Agricultura orgânica em essência

Orgânico sempre tem de ser ecológico. Não existe orgânico que poderia ser anti-ecológico. Isto significa que em cada região e cada lugar a produção somente é orgânica quando trabalha com os ecossistemas locais que não podem ser ignorados. E como diz a palavra “sistema”, não se trata de fatores isolados mas de sistemas naturais com todos os fatores interligados e dependentes uns dos outros.

O solo tem de ser recuperado e mantido em estado agregado. Plantar em solos decaídos compactados e anaeróbios, mesmo se for abaixo de lonas plásticas e com irrigação de gotejamento não é orgânico simplesmente porque:

  1. em solo compactado a água da chuva não penetra mas escorre imediatamente formando enchentes e inundações. Mas os níveis subterrâneos de água permanecem vazios e os rios, agora sem afluentes, se tornam secos. Falta água doce. Sem água termina a vida em nosso Globo, formam-se desertos.
  2. As plantas possuem um sistema radicular pouco desenvolvido e portanto alcançam nos solos tropicais, pobres por natureza, poucos nutrientes, sendo malnutridas, o que as torna doentes e portanto são parasitadas por microrganismos e insetos. A planta sempre já está doente quando os parasitas atacam.
  3. Os nutrientes em boa parte estão “reduzidos” (perderam seu oxigênio trocando o “O” por “H”) e portanto não nutrem mais , mas se tornam tóxicos como:

SO3 >SH2 ;   CO2 > CH4 ;   Mn3>Mn2 ;   Fe3 >Fe2 , ou são perdidos para o ar como nitrogênio que se transformou de NO3 >N2.

Os produtos somente podem ser considerados como orgânicos quando possuem alto valor biológico. Valor biológico quer dizer que a planta conseguiu formar TODAS as substâncias a que geneticamente é capacitada. Isso significa que a planta tinha de dispor de todos os minerais necessários para ativar as enzimas catalisadoras de seus processos químicos. Neste caso, não é atacada por pragas e doenças – que sempre são o sintoma da não formação de alguma substância vegetal. Quando pragas e doenças têm de ser combatidas, a planta está doente porque o solo está doente e o produto possui valor biológico baixo. Não é melhor do que o produto convencional. Mesmo o combate com substâncias menos tóxicas (como caldo sulfocálcico) ou até com inimigos naturais (como Metarrhiza, Bacillus thuringiensis ou joaninhas) não eleva o valor biológico mas somente baixa o teor em resíduos tóxicos.

Os cultivos têm de ser protegidos do vento permanente que leva a umidade, torna a irrigação indispensável e conduz à desertificação. O vento pode levar o equivalente a 750mm/ano de chuva e baixa a produção da metade a um terço do normal.  A agricultura orgânica não implica com o meio ambiente, ela é beneficiada por ele, que tem de ser recuperado quando se quer produzir bem. Todos os fatores que prejudicam o meio ambiente também prejudicam os solos e as culturas.

Agricultura orgânica não é necessariamente restrita a mini propriedades. Todos são capazes de manter a vida do solo pelo uso adequado de matéria orgânica, que nos trópicos não necessita, absolutamente, ser usada na forma de composto. Porém, a estatística mostra que em propriedades familiares se produz, por área, até 3 vezes mais do que em propriedades maiores, totalmente mecanizadas.

Orgânico tem de ser ecológico. Se é antiecológico, produz pouco, e com valor nutritivo baixo. Se é ecológico produz muito mais do que a agricultura convencional com sua tecnologia de clima temperado.

Exigem também do orgânico que seja socialmente justo. Mas não é justo quando se produz especialmente para a exportação, beneficiando uma elite estrangeira  enquanto o próprio povo sofre de fome.