Antigamente doenças nas culturas eram raras. Somente quando o tempo era muito desfavorável deu ferrugem no trigo. As culturas eram bem nutridas e os solos cuidados. Disso dependia a produção.
Os problemas começaram nos vinhedos. Hectares e hectares de terra somente plantados com videiras. Aí começaram a usar calda cúprica, a “calda bordalesa”, descoberta por viticultores na região de Bordeaux, na França. Depois começaram a usar uma calda com arsênico e cálcio e mais tarde juntaram ainda cobre.
Na medida em que as caldas ficaram mais tóxicas, pode se deduzir que as doenças nas parreiras ficaram mais resistentes. No fim do século passado já conseguiram intoxicar pessoas com estas uvas. Mas também nos pomares de maçã e laranja começavam a usar veneno. Sempre quando se plantam maiores áreas com uma única espécie aparecem problemas. Até o caju, silvestre na região amazônica e muito resistente, quando plantado em grandes pomares têm muitas pragas que o atacam.
No século passado, todos os defensivos eram minerais e até os herbicidas eram uma mistura muito tóxica de arsênico e chumbo. Mas nas hortas se preferia defensivos naturais como calda de fumo, de piretro ou de roteona. Mesmo assim, em 1919 nos EUA se baixava o “Food and Drug Acta”, uma lei que limitava a tolerância para resíduos tóxicos nos alimentos.
Veio a Segunda Guerra Mundial e com ela a procura por inseticidas para combater os piolhos-de-corpo que transmitiam uma espécie de tifo, mas também por causa de gases de combate.
Em 1874 um alemão tinha descoberto uma substância nova, mas que parecia de pouca utilidade porque o que eles procuravam nesta época eram remédios contra doenças, como a que controlava a doença do sono transmitida pela mosca Tse-Tse. Este alemão tinha trocado íons de hidrogênio por íons de cloro nos ciclos de benzeno, mas a nova substância não era o remédio que procurava. Em 1939, o suíçoo Paul Muller testava tudo que já foi criado em substâncias novas e descobriu o poderoso poder inseticida desta substância rejeitada. Foi descoberto o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloretano), Ele ganhou por isso o prêmio Nobel. Pulverizaram com este pó soldados prisioneiros e refugiados aparentemente sem nenhum dano aos homens, evitando assim epidemias de tifo. Foi um enorme alívio!
Logo os plantadores de algodão se interessavam por este DDT e arrasavam com a lagarta rosada. E o avanço triunfal de DDT pela agricultura norte americana não conhecia barreiras. Acreditava-se piamente que o DDT somente atacava e matava insetos e que não afetava seres de sangue quente. Em 1949, a aviação governamental pulverizava vastas áreas agrícolas passando por cima de tudo: campos, aldeias, pastos com gado, lagos e rios. Neste ínterim, se tinham desenvolvido outros organoclorados, como se chamam essas substâncias, cujo núcleo é um carbono, como o Dieldrin, Aldrin, Endrin e outros, cada vez mais tóxicos.
Mas começaram a aparecer sintomas nunca vistos. Morriam as borboletas, como a maioria dos insetos, morriam pequenos animais, morriam caçadores com suas famílias inteiras. Apareciam sintomas estranhos nas populações que usavam o mesmo poço, morriam peixes, morriam bebês que recebiam suco de cenoura…Pouco a pouco se ligava estas ocorrências estranhas aos organoclorados. Pesquisavam as cenouras e verificaram que o Dieldrin pulverizado tinha desaparecido. Mas os bebês continuavam morrendo. E agora as análises mostravam que o Dieldrin tinha se transformado em Aldrin, substância mais tóxica ainda.
E os caçadores de perdizes revelaram-se vítimas de DDT que tinha penetrado nas minhocas. Estas foram comidas pelas perdizes, acumulando DDT em seus corpos. Os caçadores que agora comiam estas avesmorriam intoxicados. E as mulheres gordas que fizeram regime para emagrecer, de repente mostravam estranhos sintomas de intoxicação. O DDT acumulado em seus tecidos adiposos foi mobilizado, matando-as.
Agora começaram a “caçar” o DDT. Mas nos solos tinha sumido. Que alívio! Porém, agora aparecia na água, nos poços, nas fontes, nos rios. A água era tóxica. E muitos se lembravam do apocalipse de São João que predizia que nos últimos tempos os poços e fontes iriam ser venenosos. Ninguém podia imaginar como isto poderia acontecer. Mas já aconteceu!
Pouco a pouco, o medo se apoderou dos povos. O lucro, ainda subvencionado do agricultor, valia a saúde do povo inteiro? E quando a bióloga Rachel Carson em 1962 publicou seu livro “Silent Spring” (Primavera Silenciosa), a reação do povo era tão violenta que o presidente proibiu o DDT para os EUA, seguido por muitos países do Primeiro Mundo. Mas agora as fábricas vendiam seus estoques consideráveis para os países do Terceiro Mundo, como o Brasil. E pior ainda, não podiam proibir a produção de DDT e BHC os países tropicais porque o usavam rotineiramente para o combate do mosquito transmissor da malária.
Hoje se sabe que o DDT permanece durante 25 anos no solo e mesmo agricultores orgânicos têm seus alimentos produzidos contaminados por DDT, que não saiu ainda do solo. Os organoclorados continuam a ser usados nos herbicidas, e também são bastante resistentes no solo.