É certo que somos obrigados a cultivar a terra para tirar nosso sustento. E, para isso, temos que substituir o ecossistema natural por um cultural. Mas parece também, sem dúvida, que esse último deva aproximar-se ao máximo do primeiro para atingir produções compensadoras. É fato que o macro clima de uma região depende de variáveis (altitude, latitude) sobre as quais o homem não pode interferir. Mas, além desse macroclima existe um microclima, condicionado à existência de florestas e represas, presença de nebulosidade e poluição, ação dos ventos e, particularmente, ao solo e à sua cobertura vegetal. E é possível influir sobre ele, em geral, e sobre a temperatura do solo, em especial. Neste sentido, é importante saber que se pode avaliar a temperatura de um solo em função:
- De sua cor. Solos escuros são mais quentes.
- De sua umidade. Embora solos úmidos sejam também escuros, pela menor reflexão da luz, a água refrigera-os, tornando-os mais frescos.
- De sua porosidade. Solos porosos, onde existem almofadas de ar entre as partículas minerais, esquentam menos do que solos compactados – além do que são sempre mais úmidos.
Se o solo é revestido por vegetação fechada ou cobertura morta, a insolação e a temperatura são menores, com melhor conservação de água. Vale esclarecer que solos agrícolas tratados sob tecnologia convencional, em regiões com temperatura média de 20 a 28 graus, aquecem-se até 30 graus – e a temperatura que a raiz necessita para a produção ótima é de 25 graus.
Proteger o solo contra insolação é, portanto, recurso importante para garantir safras generosas. Prova disso é que agricultores de Paranavaí (PR) costumam forrar a base de seus cafeeiros com capim-gordura, seco, e com isso, conseguem colheitas fartas, bem acima da média da região, que é de 40 sacas de café por alqueire. Alguém poderá admirar-se com o resultado, porque os cafeeiros apreciam a insolação. Suas raízes, contudo, dão-se muito bem em solo sombreado, com temperatura ao redor de 25 graus.
Outra maneira de preservar e recuperar plantações de café, chá, cacau, bem como cultivos anuais (milho, algodão, feijão, etc.) é plantar em espaçamentos menores do que de costume. Foi o que constataram, acidentalmente, plantadores de chá do Vale do Ribeira, cujas lavouras pareciam irrecuperáveis. Um dos produtores, em desespero, resolveu intercalar pés novos de chá entre os velhos e decaídos. Para surpresa geral, quando os novos pés cresceram, os antigos se recuperaram. Conclusão: a causa da decadência da lavoura era o aquecimento excessivo do solo – e a cobertura criada pelos novos pés de chá resolveu o problema.
Já está demonstrado que a cada 3 graus abaixo dos 36 graus, até certos limites, a raiz consegue armazenar mais 2% de carboidrato. Dessa forma, com o sistema radicular sob temperatura mais branda, os pés esgotam menos, pois a raiz dispõe de mais reservas para fornecer à folha, tanto para a floração como para a rebrota.
Nas culturas de algodão, cenoura e milho, o espaçamento menor diminui o rendimento por pé, mas aumenta o volume por hectare.
No caso do café, o rendimento por pé também é reduzido, mas as plantas não “sofrem” tanto quanto se dispostas em espaçamento maior – de forma que a proteção do solo e o menor desgaste dos pés garantem colheitas maiores e sem as falhas de cada dois anos. Pode-se imaginar que o efeito do prejuízo mútuo entre as raízes, que ocorre nas monoculturas, se intensifica em espaçamento menor. Isso não é verdade: como a temperatura do solo é amena, o benefício que isso traz à raiz é muito mais pronunciado do que o malefício causado por raízes congêneres, próximas umas das outras.
Efeito semelhante ao do espaçamento menos é conseguido com o plantio direto, que consiste em semear sobre a cobertura morta, aproveitando-se como tal a palha deixada pela cultura anterior e que mantém a terra úmida e fresca. Pode-se usar também cobertura com plástico preto, especialmente em moranguinhos. O amis recomendável, porém, é a cobertura morta com casca de arroz, uma vez que o plástico dificulta a circulação do ar.
Na verdade, a cobertura morta é o mais interessante sistema de proteção do solo: diminui a acidez; aumenta a quantidade de nutrientes disponíveis, que são mobilizados, em parte, pelo trabalho da população microbiana; torna mais ativa a vida desses bichinhos e plantas, porque suaviza a temperatura, com a adição de matéria orgânica. Em miúdos, o bem-estar da raiz, em solos ricos, proporciona boas colheitas Em solos pobres, intensifica o efeito da adubação mineral.
Isso vale para todas as culturas que reagem ao adubo em plena exposição à luz solar, como o café ou o cacau, mas que somente produzem o máximo com o solo protegido contra a insolação.
Manter o solo limpo para evitar a concorrência de invasoras por luz, pela água e pelos nutrientes pode ser correto em clima temperado. Já em clima tropical as coisas são diferentes: a competição pela luz é desprezível, porque a temos em abundância; a briga pela água não existe em solos com mais de 20% de argila, nos quais a água se perde mais pela evaporação direta do solo aquecido que pela transpiração das plantas.
E concorrência pelos nutrientes pode ser manejada por meio de rotação de culturas e consorciações adequadas.