Normalmente acredita-se que orgânico é mais saudável e melhor que o convencional. Atualmente com a luta contra Sigatoka negra a agricultura orgânica parece a última esperança. Parece mesmo, porque onde se usa rotineiramente Bokashi de restos de bananas, cama-de-frango e serragem a Sigatoka está desaparecendo.
Mas neste bananicultor orgânico não parecia assim. Os bananeiros eram mais fracos, mais pálidos e eram excessivamente amarrados. Se os convencionais amarraram seus pés duas vezes, estes eram três vezes amarrados. E ainda trabalharam o dobro dos outros, porque mantinham inúmeras composteiras em enormes galpões, onde juntaram toda matéria orgânica que podiam arranjar. Uma coisa era certa: composto não faltava, nem dívidas para construir todos estes galpões. Mas o que faltava então?
Antes de tudo, e que chamava a atenção, era o nitrogênio. Como fizeram composto somente de algum capim, faltava nitrogênio, especialmente porque amontoado e sem adição de um fosfato cálcico não atraíram fixadores do ar. Se no mínimo tivessem misturadas leguminosas, mas a produção era grande demais e aí não dava. Também não dava para entender porque tinham de fazer composto. Não era clima tropical, era equatorial e como a irrigação para os bananais não faltava, a decomposição de qualquer material orgânico não teria apresentado nenhuma dificuldade, teria sido super rápida.
Andamos no bananal, que estava bem capinado. Não tinha mato nenhum. Uma monocultura por excelência. Pulamos inúmeras valetas de irrigação, esbarramos nos arames que seguravam os pés. Era um emaranhado difícil de atravessar ainda mais porque enquanto caminhávamos, contava religiosamente as folhas das bananeiras: 7, às vezes 6 em alguns casos somente 5… Meu Deus, alguma coisa estava profundamente errada. Apesar de todo “orgânico” tinham Sigatoka. Eles negaram, mas ninguém iria cortar as folhas das bananeiras sem necessidade, uma vez que 8 folhas era considerado o mínimo para produzir cachos bons. E quando apertava eles, afirmaram: a Sigatoka está braba.
Deixei arrancar um pé. Não era difícil. As raízes eram poucas e muito superficiais. Cresciam praticamente abaixo do composto que eles distribuíram. Não penetraram na terra. Não podia ser o excesso da água, porque bananeiros gostam de água. Cortamos um pé, embora estivesse verde claro, o corte quase imediatamente escureceu para um marrom cinzento. Num outro foi a mesma coisa. Aí dificultava tudo. Por causa das raízes curtas e superficiais, que tentaram ficar dentro do composto, acreditei primeiro que somente faltava boro, mas ali havia também uma deficiência de potássio violenta, quase total, caso contrário o corte iria ficar verde claro por muito tempo. E como potássio/boro deve estar numa proporção de 60 a 100/1 (60 a 100 partes de potássio para cada 1 de boro) ,o problema aumentava. Se não há boro o potássio não faz efeito, mas se não há potássio o boro facilmente fica tóxico.
O que devíamos fazer?
O mais importante era que deixassem seu mato crescer. O mato enraíza o solo, ajuda a mobilizar nutrientes, cria uma biodiversidade boa. Mas antes de formar sementes, roça-o. Nada mais de capina nas entrelinhas. Às vezes crescem algumas leguminosas que crescem na sombra dos bananeiros e que poderiam implantar. E depois aduba-se com bórax, por enquanto 8 a 10 kg/ha para ajudar as raízes a crescer. Aí não ficam mais dentro do composto e não precisam amarrar tanto as bananeiras. Também não vejo necessidade de compostar. Usem a matéria orgânica para um mulch bem grosso ao redor dos pés. Ela se decompõe em pouco tempo.
E o potássio?
Se tiver bastante cinza, seria ideal. Se não tiver, até equilibrar seus solos vão ter de usar potássio químico. Se encontram sulfato de potássio, tudo bem, se somente encontram cloreto de potássio, empurram sua agricultura orgânica um pouco mais para diante. Quando os solos estão equilibrados, não vão precisar mais de potássio químico. Mas por enquanto …
Parecia cair uma pedra bastante grande do coração do dono. Então composto sozinho não resolve? Não. Especialmente quando é todo deficiente. E no trópico matéria orgânica pura e simples é mais vantajosa. Solo sadio não tem deficiências minerais. Mas tem de fazer tudo para que se torne sadio. E para isso serve a biodiversidade, e não somente o composto de um capim. E quando as bananeiras estão boas e com saúde, dificilmente vão ter de amarrá-las.
Ana Primavesi