Resgate – Memória YOSHIO TSUZUKI

Há dois anos perdíamos nosso querido amigo, professor, exemplo de humildade e de força, seu Yoshio Tsuzuki. Apesar da saudade, queremos lembrar desse engenheiro agrônomo com o sorriso que sua foto com sua grande amiga Primavesi expressa.

Seu Tsuzuki não é tão conhecido como Ana, talvez porque tenha se dedicado a pesquisas no campo e não as publicou, infelizmente. Porém, era ele que ministrava os cursos práticos de agricultura orgânica com Primavesi. Teve uma trajetória de vida marcada por uma grande guinada. Era o campeão de vendas de agrotóxicos de uma grande empresa, e quando percebeu que quanto mais veneno se colocava, mais pragas apareciam, parou tudo. Deixou de ganhar muito dinheiro por isso, mas nunca se arrependeu. Pelo contrário. Foi estudar, pesquisar. (O relato está filmado e publicado nesta página:)

YOSHIO TSUZUKIHoje perdemos seu Yoshio Tsuzuki.Ao lado de Ana Maria Primavesi, nosso querido Tsuzuki ensinava, na prática, a lidar com a terra. Que sensação boa saber que sua história, parte dela, estará eternizada na biografia da dra Ana. Que tristeza pensar que nunca mais ouviremos seu riso doce e suas explicações didáticas e maravilhosas sobre a vida.Seu Tsuzuki, eu te amo.(abaixo, o capítulo da biografia dedicado ao querido Yoshio Tsuzuki.)Sincronicidade Yoshio Tsuzuki nasceu no Japão, em 1929. Formou-se em agronomia e veio para o Brasil, em 1953. Trabalhou na Cooperativa Agrícola de Cotia, mas o que ganhava com a venda dos produtos era pouco, não dava para viver. Teve uma trajetória profissional muito semelhante à de Lutzenberger – trabalhou na Bayer de 1959 a 1963, vendendo agrotóxicos, e depois mudou de opinião. Tsuzuki era o campeão de vendas da companhia. Das 9 mil toneladas produzidas, um terço, ou 3 mil toneladas, eram vendidas por ele. Cita o DDT, o BHC – hoje produzidos no Brasil para agricultura – e o Parathion como alguns dos produtos que receitava. Trabalhava com metas a cumprir, e a receita dependia da cota que deveria ser vendida, não do que realmente era preciso ser usado. Quanto maior a venda, maior era o desconto para quem comprava, um negócio que gerava muito dinheiro. “Quem fazia tudo direitinho e não precisava usar tanto veneno, mas só um pouquinho, acabava comprando e usando sempre a mais para bater a meta de vendas e obter descontos” – ele conta. Com o tempo, Tsuzuki percebeu que os produtos que vendia não eram suficientes para acabar com as pragas, que ressurgiam incessantemente. Como agrônomo, sabia o que receitar, mas como funcionário de uma empresa privada, não podia prestigiar a concorrência. “Eu queria fazer receita juntando o melhor produto de cada fabricante”, fala com seu sotaque japonês. Com o resultado das vendas ganhou muito dinheiro, o que o possibilitou pedir demissão da empresa e ganhar o direito de abrir onze revendas de agrotóxicos, entre 1963 e 1967. Nesse último ano, tinha fechado quatro lojas, mas mesmo com as sete restantes observava o aumento da resistência das pragas e doenças, e aquilo o intrigava. Em 1968, apareceu a ferrugem do café e o governo obrigou os agricultores a usar cobre na plantação. “Vendi muito. Mas naquele tempo eu já sentia, percebia, que o agrotóxico não ia combater até o final as doenças e pragas, porque andando no campo a gente via cada vez mais insetos resistentes aos agrotóxicos. O acaricida não matava mais os ácaros e várias pragas que eu não conhecia apareciam. Muitas doenças não se curavam mais com fungicidas. E aí eu pensei que aquilo estava errado, que eu estava há muitos anos errado, vendendo agrotóxicos. Então, em um ano, liquidei todas as firmas e comecei a minha segunda vida”. Tsuzuki se calou por um