A queimada e seus efeitos sobre o solo

Esta prática já encontrava referência na época dos Vedas, 2 mil anos antes de Cristo. Denominavam-na “rab”. Já Vergilius, no Império Romano, advertiu que os benefícios de tal prática são poucos, quando se queimam somente restolhos. Quando se faz uma roçada com fogo, não há mais benefícios mas somente danos consideráveis à estrutura grumosa da terra.

A ação benéfica não é tanto pela aniquilação de protozoários e outras células animais e vegetais que se encontram nas camadas superiores da terra, mas pela ascensão da umidade que possibilita o plantio, ainda antes de começarem as chuvas. No Egito (e países vizinhos), esta prática de queimar os restolhos (e pastagens) é tão antiga como a história do país e chama-se “sheraqui”. Provocaram com a mesma o deserto do Saara.

Na agricultura subtropical, a prática de queimada tem elevada importância. Secando uma terra, seja pelo sol ou pelo fogo e reumedecendo-a, provoca-se uma ativação altamente benéfica da decomposição de húmus, o que resulta em maior produção de amoníaco e, consequentemente, em maior produção de nitratos, caso o solo for inoculado depois com um pouco de terra viva.

Quanto mais o solo secar, antes de ser reumedecido, tanto maior será depois a decomposição do húmus – caso existir húmus e caso forem acrescentando micróbios posteriormente. Na prática, para nós, temos várias consequências.

Na agricultura tropical não há húmus de reserva em terras de cultura e pastos. Existe, pois, somente uma reserva de húmus nas camadas mais superficiais dos pastos. A queima permanente dos pastos provoca, porém, a forçada ascensão da umidade das camadas mais profundas. A superfície encrostada ou pisada não permite a fácil penetração da água pluvial. Provocamos, pois, com a queimada, o gradativo secamento da terra que, depois de dezenas de anos de uso desta prática, não produz mais nada senão barba-de-bode (Aristida pallens) numa terra completamente estéril, endurecida. Notamos, então, que o efeito benéfico não ocorre caso faltar a posterior “inoculação” da terra com microrganismos, se esta não for arada e se não existir matéria orgânica.

Esta posterior inoculação existe na Índia e na China, países clássicos desta prática, onde os lavradores, depois de queimar os restolhos, adubam a terra com estrume de curral, cuidadosamente preparado. Onde faltar esta adubação com estrume, assistimos à mais pavorosa devastação das terras pelo fogo. Assim, por exemplo, os nossos índios, na América Central, devastaram, por completo, os seus milharais pela prática de colher-queimar-plantar (fazendo somente um furo na terra mediante uma vara para poder colocar as sementes). Bastaram sete conquistadores para destruir o seu império debilitado. O nosso nordeste brasileiro foi também arruinado pela mesma prática.

Recomendamos duas verdades:

  1. Nem tudo que é costume ou tradição é bom;
  2. Não se pode introduzir uma prática esquecendo-se a parte mais importante dela.

E esta parte mais importante na queima é, sem dúvida alguma, a posterior adubação com estrume de curral. Em realidade, é garantir o retorno de material orgânico ao solo, seja na forma de estrume, composto, adubo verde, material roçado de pousio ou material roçado de pastagem deixada em descanso, sem pastejar por algum tempo.

No Rio Grande do Sul, a queima dos arrozais é absolutamente benéfica, caso se continue com uma cultura a seco, bem estruturada, como, por exemplo, de batatinhas etc. Torna-se, porém, absolutamente maléfica caso seja feita sem este posterior cuidado.

Obs: Verificou-se recentemente que o estímulo das forrageiras com nutrientes, e calcário quando necessário, aplicados superficialmente, a fim de desenvolverem vigoroso sistema radicular, que rompe a terra compactada, em sistemas intensivos de manejo de pastagem, não é necessário arar a terra. Assim, a terra pode estar afrouxada pelas raízes três meses após adubação mineral intensiva da pastagem ou com 18 meses de pousio.