O solo tropical é muito pobre em minerais em comparação com o solo de clima temperado, que possui de 30 a 50 vezes mais nutrientes. Em contrapartida, o solo tropical é rico em vida, possuindo de 10 a 20 vezes mais microrganismos, porém é ácido, com pH ao redor de 5,6, enquanto os solos europeus e americanos são neutros e rasos, e os tropicais são profundos.

Como os países de solos de clima temperado possuem solos ricos, conclui-se que os solos tropicais são desfavoráveis à produção e têm de ser equiparados aos solos de países temperados. Começa-se com a neutralização através da calagem, misturada profundamente ao solo e a adubação com NPK. E mesmo assim a produção agrícola é muito aquém da dos países do hemisfério norte.

Numa comparação mais profunda, descobre-se que muita coisa é diferente entre solos. E surge a pergunta: será que Deus fez tudo certo quando criou os solos de clima temperado e errou redondamente quando criou os solos dos trópicos? Então como se explica que a a floresta tropical produza 5,5 vezes mais biomassa que a boreal nos EUA ou Europa? Somente quando o homem põe sua mão nos solos tropicais eles perdem sua vegetação exuberante, nativa, cedendo-a a campos agrícolas modestos. Culpa-se então p manejo, as tecnologias importadas que instalaram nas universidades cátedras de “transferências de tecnologias” e que treinam os técnicos e docentes nos EUA. Porém, pouco adianta.

Fala-se de ecossistemas sem se dar conta de que não são um acúmulo de fatores isolados mas sistemas, com todos os seus fatores inter-relacionados, um dependendo e influindo sobre o outro e em cada modificação de um fator, modifica-se todos os outros. Como os ecossistemas tropicais são muito diferentes do clima temperado, é de supor que o solo tropical é exatamente o que as plantas de clima quente necessitam para produzir.

Se os solos tropicais fossem ricos em nutrientes, durante as horas quentes do sia as plantas perderiam água ao invés de absorve-la, segundo a lei da osmose. E isso ocorre de fato, como ocorre a “seca fisiológica” em que as plantas murcham em solos suficientemente úmidos quando receberam uma calagem elevada ou uma adubação pesada com NPK. Em nosso clima, a “fertilidade”, ou seja, a riqueza mineral, tem que ser substituída pela “vitalidade” do solo. E a vida deste solo depende da matéria orgânica que experimenta uma decomposição quase explosiva em nosso clima. Sabemos que nos trópicos, 80% dos nutrientes encontram-se na biomassa, enquanto que na Europa e EUA se encontram no solo. Mas através desse dado não se deve concluir que a biomassa é adubo em forma orgânica.

A biomassa deve nutrir a vida do solo que o agrega, permitindo a entrada de ar, água e a expansão das raízes. O “agregante” básico no trópico não é o cálcio como no hemisfério norte, mas o alumínio e o ferro, que em solos aeróbicos não aparecem em formas tóxicas.

Não se trata de enriquecer os solos tropicais com nutrientes para que produzam bem, mas de vivificá-los e possibilitar que as raízes se estendam o máximo possível. O que necessitamos nos trópicos não é a fertilização dos solos, mas o acesso das raízes a um grande volume de solo, o que depende da ausência de lajes, da presença de oxigênio no solo e da quantidade de boro suficiente para que as raízes sejam bem nutridas.

Ecológico é realizar o manejo adequado de nossos ecossistemas e não fazer sua equiparação a sistemas estrangeiros. Deus nos privilegiou com uma natureza extremamente produtiva. Mas somente agora estamos procurando, pouco a pouco, uma tecnologia acertada para os nossos solos e climas. Somente com grande biodiversidade os campos produzirão semelhante às matas virgens, os solos não entrarão mais em decadência mas se recuperarão, a desertificação não avançará mais nas regiões semiáridas e o Brasil será o que sempre poderia ter sido, um país feliz, com abundância, saúde e paz.