momento. Sentado sob uma árvore na mesma chácara de Cotia que, mais tarde, sediaria a reunião de fundação da AAO (Associação de Agricultura Orgânica), só se ouvia o balançar das folhas. Ele continuou, voz firme e um sorriso de quem fez a coisa certa: “Foi Deus que me fez abandonar aquele negócio de vender agrotóxico. Nasceu da minha cabeça, eu pensava, não adianta continuar a venda, isso é um aviso de Deus, não sei como explicar direito. Também não aconteceu nada para eu tomar essa decisão, como morrer alguém envenenado ou um acidente. Eram leis da natureza que a gente estava contrariando, então era melhor abandonar, escapar.” “Outro motivo que eu tinha era que minha saúde não era boa naquele tempo. Como eu sabia que as hortaliças eram cultivadas com os venenos, eu não as comia. Nem hortaliças, nem frutas, nem verduras. Eu sentia muito cansaço nas pernas, muita fraqueza. Fui ao médico e ele me disse que meu sangue era ácido por falta de minerais e vitaminas, e que eu tinha que comer verduras, frutas, legumes. Mas onde eu ia comprar verduras sadias, sem agrotóxico? Não tinha.” Em 1970, ele fechou todas as revendas e a que restou não vendia mais agrotóxicos, e sim roçadeiras motorizadas. “Por isso que eu digo – reitera – que minha vida é dividida em duas partes: até 1970, cheia de agrotóxicos, ganhando bastante dinheiro. Depois de 1971, 1972, sem agrotóxico, nenhum grama de agrotóxico.”Dois anos depois, Tsuzuki comprou a chácara em Cotia, no bairro do Tijuco Preto, e ali passou a pesquisar a agricultura orgânica. Em quatro anos já tinha 2,5 hectares de plantio de hortaliças e três mil galinhas, que forneciam a cama como adubo. Sua forma de criá-las era diferente do que se fazia em granjas convencionais. O telhado possuía abertura para a entrada do sol e para facilitar a circulação do ar, e era de alumínio, que se aquece facilmente e provoca a convecção do ar, que aquecido muito próximo ao forro, força uma circulação maior. Foi a primeira construção desse tipo no Brasil. Até as calhas eram planejadas: captavam a água das chuvas, que servia para as galinhas beberem. O sol provoca o endurecimento das cascas dos ovos, favorecendo a transformação dos elementos. “A sílica se transforma em cálcio, segundo afirmam os macrobióticos, e por isso dávamos a elas uma pedra. que não tinha cálcio, mas sílica.” Tsuzuki baseava-se no método Yamaguishi: “Promover a harmonia entre a natureza e a ação humana consciente, isto é, entre o céu, a terra e o homem, e proporcionar à humanidade a sociedade confortável e estável repleta de riqueza material, saúde e amor fraterno.” Tsuzuki aprendeu como trabalhar com a enxada, a preparar o solo com ferramentas, que ele não sabia manejar, mesmo sendo agrônomo. Também passou a se aprofundar no que Francis Chaboussou, autor de Plantas Doentes pelo Uso de Agrotóxicos, pesquisou. “Chaboussou descobriu, ao estudar cultivares resistentes às pragas, que estes possuíam uma quantidade extremamente baixa de aminoácidos livres. Na hipótese de que os aminoácidos pudessem ser o alimento preferido dos insetos, fez surgir nas amostras uma dose elevada de aminoácidos, e efetivamente a resistência foi perdida. É também descoberta sua que a superadubação provoca desequilíbrio metabólico que aumenta os danos causados por doenças e pragas. Chamou o estudo de Teoria da Trofobiose.”Com a produção que obteve na chácara, Tsuzuki não demorou a comprar dois veículos só para entregar as hortaliças, que vendia com o orgulho de tê-las produzido limpinhas, sem venenos, resultado de suas observações atentas. “O equilíbrio do solo sempre está mudando, nunca é estável. Esta é uma das leis da natureza mais importantes. Pensando globalmente, é