Proposta para intensificar a Agricultura Orgânica em forma de AGROECOLOGIA

(A Proposta que colocamos aqui hoje estava num dos disquetes de Ana Primavesi e que conseguimos recuperar. Em seu acervo, já em poder da BORA – Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho-, na Unicamp, há cartas de Ana para autoridades como o ex presidente Fernando Henrique e Lula. Ana lutava pela Agroecologia não só com argumentos científicos, mas com cartas e propostas como esta que divulgamos aqui).

Introdução:

• considerando que é previsto o fim do petróleo em algum momento, acabando com ele toda a mecanização, adubos nitrogenados, defensivos, herbicidas e todos os produtos em base de petróleo, deve-se procurar uma agricultura sustentável, capaz de nutrir também a população sem as benesses do petróleo.

• considerando que até 1950 a agricultura financiou a indústria;

• considerando que a agricultura química-mecânica está destruindo os solos provocando secas e enchentes e contribuindo com o avanço da desertificação;

• considerando que a desertificação aumenta anualmente por 10 milhões de hectares de solos agrícolas e pastoris;

• considerando que a agricultura orgânica na forma atual não satisfaz, por somente:

1- proteger o consumidor (certificação) mas não ajudando ao agricultor;

2- não considerar as condições de clima e solos tropicais mas somente dos temperados;

3- não se preocupar com o melhoramento e recuperação dos solos;

4- ser uma simples troca de produtos químicos por supostamente, orgânicos (mas geralmente não livres de agrotóxicos);

5- não melhorar o valor biológico do produto mas somente (ou às vezes) diminuir os resíduos tóxicos (que com o uso de composto feito com material de propriedades ou granjas convencionais e lixo orgânico urbano não acontece);

6- continuar combatendo pragas e doenças embora com substâncias menos tóxicas;

7- ser restrito a propriedades pequenas, especialmente por causa da insistência do uso de composto, que, quando feito com material como lixo urbano, possui mais substâncias tóxicas de que receberia uma cultura. A agricultura orgânica nos últimos 25 anos não aumentou de área ficando restrita – no mundo inteiro – a 0,8 até 2 % da área usada para atividades agropastoris. Isso significa que as desistências e as adesões se compensam;

8- a agricultura orgânica produzir especialmente para a exportação e não para a nutrição melhor do próprio povo.

Posto todos estes problemas, segue nossa proposta para conseguir barrar o avanço dos desertos, evitar erosão, enchentes e seca e impedir a decadência rápida dos solos que acarreta cada vez maior necessidade de uso de adubos, irrigação e agrotóxicos.

PROPOSTA:

Dividir a Agroecologia em três estágios:

  1. Recuperação dos solos pelo uso regular de matéria orgânica (rotação de culturas e biodiversidade, para garantir a agregação dos solos e com isso e melhor penetração de ar, água e raízes). É necessário em todos os solos onde existe erosão e em regiões onde há enchentes.
  • Caminhar para cultivos sadios que não necessitam de defensivos ou inimigos naturais de maneira alguma e que se consiga isso pelo uso dos micronutrientes deficientes (em parte indicados pelas invasoras) e pelo uso de variedades adaptadas ao solo e clima.
  • Com solos sadios e plantas sadias se pode almejar o cultivo sem fertilizantes químico trabalhando somente com a animação da vida do solo pela biodiversidade vegetal, (rotação de culturas, adubação verde, manejo do “mato”) para que a vida do solo mobilize os nutrientes.

Este estágio, provavelmente , exige o uso generalizado do Plantio Direto, chegando finalmente a uma agricultura completamente orgânica , como ocorre na selva amazônica, onde a mata mais frondosa do mundo cresce em solos paupérrimos, ou na capoeira, onde solos totalmente exaustos em nutrientes os ganham outra vez após alguns anos de vegetação nativa.

ORGANIZAÇÃO:

1- A fusão de todas entidades que trabalham com agricultura orgânica , ecológica ou com agrosilvicultura.

A Agroecologia produz mais que a agricultura convencional quando corretamente manejada.

2- A “agricultura familiar” não é esta onde toda família trabalha plantando monoculturas como fumo, abóbora, café conillon e outros mas esta que dá sustento à família ao lado de uma cultura de mercado.

3- Uma organização sadia de propriedades incluindo mini, médias e grandes propriedades, nas quais as grandes servem de reserva de terra e produzem para os grandes centros urbanos e para exportação.

  • treinamento intensivo dos extensionistas, agricultores e que pretendem ser assentados:

– preparo profundo ou mínimo do solo e P.D.

– para que serve matéria orgânica (não é adubo mas vivificador e condicionador do solo)

– a importância das variedades e o efeito dos híbridos e GM

– reconhecimento da condição do solo (grau de decadência e como recuperá-lo)

– interpretação da forma das raízes e seu significado em relação ao preparo do solo, à formação de lajes e compactações, a colocação de matéria orgânica, a irrigação (reconhecimento de épocas secas e água estagnada) e a deficiências minerais bem como erros na produção das mudas e os efeitos das monoculturas.

– no reconhecimento da “mensagem” das plantas invasoras (deficiências químicas e físicas) e controle de invasoras pela remoção das condições que as provocaram. p.ex. amendoim bravo ou leiterinha (Euphorbia heterophila) indicam a deficiência de Molibdênio.

– controle de parasitas pela remoção das deficiências que indicam: p.ex. Lagarto do cartucho no milho (Spodoptera frugiperda) indica a deficiência de boro, Elasmo (Elasmopalpus lignosellus) nas plantas recém-nascidas de milho e feijão indicam a deficiência de zinco na semente, Antrachnose (Colletotrichum glocoesporioides) em mamão indicam a deficiência de cálcio, etc.

– da alelopatia e sinergismo entre as plantas culturais (plantas que se gostam, p.ex. leguminosas e cereais, e as que se hostilizam p.ex. leguminosas e cebola, alho)

– proteção contra o vento.

– manutenção da umidade do solo.

– plantas regionais que aumentam a produção e baixam o custo no mercado (Fome Zero.

– no manejo e administração das propriedades agrícolas

talvez com escolas permanentes em cada região.

A colocação da matéria orgânica é fundamental Quando enterrada com arado, grade pesada, enxada rotativa ou mesmo enxada seu efeito sempre é negativo baixando radicalmente a colheita.