Por Ana Maria Primavesi
Existe a opinião de que nunca houve tanto progresso como hoje. Acredita-se que a população mundial iria morrer de fome se não houvesse a atual tecnologia; que todos iriam morrer de doenças se não houvesse os remédios atuais, as cirurgias, os transplantes… Que sem vacinas iriam criar-se somente muito poucas crianças… Aumentou em muito a vida das pessoas embora as famílias se dissolveram.
Pergunta-se: como as pessoas iriam viver sem luz elétrica, sem automóveis, sem aviões, sem televisão, sem geladeiras, sem cinemas, sem shoppings e todos os outros benefícios de nossa atual civilização?
Não é que o “Bem estar” depende de poder consumir, de comprar tudo o que antigamente nem se ousava sonhar? E se na França os alunos ofereceram à professora, ao final do ano, um ramalhete de flores com um limão ao meio, era uma preciosidade incrível. E quem dá hoje atenção a um limão? O mundo é globalizado. É a “sociedade de consumo” que compra tudo que existe em qualquer lugar do mundo.
Pela mecanização as terras decaíram, se compactaram. Mas existem adubos químicos e irrigação. Há máquinas para plantar e colher. O trabalho pesado não necessita ser feito pelos homens. Mas o que fazem os homens? Vivem nas cidades e prestam serviços aos outros… É a “sociedade de serviços.”
Antigamente, cada dona de casa tinha uma horta para ter flores, verduras e temperos, tinha de alvejar a fazenda, tingir, costurar, bordar. Ela tricotava, fazia crochê e rendas, enfim, fazia tudo em sua casa. Atualmente se compra tudo pronto. E se não tiver dinheiro para comprar? Então se revolta, faz greves e ataca lojas e supermercados. Ninguém vai pensar que alguém vai voltar aos tempos antigos e fazer tudo sozinho.
Claro, nem tudo é um mar de rosas. E mesmo rosas possuem espinhos. Há 60 anos atrás não se conheciam enchentes, nem secas prolongadas, nem tornados. Não existiam viroses que hoje são comuns em homens, animais e plantas. Tinha somente poucos insetos parasitas. Nos últimos tempos, esses parasitas aumentaram assustadoramente. Vieram de onde? Mas há pesticidas e inseticidas e cada ano aparecem novos e mais fortes. Já existem culturas que necessitam diariamente de pesticidas. E há alimentos como batatinhas, tomates ou moranguinhos que recebem tantos venenos que os produtores não os comem. Ficam arrepiados somente quando pensam nisso. Um me disse: “Isto não serve para comer”. Então para que serve? – perguntei. “Para vender”.
Também, sempre aparecem doenças. Dominaram a sífilis e apareceu a Aids. Dominaram as doenças infantis e vieram as depressões. Dominaram a tuberculose e veio o câncer. Mas atualmente têm muitos hospitais, cada ano criam-se mais e mais leitos hospitalares, mais postos de saúde e mais remédios novos.
O homem pode se vangloriar por ser o único ser vivo que produz lixo. É um problema de nossa civilização. Antigamente, havia somente lixo orgânico e este era reciclável. Mas hoje, se recicla lixo orgânico produzindo composto com todos os venenos dentro, e não se sabe onde colocar. Nos produtos comestíveis não pode, porque estes ficam mais contaminados do que quando recebem agrotóxicos. Podia usar no reflorestamento. Mas se a chuva lava os produtos venenosos para o nível subterrâneo da água, poços e rios tornam-se tóxicos. E o que o homem vai beber e com que vai irrigar? E o que não vai para a água vai para o ar, criando o “efeito estufa”, aquecendo o clima, modificando a vegetação que em parte não quer mais crescer e em parte domina tudo.
Será que nossa civilização é tão invejável?
Rimos sobre tudo que não era científico. Adoramos somente a obra de nossas mãos e de nosso espírito. Mas será que somos tão habilidosos e que somos tão inteligentes? Levamos séculos para compreender somente em parte nosso próprio corpo. Existe ainda muita coisa inexplicável… E o resto da natureza? Até hoje consideramos a natureza somente uma pilha de fatores isolados. Mas pouco a pouco aparecem cientistas que primeiro falaram de “cadeias alimentares” para mostrar a inter-relação entre os seres vivos. Hoje já não se acreditam mais em cadeias, mas começa-se a compreender que tudo existe em “teias” onde se alojam os ciclos naturais. Fala-se de ecossistemas. E estes sistemas incluem o material e o espiritual, porque a matéria sem espírito é morta. O espírito que dá a vida. E aí chegamos às teias do mundo espiritual, que há anos atrás ainda alguns índios e africanos dominavam… Hoje se foi tudo. Não porque não existisse mais, mas porque o materialismo sufocou tudo que pertenceu ao mundo espiritual.
Temos mais dinheiro, mas ficamos muito mais pobres.