preciso ter uma base e depois se ajustar, conversando com as plantas. As próprias plantas ensinam o que está faltando ou sobrando. São plantas indicadoras.”As lições não se esgotavam e o aprendizado se dava porque havia um lidar cotidiano com a terra, um olhar atento aos sinais e um dom. Tsuzuki tem o dom especial de observar e relacionar, um “jeito Primavesi” de lidar com a terra. Não lera o livro Manejo Ecológico dos Solos, nem tinha tido muito contato com Ana. Mas havia uma sintonia, uma coincidência significativa, algo não tão raro de acontecer. Santos Dumont e os irmãos Wright, sem que soubessem um do outro, pensaram no avião. Marie Curie perdera a autoria da descoberta da radioatividade do tório para Gerhard Carl Schmidt por três semanas. Tsuzuki não lera o livro de Primavesi, mas a sincronicidade aparece em seu relato: “No começo, aqui no sítio, tive dificuldades com algumas culturas, como repolho, couve-manteiga e brócolis, que praticamente se perderam nas três primeiras colheitas. Assim que brotavam, em dois ou três dias vinham as pragas e cortavam tudo. Hoje, a lagarta-rosca ainda continua por aqui, só que fica no meio do mato e não ataca mais as verduras. Acredito que melhorando a terra, os sugadores, os mastigadores, os cortadores, todos desaparecem, talvez por uma mudança de gosto nos alimentos.” Sim, ele estava certo. Porque pensava com a lógica da praga, do ser vivo que se alimentava de suas plantas, o que mostra a beleza e a sutileza da relação que se estabelecera entre ele e as plantas, o manejo e a lógica. “Por isso tudo é que penso o quanto a formação que temos nas escolas é errada, usando fórmulas para calcular as exigências das plantas quanto à chuva, nutrientes, e outras fórmulas para estimar a produção e o lucro, o que acaba não dando certo pois não se leva em conta os fatores da natureza, a ecologia.”Tsuzuki, assim como Primavesi, também testemunhou os estragos da guerra. Esteve em Nagasaki após a queda da bomba, e em nosso encontro, em 2011, estava feliz, mesmo com o terrível tsunami que atingira o Japão. Tinha acabado de vender um apartamento em São Paulo para poder enviar todo o dinheiro a seus compatriotas. “Recebi muito e agora acredito que devo retribuir.”Reforçando a sincronicidade com Primavesi, ele diz: “No Brasil, há necessidade de estudar a agricultura tropical e descobrir seus princípios, não apenas importar tecnologias dos Estados Unidos, Japão, Europa. Já consegui descobrir muitas coisas e tenho ainda muitas dúvidas, mas foi preciso viver mais de quarenta anos, porque até os quarenta anos eu me orientava igual a qualquer agrônomo, coletando solos para análises e fazendo cálculos de adubação usando tabelas.”Toda sua experiência seria de grande valia para o Grupo que se formaria, o Grupo de Agricultura Alternativa, pois a parte prática era a grande questão. Ele explica: “Entendo que no controle de pragas, na prática, o importante é não considerar os insetos e os micro-organismos como inimigos. Originariamente, são seres que vivem em qualquer lugar. Somente sob certas condições excepcionais se multiplicam acima do normal e se transformam em pragas ou doenças. Essas condições são aquelas que exercem estresse exagerado sobre as plantas, como mudanças climáticas intensas ou erros humanos, por exemplo, adubação incorreta e manejo errado da plantação, entre outros. Nessas ocasiões, ocorrem desequilíbrios fisiológicos nas plantas, com falhas de metabolismo que aumentam o teor de aminoácidos livres – alimento preferido dos insetos e micro-organismos – minando a força original de defesa das plantas. É com o enfraquecimento do sistema defensivo que se dá a infestação de doenças e pragas.

