sempre nutrem os mesmos seres. Todos os outros morrem de fome porque suas enzimas não os podem utilizar. Portanto, quanto mais variada a vegetação, mais diversa a vida do solo. E como todos controlam a todos, não existe a possibilidade de uma espécie se multiplicar  demasiadamente, tornando-se, finalmente, praga quando as plantas do cultivo esgotaram determinados nutrientes. Esta falta, geralmente de micronutrientes, se agrava pela adubação unilateral de NPK. Exagera-se em três elementos, quando a planta precisa de 42 a 45 elementos nutritivos (na ARS/USDA nos EUA já se analisam 35 elementos nutritivos). E como o excesso de um elemento induz a deficiências relativas de outro, uma vez que todos elementos existem em proporções exatas, como:

Nitrogênio/Cobre = 1250/1

Fósforo/Zinco = 35/1

Ferro/Manganês = 3/2

E etc.,  o aumento de um nutriente automaticamente significa a deficiência de outro, salvo o solo ser muito rico ou haver um reabastecimento, através da rocha muito superficial (ambas hipóteses raras em solos tropicais).

Por causa da indução de uma deficiência, que por sua vez causa outra praga ou peste, existem os “calendários de pulverização” que numa “sábia” previsão sempre provocam outros parasitas. Por isso Chaboussou escreveu seu livro “Plantas Doentes pelo uso de Agrotóxicos”. Há o caso de uma cultura de citrus onde se parou de aplicar os agrotóxicos e depois de um ano sobravam somente 2 das iniciais onze pragas e doenças. Todas as outras foram provocadas pelos pesticidas. Vejamos, por exemplo, num cultivo de uva de mesa, onde se combatia Botritis com Maneb: este provocou a deficiência de cálcio, que permitiu o assentamento de Antracnose. Esta foi combatida com fosforados, que por sua vez causaram a deficiência de zinco, permitindo o aparecimento de uma broca de tronco. E tudo isso porque a deficiência de cobre e boro possibilitava a Botritis.

As caldas usadas na agricultura orgânica não escapam à regra, embora na fruticultura são utilizadas para pincelar ou pulverizar os troncos. Mas na Universidade de Viçosa se descobriu que a partir do tronco a distribuição do agrotóxico é melhor, sendo todas as folhas alcançadas, enquanto numa aplicação foliar, muitas folhas não são atingidas…

A cada “supermagro” não é um defensivo mas um adubo foliar apresentando muitos micronutrientes, não importando se foram adicionados de forma química ou natural (pó de basalto) ou em forma orgânica, como em restos de peixes, farinha de sangue, farinha de osso, extrato de ervas nativas, etc. Mesmo não sendo defensivo, e não importando se é permitido ou não pelas normas de produção orgânica, sempre apresenta o perigo de causar outras pestes e doenças.

Assim, por exemplo, a deficiência de cobre equivale a um excesso de nitrogênio. Embora seja somente induzido, pode ser a causa de várias doenças fúngicas como de Pseudomonas em fumo, Erwinia em batatinha, Pernospera em alface e videira, Septória trigo, Alternaria em tomate e fumo. Vercillium em tomate e algodão, Brotritis em videiras e moranguinhos e Puccinia em cereais e feijão.

O problema não é o fungo ou inseto que se precisa combater mas a deficiência de algum elemento nutritivo que impede a formação de uma substância na planta.

Somente substâncias semi-acabadas podem ser atacadas por parasitas, como por ex. aminoácidos, mas nunca proteínas; nem as saúvas cortam folhas com proteínas formadas…Portanto o problema não é resolvido matando-se o parasita mas nutrindo-se melhor a planta. Como mostram as fotografias Kirlian, plantas tratadas com defensivos, tanto faz se forem químicos ou orgânicos, permanecem doentes. Somente são limpas e sem parasita…Mas elas fornecem alimentos deficientes, com baixo valor biológico, que não conseguem manter a saúde dos consumidores.