… “Mas, um dia, vieram os tratores. Os motores roncavam e expulsavam um arzinho quente e malcheiroso pelas chaminés, e, quando faziam algum esforço, soltavam uma fumaça densa e preta. Os engates dos hidráulicos baixavam os arados com seus discos enormes, brilhando na luz da aurora, que cortavam a terra profundamente. Os tratores potentes puxavam calmamente os arados, revolvendo a terra até 40 cm de profundidade. Quebravam a laje e viravam torrões enormes à superfície.
A terra gritou:
– Não, não podem fazer isso!
Mas os discos riam:
– Claro que podemos. Quem é que vai nos proibir?
– Mas não podem virar a minha pele porosa para dentro e minhas tripas para fora.
– Não se preocupe. Depois, passam o rolo destorroador e você vai ficar mansinha e lisinha que é uma beleza – sibilaram os discos.
A terra ficou desesperada:
– Não me preocupo com a beleza, mas quem é que pode viver com as entranhas para fora? Vou morrer!”
(trechinho de “A terra e o arado”, conto que faz parte do livro “A Convenção dos Ventos – Agroecologia em contos”, de Ana Maria Primavesi)
“Embora o homem se sinta mais macho quando até sabe dançar valsa com seu trator no campo, a terra não gosta disso. Máquinas compactam horrivelmente a terra, especialmente quando esta é úmida. O maior problema na América do Norte e no Brasil é a compactação dos campos pelas máquinas.
Há que se planejar os trabalhos de modo a passar o mínimo possível com máquinas pelo campo, diminuindo as arações e gradeações.”