Posted by Ana Maria Primavesi on Friday, August 5, 2016

Em 2010, escreveu “Nova Técnica – Defesa Fisiológica Contra Doenças e Pragas”. Ele mesmo mandou imprimir, e distribuiu entre amigos e interessados numa agricultura natural. Nesse livro, expõe suas pesquisas, observações, explicita sua humildade em trechos que assume não saber algo ou que aprendeu com outra pessoa (como a Teoria da Trofobiose, por exemplo).

Como o livro não está a venda, transcrevemos algumas partes para que todos os interessados em agroecologia possam conhecer um pouquinho mais de sua pesquisa e realizações. Mas ainda há alguns exemplares. Seu filho Alfredo Tsuzuki, autor dessa foto maravilhosa que acompanha o post, os doará para quem se interessar. É só mandar um e-mail para [email protected].

…”Refleti, então, sobre minha vida ligada à agricultura desde 1954. Como engenheiro agrônomo da cooperativa, o entusiasmo pelo estudo do solo era tanto que a minha pobre noiva, quando veio do Japão, trazia poucas roupas na sua bagagem, pois o restante era equipamentos de análise de solo para meu trabalho (não existia no Brasil da época, equipamento de precisão).”

“Naquela época, em 1970, as vendas de defensivos cresciam constantemente, mas como engenheiro, o aumento de casos sem solução foi-se-me tornando extremamente preocupante.” “…Nesta época, não havia encontrado ainda nenhuma relação precisa entre a fertilidade do solo e o surgimento de pragas e doenças. Era visível, porém, a existência de uma correlação entre ocorrências de doenças nas culturas justamente em solos mais desgastados, o que não se verificava nas terras com alto teor de matéria orgânica.”

“Na natureza, a não ser por surto e passagem de gafanhotos ou por algum desastre climatológico, não há pragas endêmicas. Mesmo nas plantações, com exceção de doenças específicas, os alastramentos acontecem somente nos casos em que o estresse sobre a planta (motivado por desequilíbrios nutricionais, erro de adubação, corte excessivo de raízes durante a roça, mudança súbita da temperatura ambiente, secagem ou umidade excessiva do solo, etc.) se torna excessivo. Mesmo as doenças e as pragas específicas citadas, se reduzirmos esse estresse, seus efeitos negativos podem ser razoavelmente diminuídos. O fato mais impressionante foi de que o uso excessivo de defensivos também provocava o surgimento de mais doenças e pragas.”

“Um certo ano, surgiu, de repente, uma revoada impressionante de borboletas de repolho. Após sua passagem, as páginas inferiores das folhas de repolho estavam infestadas de muitos ovos. Apesar de já ter alguns anos de experiência em agricultura orgânica, que me permitiam certa confiança de interpretação, senti-me inseguro. Até então, não se verificavam surtos de pragas tanto no repolho como nas outras Brássicas, não havendo inimigo natural. Entretanto, as larvas nascidas destes ovos morreram nas primeiras fases de vida, e os prejuízos foram próximos de zero. Por outro lado, as áreas dos vizinhos cultivadas, mesmo com aplicação maciça de agrotóxicos, eram vítimas de ataques das pragas.” ”…Sempre tive curiosidade pelo fato de haver pouca incidência de pragas na minha lavoura apesar da inexistência de inimigos naturais, mas o episódio narrado indicava que a eliminação de larvas de borboletas não se devia a inimigos naturais, insetos ou microrganismos. Mas ainda não era possível determinar o funcionamento da autodefesa, se isso deveria ser atribuído à capacidade inerente de eliminação de pragas (através da produção de alguma substância tóxica que impede a alimentação das folhas, por ex.) ou da ausência de nutriente para larvas nas folhas.”

