Alimento não é quantidade, como se pensa geralmente, mas qualidade. O índio andino com sua sopinha de quinoa, seu copo de kiwiche e algumas raízes de oyuco certamente não é muito pior nutrido que o “rei soleil”, da França.
Costuma-se medir a alimentação em calorias, estabelecendo-se como mínimo entre 2.400/3.000 calorias e 4 mil e por dia, no caso de trabalho pesado. Nos trópicos essa medida não convence porque as “calorias” são fornecidas pelo sol, de modo que não é necessário que a comida aqueça o corpo. Mesmo na Europa não é muito correta, o que provam os alemães que, logo após a Segunda Guerra Mundial, recebiam uma ração diária de 800 calorias. Com isso viviam, trabalhavam e se divertiam. Eram magros mas tinham saúde invejável e doenças gastrointestinais, de fígado ou de coração eram desconhecidas.
Não é a quantidade de comida que nutre, mas a qualidade. A comida produzida pela atual tecnologia agrícola, biologicamente, é muito pobre, podendo alimentar bem as pessoas, mas mesmo assim permanecem subnutridas. A parte mais nutritiva dos cereais, como os farelos de trigo e arroz, retira-se para os frangos e porcos de engorda.
A pergunta principal quanto à alimentação é: por que o Hemisfério Norte produz alimentos em excesso tão grande que até paga seus agricultores para não plantarem, e por que o sul com todas suas massas famintas planta especialmente cash-crops (OBS: hoje falamos commodities) para exportação? Isso tudo cheira a colonialismo colonial. A segunda pergunta é: por que todos, em todo mundo, têm de comer alimentos idênticos, mesmo que esses tenham que ser transportados até 5 mil km. Assim, por exemplo, comem-se batatinhas em Manaus, oriundas do Rio Grande do Sul, em lugar de comer mandioca ou macaxeira como antes. O “turismo” alimentar encarece sobremaneira os produtos. Sem regionalização não há maneira de baratear os alimentos, mesmo se a agricultura produzisse por preços menores.