“Nas plantações, tanto os adubos orgânicos como inorgânicos, na sua maioria, são assimilados na forma de nitrato de nitrogênio. O nitrato libera oxigênio e liga-se ao hidrogênio para se transformar em estado de redução, e em seguida é sintetizado com glicose produzida por fotossíntese e se transforma em aminoácidos livres. Esses aminoácidos se ressintetizam e se tornam proteínas. Chama-se proteosíntese o processo de sintetização do tipo:

nitrogênio inorgânico – aminoácidos livres – proteína.

Os insetos aproveitam os aminoácidos livres desse processo decompondo-o e transformam-no em sua fonte energética. Os insetos não possuem enzimas que possam decompor as proteínas para transformá-las em energia, e nem os materiais inorgânicos servem para esse fim. Assim pode-se compreender que, apressando o processo de transformação do aminoácido livre em proteína, os insetos perdem o seu alimento e, ou morrem, ou se deslocam para onde o encontrem, desaparecendo da plantação. A melhor forma de combater os insetos é, portanto, reduzir o aminoácido livre na seiva.”

“Nós fazemos compostos bem curtidos. Espalhamos, em superfície dos canteiros, esterco de frango misturado à serragem pouco curtido (3-5 dias) e irrigamos com aspersor antes do plantio. Esta é a forma adequada de tratamento do solo para clima semi-tropical nos cultivos anuais sem descanso de hortaliças, e vem obtendo resultados constantes sem problemas de pragas. O melhor da história, em todo caso, é o ganho da qualidade do solo.”

“Entendo que, no controle de pragas, na prática, o importante é não considerar os insetos e microrganismos como inimigos. Originariamente, são seres que vivem em qualquer lugar. Somente sob certas condições excepcionais se multiplicam acima do normal e se transformam em pragas ou doenças. Estas condições são aquelas que exercem estresse exagerado sobre as plantas, tais como mudanças climáticas intensas ou erros humanos, por exemplo, adubagem incorreta ou manejo errôneo de plantações, entre outros. Nessas ocasiões, ocorrem desequilíbrios fisiológicos nas plantas, com falhas de metabolismo, que aumenta o teor de aminoácido livre – alimento preferido dos insetos e microrganismos – minando a força original de defesa das plantas. É com este enfraquecimento do sistema defensivo que se dá a infestação de doenças e pragas.”

“Em resumo, devem-se considerar os insetos e microrganismos como seres vivos, parte de um sistema ecológico natural, e não inimigos a ser aniquilados. É importante compreender que é sob extremo estresse, por causas naturais como variação crítica do clima ou por causa do homem, nos erros cometidos nos cuidados com a plantação, que há surtos de pragas. E que, nestes casos, é de grande utilidade para a recuperação, a  aplicação foliar de bio estimulante e de micronutrientes.”

“Toda matéria produzida no interior de um ser vivo, proteínas, amidos e outros, é resultado de reações bioquímicas de dezenas de milhares de enzimas. Para a ativação das enzimas são necessários os micronutrientes, alguns como componentes próprios, outros como coenzimas que os ativam. São exemplos do primeiro caso o cobre, ferro, zinco, molibdênio; são, do segundo, o boro, o manganês e o cloro. A ausência desses elementos provoca o surgimento de doenças e pragas, antes mesmo de apresentar sintomas nas folhas.

Conforme F. Chaboussou, os micronutrientes estão intimamente relacionados à síntese de proteínas e, na sua falta, os aminoácidos param de se transformar em proteínas, o que provoca o aparecimento de doenças e pragas.”

“Entre os nutrientes, o nitrogênio e o potássio são de fácil absorção; o fósforo, o cálcio, o magnésio e outros micronutrientes, por necessitarem de energia de absorção bastante elevada e, portanto, num ambiente de pouco oxigênio e água, tendem a faltar, mesmo bem adubado.”

“A ameixa japonesa (ume) é fruta de folhas caducas e exige muita adubação. Tive oportunidade de ver resultados de setenta análises de solo realizadas na província de Wakayama. Em 70% dos casos, o Índice de Saturação de Bases estava acima de 100%, assim aparecendo muitas pragas e doenças e perdendo produtividade e qualidade. Numa comparação grosseira com o ser humano, este estaria tão estufado de alimento que, não só o estômago, mas também a garganta estariam completamente tomados. As raízes enfraquecem com esse distúrbio de concentração, as doenças fisiológicas que indicam enfraquecimento se espalham e, assim, é inevitável o alastramento de doenças e pragas.”

“Comparando as terras recentemente colonizadas, quimicamente mais pobres mas bem aeradas e permeáveis com as áreas enriquecidas com fertilizantes químicos de hoje, constata-se que aquelas são, do ponto de vista da saúde das plantas, muito superiores a estas. Este autor não tem como deixar de admirar a força da terra que a natureza produziu e que os adubos não conseguem imitar.”

“Os microrganismos simbióticos retiram nutrientes minerais do solo e os fornecem à planta, recebendo desta aminoácidos e açúcares produtos de fotossíntese. Os organismos antagônicos realizam a defesa das raízes contra os ataques de numerosos microrganismos patogênicos. Desde que o ambiente do subsolo mantenha boas condições para a atividade intensa desses microrganismos efetivos, os patógenos são reprimidos e não há manifestação de doenças.”

“Embora haja  esta implicação, a de herbicidas provocarem surto de doenças e pragas, ela é dificilmente percebida. Este autor também ignorava a matéria. A percepção desta relação se deu numa plantação de tomates. Após a colheita, realizou-se a aração, e o campo foi tomado por uma gramínea chamada popularmente de “marmelada”. É uma planta muito comum nos terrenos férteis no verão. Ela tem uma aparência muito bonita, bem verde, parecida com as folhas de trigo, muito bem-vinda para cobertura verde e normalmente de grande ocorrência. Ocorreu, então, um surto de manchas de doença de origem patogênica com essa erva. Como era local previsto para plantação de alho para alternar com o tomate, ficamos muito surpresos e fomos verificar com o dono do lote. Este disse que empregara herbicida no tomate. O que aconteceu foi que um microrganismo que jamais havia provocado algum mal à marmelada, se transformou em patogênico sob influência de resíduos de herbicida…”

“Mesmo plantando em época correta, pode haver dias de calor anormal, ou de frio fora de época. Estas condições facilitam o aparecimento de doenças e pragas. Secas ou excesso de chuvas, ou demasiada umidade também são fortes stresses. Nas hortaliças, principalmente, a elevação da temperatura causa falta de água; pouca insolação ou excesso de chuvas provoca doenças fisiológicas por falta de energia para assimilar nutrientes. Microrganismos que até então não se configuravam patogênicos, transformam-se e podem causar doenças, mesmo que por uma só safra.”

“O estresse físico acontece muito por imperícia técnica. O mais frequente é o corte da raiz durante as práticas de cultivo. É muito comum observar um surto de ácaros quando se realiza a capina nos pessegueiros e culturas de algodão, cortando raízes superficiais durante a época  das altas temperaturas de verão. Nas roças de pimentão, berinjela, tomate, pepino, onde a capina provoca murchadeira, passar a cortar a parte superior do capim não agride o sistema radicular e não produz doenças, aumentando, por conseguinte, a colheita.”

“No Brasil existe uma espécie de formiga muito interessante, a saúva. Com o ferrão da cabeça corta as folhas em pedaços maiores que a própria cabeça e as transporta para seu ninho. E se alimentam de fungos cultivados usando estas folhas como meios de cultura. Num relato de um pesquisador amigo, havia num sítio uma dezena de laranjeiras, das quais apenas uma era sistematicamente atacada por esta formiga. Intrigado, foi observá-la. Verificou-se que os camaradas daquele sítio sempre se reuniam sob a sua sombra nas horas de folga. O solo à sua volta estava, então, como era esperado, compactado. De acordo com ele, ali estava com péssima aeração e permeabilidade, impedindo a assimilação de nutrientes e piorando o metabolismo, aumentando o teor de açúcares solúveis e aminoácidos no pé. Como são ótimos alimentos para fungos, também é para as saúvas que se alimentam desses fungos. Acho que elas sabiam disso…”

“Observamos frequentemente a compactação do piso com grandes tratores. A superfície fica arada e suave, mas no subsolo onde as lâminas não atingem formam uma camada bastante dura. Pelo mesmo princípio citado, a fisiologia vegetal sofre uma influência considerável. Imagino existirem outras atividades que podem piorar as condições físicas do solo involuntariamente por alguma ação humana. São ações que, impedindo a assimilação de água e nutrientes, induz o surgimento de doenças e pragas.”

“Chuvas ácidas pela poluição do ar podem causar desordem fisiológica, ou o uso de águas de esgoto industrial como água de irrigação, que provoca malformação das plantas.”

“O fenômeno do envelhecimento, em poucas palavras, é a perda da energia vital, processo comum a todos os seres vivos. Primeiro se manifesta nas folhas; perdem o brilho e pendem sem força; as folhas das pontas dos galhos se tornam pequenas. Dizem, das plantas, que a parte aérea e a subterrânea são espelhos uma da outra. Com esta ideia na cabeça, deve-se observar, e bem, as árvores. Quando as folhas estão sem vigor, as raízes capilares somem, as folhas perdem vitalidade. Em seguida, diminuem as radícelas e se perdem pequenos galhos. Nessa fase, as colheitas e a qualidade dos frutos caem. Em seguida, os troncos perdem a coloração e musgos começam a crescer. Nas laranjeiras aparecem cochonilhas e doenças foliares. Os cafeeiros também são alvo de ataques de vários tipos de insetos e doenças.

A vida útil das laranjeiras é normalmente de vinte e cinco anos. Quanto aos cafeeiros, dependendo das podas e técnicas de conservação, duram de quinze a trinta anos. O enfraquecimento fica visível nas laranjeiras na idade de oito a dez anos, e nos cafés, de seis a sete anos.

Além dos problemas de idade das plantas existe uma doença virótica muito comum nos trópicos chamada leprose. Atacadas por ela, as plantas começam por perder os frutos e as folhas, em seguida, os galhos e em dois ou três anos, mesmo os galhos maiores. “

“Com estas vivências, me convenci de que as plantas têm uma força de auto cura, tal qual o ser humano. Se forem mantidas as seis condições básicas para a vida da planta, isto é, luz, temperatura, ar água, nutrientes e ausência de tóxicos, pode-se manter também seu poder defensivo contra doenças e pragas. Mas ainda é muito difícil chegar ao ponto de acionar o poder de cura para se recuperar das doenças e pragas. Para que isso aconteça, é necessário fortalecer a energia vital. Uma das soluções para atingir isso é o Aminon. Este bioestimulante possui propriedade de acelerar notavelmente a fotossíntese das plantas, elevando o nível de energia vital destas e, consequentemente, aumenta a capacidade de autodefesa, reduzindo aminoácidos livres e açúcares solúveis que são alimentos preferidos de patógenos e pragas. Um bioestimulante é uma substância que causa resposta do ser vivo quando ministrado a este.

“Na opinião do autor, a chave do sucesso ou não, na prática da técnica de agricultura sem defensivos é acreditar (ou não) na ideia de que as plantas têm capacidade natural de autodefesa e auto cura. Ideia controversa, pois o pensamento dominante na agricultura mundial é aquele que sustenta dois postulados, a saber, “não é possível garantir alimentação suficiente para toda a humanidade sem utilizar defensivos agrícolas” e “não é possível cultivar plantas sem defensivos.”  “…O círculo vicioso engendrado por tal pensamento pessimista, que une diretamente as doenças/pragas e agrotóxico, nunca chegará a uma solução definitiva, pois faz surgir novas doenças e pragas geradas por incorporação de resistências criadas contra estes agrotóxicos.